Queda sobre o mesmo período de 2014 foi de 2,2%, pior desempenho desde 2003; supermercados caíram 1,8% - Produtos mais afetados foram os que dependem de crédito, como móveis e eletrodomésticos, em que tombo foi de 11,3%


Renda em queda, inflação em alta, oferta mais restrita de crédito, desânimo do consumidor. A combinação desfavorável levou o varejo brasileiro a registrar, de janeiro a junho deste ano, seu pior semestre em 12 anos.

As vendas do comércio tiveram queda de 2,2% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado –o pior resultado desde o primeiro semestre de 2003 (-5,7%), informou o IBGE nesta quarta-feira (12).

Naquele ano, o varejo ainda refletia as incertezas dos rumos do primeiro governo do ex-presidente Lula.A crise de confiança elevou a inflação e levou as famílias a cortar no consumo, especialmente de supérfluos.

O número ruim do semestre reforçou a expectativa dos economistas de uma queda do consumo das famílias na participação do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, a ser divulgado pelo IBGE no próximo dia 28.

Nas contas do Itaú, o consumo das famílias –um dos motores da economia nos últimos anos– vai encolher 2% ante ao mesmo período de 2014. Isso vai contribuir para uma queda de 2,2% do PIB na mesma base de comparação.

DINHEIRO NO BOLSO

"Essa fraqueza já era esperada devido à contração da massa salarial real tanto pelo menor nível do emprego quanto queda nos salários reais", afirmou Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibanco."Ademais, devido à baixa confiança dos consumidores, as pessoas tendem a postergar as compras", afirmou.

De maio para junho, as vendas do varejo tiveram queda de 0,4%. Foi a quinta baixa consecutiva, a mais longa sequência na pesquisa, iniciada em 2000. Diante do mesmo mês de 2014, as perdas foram de 2,7%.

NEM A COPA FOI PIOR

Nem mesmo o Dia dos Namorados ou a comparação com o mês em que foi realizada a Copa do Mundo de 2014 –que teve feriados informais– impediram a queda.Os setores que mais dependem do crédito foram os mais afetados.

O segmento de móveis e eletrodomésticos teve queda de 11,3% no semestre – também o pior número desde 2003 (-10,3%).Já o segmento de supermercados, hipermercados, alimentos, bebidas e fumo, que responde por 40% das vendas do varejo, recuou 1,8% no semestre, sentindo o efeito da menor renda da população.

Para a Rosenberg & Associados, o cenário vai continuar sombrio para o setor nos próximos meses. A consultoria alterou sua projeção para a queda das vendas do varejo neste ano de 2,2% para 3%.
"O crédito escasso e o mercado de trabalho cada vez mais encolhido, bem como a inflação elevada, continuarão contribuindo para o desempenho sofrível do comércio", afirmou a consultoria.



Veículo: Jornal Folha de S.Paulo