Cresce disputa no mercado de cerveja sem álcool no Brasil

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Líderes no segmento, Ambev, Heineken e Cervejaria Petrópolis perderam participação


Rodrigo Carro



Impulsionado principalmente pelo rigor da Lei Seca, o mercado de cerveja sem álcool no Brasil cresceu em volume 5% ao ano nos últimos cinco anos, contra uma média de 3% da bebida alcoólica no período, de acordo com dados da consultoria Euromonitor International. Apesar de concentrado — as três líderes somavam 91,8% de market share em 2013 —, o setor vem ganhando novos concorrentes que morderam a participação de Ambev, Heineken e Cervejaria Petrópolis. Em disputa está um mercado que no ano passado movimentou US$ 123,4 milhões, incluindo tanto as cervejas totalmente livres de álcool como aquelas com graduação até 0,5%.

“Em virtude do crescimento dessa categoria e a oportunidade vista por empresas de bebidas em crescer no mercado de cerveja sem álcool, houve a entrada de novos players no mercado, consequentemente é normal que novas marcas ganhem participação sobre as líderes”, diz Meika Nakamura, gerente de Pesquisa na britânica Euromonitor. Líder absoluta de mercado, a Ambev viu sua participação no segmento cair de 71%, em 2011, para 69,9%, em 2013, apesar do lançamento em maio do ano passado da Brahma 0,0%, principal cerveja não-alcoólica da companhia.

“A ideia, com a Brahma 0,0%, é alavancar o setor com foco nas ocasiões de consumo”, explica Ana Claudia Reis, gerente de Marketing do produto. “Hoje temos o entendimento de que a cerveja sem álcool não é apenas para as pessoas com alguma restrição, seja pela ingestão de alguma medicação, gravidez, Lei Seca etc, mas também para os amantes da cerveja que querem tomar uma Brahma gelada a qualquer horário”. Embora em expansão, o consumo de cerveja sem álcool ainda é pequeno no país. Em julho, representava 0,95% do mercado brasileiro de cerveja, contra 0,5% em 2011, segundo dados exibidos numa palestra recente de Carlos Brito, presidente da Anheuser-Busch InBev, no Rio de Janeiro. Em mercados mais maduros esse percentual sobe consideravelmente, lembra Ana Claudia. “Vemos, na Espanha por exemplo, que o segmento das cervejas sem álcool é uma categoria consolidada, em que o consumo de cervejas não alcoólicas representa 18% e possui consumidores fiéis”, destaca a executiva da Ambev. Atualmente, a multinacional tem dois produtos no segmento — além da Brahma 0,0%, a Ambev tem em seu portfólio a Líber, no mercado desde 2004. Não há, no momento, lançamento previsto de versões sem álcool para outras marcas de cerveja da companhia.

Presidente da consultoria Concept, especializada em alimentos e bebidas, Alberto Viviani ressalta que o aumento nas vendas da variante não-alcoólica é uma sequência natural de mercado nos países onde o consumo per capita de cerveja está próximo do teto. Esse não é o caso do Brasil.“No país, ainda não estamos explorando todo o potencial de vendas. Em termos de consumo per capita ficamos atrás do México e da Venezuela, com 64 litros por habitante ao ano”, afirma o consultor. “Nos tornamos um país de classe média há pouco tempo.”

Entre 2011 e 2013, a participação da Heineken — dona da marca Bavária sem álcool — encolheu 0,6 ponto percentual, de 12,3% para 11,7%, conforme indicam dados da Euromonitor. No mesmo período, o market share da Cervejaria Petrópolis (Crystal 0,0% e Itaipava 0,0%) diminuiu de 10,6% para 10,2%. Apesar da retração, a Euromonitor não acredita que o mercado de cervejas sem álcool venha a se pulverizar, com o surgimento de muitos outros players relevantes. “Não acreditamos que haverá pulverização desse mercado já que líderes como a Ambev constantemente investem em propagandas e ações nos pontos-de-venda, além de terem ampla cobertura em estabelecimentos em todo o território nacional, ganhando maior visibilidade em comparação a players menores”, analisa Meika Nakamura.


Veículo: Brasil Econômico


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