A mesma Rússia que deixou os produtores e exportadores brasileiros de carnes esperançosos na quarta (6) está deixando apreensivos os produtores de laranja e exportadores de suco.

O Brasil deverá sofrer indiretamente os efeitos da continuidade das retaliações russas a produtos agrícolas de países que impuseram sanções aos russos devido à crise Rússia-Ucrânia.

O Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia anunciou restrições temporárias à importação de frutas e de legumes da Polônia.

Essa medida restritiva, que está em vigor desde o início do mês, afeta principalmente as exportações de maçã e de pera. A proibição se estenderá a cerejas, nectarinas, ameixas, couve, brócolis e couve-flor, entre outros produtos vegetais, segundo o comunicado russo.

Oficialmente, a proibição ocorre devido às violações sistemáticas da Polônia às exigências fitossanitárias internacionais e russas na produção vegetal, informou o sistema de vigilância fitossanitária da Rússia.

Uma das preocupações do produtores poloneses é com a maçã, cujas exportações para a Rússia atingem próximo de 1,4 milhão de toneladas por ano. Sem um destino para a fruta "in natura", uma das saídas é a industrialização do produto, tornando-o suco. E é aí que entra o problema para os brasileiros, maiores exportadores mundiais de suco de laranja.

Se realmente essa maçã for para a industrialização, o mercado receberá mais 205 mil toneladas de suco de maçã. Essa seria uma péssima notícia para a indústria de suco de laranja brasileira, que tem estoques acima do normal e vê o consumo encolher nos últimos anos.

O suco de maçã, que detém 16% de participação do mercado mundial de sucos, é o principal concorrente do de laranja, que detém 34%.

Antes da crise Ucrânia-Rússia, o suco de maçã vinha sendo comercializado por US$ 1.200 por tonelada, praticamente metade do valor do de laranja exportado pelas empresas brasileiras, que é de US$ 2.100, aponta a Secex.

A expectativa de um volume maior de suco de maçã já fez o preço cair para US$ 700 por tonelada.

O problema do suco brasileiro é que concorre com um produto industrializado na Europa, com menor custo de frete e a ausência de imposto de importação (12,5% no caso do suco de laranja).

Consultada, a CitrusBR (que agrega as indústrias de suco de laranja no Brasil) diz que não tem e não acompanha informações sobre preços praticados para maçã e suco dessa fruta.

"O sabor maçã é, de fato, o preferido em alguns destinos e o principal concorrente do suco de laranja. Porém, acreditamos que o suco de laranja ofereça benefícios extras que pesam tanto quanto o preço na decisão de compra", diz Ibiapaba Neto, diretor-executivo da entidade.

Com exceção da laranja, os exportadores de frutas veem as sanções impostas pela Rússia como uma oportunidade para elevar as vendas àquele mercado, um dos maiores no segmento, segundo Moacyr Fernandes, presidente do Ibraf (Instituto Brasileiro de Frutas).

Segundo ele, frutas como melão, maçã e uva de mesa podem chegar a preços competitivos na Rússia.


Veículo: Folha de S.Paulo