A onda do chá gourmet

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Novas versões da bebida, feitas à base de combinações de ingredientes raros, colhidos com cuidados especiais, formam um nicho de mercado que surpreende pela velocidade de crescimento dentro e fora do Brasil

 

Nos últimos anos, certas especialidades de café deixaram de ser encaradas como bebida comum para se transformar em objeto de culto dos connaisseurs. Além de elevar o status do produto, esse processo criou um novo nicho de mercado, com preços e acessórios diferenciados para sua degustação. Algo semelhante começa a ocorrer agora com o chá, que ganhou uma série de variedades gourmets, algumas delas cotadas a mais de 30 reais a xícara. Nessa lista, entram desde infusões feitas com plantas raras, colhidas com cuidados especiais em apenas determinadas épocas do ano, até edições limitadas e exclusivas de marcas estrangeiras. O capricho é tanto que, em muitos casos, as colhedoras precisam manter uma alimentação adequada. Não podem comer alho, por exemplo, para que a transpiração dos dedos não comprometa a pureza das folhas. Em consequência disso, a nova rota do chá passou a percorrer as principais regiões produtoras -- a maior delas na Ásia -- até os balcões de lojas especializadas, cardápios de restaurantes, empórios de luxo e mesas de consumidores exigentes. "O paladar dos apreciadores está se sofisticando e as pessoas hoje sempre aparecem em busca de novidades", afirma Carla Saueressig, uma das maiores conhecedoras do assunto no Brasil e dona de A Loja do Chá, franquia da marca alemã Tee Gschwendner.

 

Um dos fatores que impulsionam a nova moda é a crescente preocupação dos consumidores em substituir bebidas calóricas, como os refrigerantes, por outras mais saudáveis. Essa onda começou a chamar a atenção nos Estados Unidos, onde já existem cerca de 2 600 lojas e as variedades de chá gourmet representam 8,5% dos 2,1 bilhões de dólares de vendas de chá no país. Para atender a essa demanda, existem marcas internacionais, como a francesa Le Palais des Thés, que importa a matéria-prima de países como China e Índia, empacota o produto e o distribui em diversos países. "Não há crise quando falamos de chá gourmet", diz François-Xavier Delmas, fundador e presidente da marca. "Nossas vendas vêm aumentando entre 15% e 25% ao ano." A receita bruta da companhia, segundo ele, cresceu 19% de 2007 a 2008, atingindo o patamar de 14,2 milhões de dólares. Uma de suas concorrentes internacionais é a TWG Tea, de Singapura, que chegou a uma venda anual de 650 toneladas de chá para vários países e garantiu espaço nas prateleiras da rede de mercados gourmet americana Dean & DeLuca.

 

No Brasil, a tendência aparece em várias frentes. Na Casa Santa Luzia, mercado gourmet de São Paulo, as vendas de chás especiais cresceram quase 10% nos últimos dois anos e existem hoje quase 400 variedades disponíveis nas gôndolas. No dia 16 de novembro, a loja deve inaugurar uma ala especial para servir aos clientes um rodízio de chás gourmets. A Aref, do grupo Franco-Suissa, conhecido importador de vinhos, criou a marca Jungle Tea para começar a exportar ervas da Amazônia, como carqueja e estévia, para a venda como bebida exótica em lojas de chá gourmet. As infusões, em embalagens atraentes ilustradas com fotos de Araquém Alcântara, chegam a Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Jordânia e Coreia do Sul. Desde o lançamento, em 2007, até este ano, o volume exportado triplicou -- de 16,8 para 50,4 toneladas.

 

Nas lojas especializadas, multiplicam-se as ofertas de acessórios para a preparação de chás gourmets. Uma das peças mais procuradas são os infusores de aço inox, considerados os instrumentos ideais para misturar o blend à água sem contaminar o produto. Há ainda itens como cronômetros e termômetros, úteis para garantir a temperatura ideal da água (dependendo do caso, a bebida deve ser servida entre 60 e 90 graus). A onda começou a gerar oportunidades até mesmo para empresas fora do circuito de produtores e distribuidores. Recentemente, a companhia aérea TAM encomendou a Carla Saueressig um blend exclusivo para servir em sua primeira classe. "Os chás não se prestam apenas a combinações tradicionais com biscoitos e bolachas, eles podem ser harmonizados com massas, peixes e saladas, entre outras coisas", afirma Carla. Outro exemplo de negócio que pega carona nessa onda é o da agência Latitudes, que programou para março de 2010 um pacote temático para levar interessados à região de Darjeeling, na Índia, produtora de um dos mais apreciados chás pretos. O roteiro terá duração de 15 dias e vai custar aproximadamente 5 000 dólares, sem a parte aérea.

 

Veículo: Revista Exame


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