Saques podem aumentar nível de confiança

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Analistas consideram a liberação positiva, mas defendem outras medidas para garantir sustentabilidade



O governo federal divulgou ontem o calendário oficial de saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A União estima que de um total de R$ 43 bilhões hoje existentes nessas contas, grande parte -  R$ 34 bilhões - deverá ser injetada na economia. A medida, anunciada em dezembro passado pelo presidente Michel Temer, no entanto, ainda divide opiniões quanto aos seus efeitos para a tão aguardada recuperação econômica nacional. Para alguns especialistas, o impacto será pontual e limitado. Outros acreditam, no entanto, que ela pode ser a "semente" para a retomada da confiança e, consequentemente, do consumo.

Os saques do benefício vão contemplar trabalhadores demitidos por justa causa ou que pediram demissão até 31 de dezembro de 2015. Segundo o governo, mais de 30 milhões de pessoas se enquadram nessa situação e poderão requerer o valor a partir de março, obedecendo ao cronograma estabelecido.

Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Velloso Leão avalia que a liberação dos recursos tende a ter um grande alcance e contribuirá não só para reduzir o nível de endividamento das famílias e ampliar a capacidade de crédito, como para estimular o consumo. Ele pondera, no entanto, que não se deve esperar inicialmente um ?boom? na economia, já que o número de famílias endividadas ainda é elevado.

"A medida tem efeito ao longo dos próximos meses e isso acaba gerando uma melhoria de consumo na economia. Isso se traduz em redução de endividamento das famílias, que traz a retomada da atividade produtiva na economia e maior segurança da população em relação aos seus empregos", explica Leão. Mesmo cauteloso, o economista da Fiemg não descarta, porém, o potencial por trás do plano do governo.

"Embora seja uma medida com efeito de curto e médio prazos, ela pode ser uma 'semente', tem potencial para ser um fator que vai incentivar a melhora da confiança e a retomada da economia, principalmente quando a gente alia esta média a outras que têm sido tomadas pelo governo, como a redução de juros e inflação. No cômputo geral, essa medida tem uma força relevante", completa.

Tanto Leão como o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, acreditam que a injeção dos recursos parados nas contas inativas do FGTS no mercado pode ter efeito importante ao longo de toda a cadeia produtiva. Com isso, não só os setores de comércio e serviços, como também a indústria e o agronegócio podem vir a ser beneficiados.

?Acredito que vai sim movimentar a economia como um todo. Pode impactar inicialmente mais o comércio, mas em um segundo momento vai atingir a indústria. Uma coisa que posso garantir é que mal não vai fazer, só pode trazer o bem. Agora, o tamanho do bem que é uma incógnita?, avalia Falci, levando em conta que até então o que se tem são apenas projeções do governo.

Endividamento - Gerente executivo de contabilidade e finanças da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Alan Carlo Lopes Valentim também enxerga a possibilidade do maior estímulo aos setores. Ele, no entanto, considera a medida pontual e observa que, se não for sustentada por outras ações do governo, não contribuirá para a tão desejada retomada da economia do País.

"Essa é uma medida positiva, que vai ajudar as pessoas que estão passando por um período de sufoco financeiro. Porém, ela é pontual, não vai dar condições do cidadão, por exemplo, se manter por muito tempo, porque se ele não tiver um emprego, lá na frente vai voltar a ficar devedor, ter crédito restrito. Logo, é preciso outras medidas do governo para realmente consolidar o crescimento da economia", afirma.

Para Valentim, o Brasil hoje precisa de uma recuperação econômica mais consolidada, que seria pautada em investimentos em infraestrutura, emprego e renda. O saque das contas poderá ser feito de 10 de março até 31 de julho.

Gabriela Pedroso

Fonte: Diário do Comércio de Minas


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