Juros mais baixos não são milagre econômico

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Surpresa boa tem de ser sempre comemorada, mas há de se ter cuidado com a dose da euforia para a realidade não escapar. A inflação começou a derreter diante da recessão e, principalmente, da explosão do desemprego. A atividade econômica começa a dar sinais evidentes de que o pior está ficando para trás. O mercado dos investidores, que sempre antecipa os ciclos, desenha um cenário mais positivo para o Brasil e isto se reflete nos preços de tudo que nos representa no mundo financeiro, caso do dólar e da medida de risco do país que melhoraram muito desde janeiro.

É para este quadro que o Banco Central está olhando para tomar a segunda decisão sobre os juros de 2017. E sem poder negar o avanço dos indicadores, especialmente da inflação, o Copom deve promover mais um corte de 0,75 pontos na taxa básica da economia e cortar os juros dos 13% para 12,25%. Esta pedra está cantada em verso e prosa pelo próprio BC e mais importante do que o número que sair na quarta-feira, ao final do encontro, será a sinalização do que está por vir.

E novos cortes virão, certamente, até que a taxa Selic chegue a um dígito ao final de 2017. Não podia ser diferente já que as expectativas para inflação já estão abaixo da meta de 4,5%, como mostra a pesquisa feita pelo BC. Como me disse o economista de um grande banco brasileiro, isto abre uma “avenida larga e comprida” para os juros continuarem caindo. Então, que ótimo. Vamos nos livrar do período de juros altíssimos e inflação insistentemente alta, finalmente! Sim, mas isto não vai salvar o Brasil dos efeitos da brutal recessão que vivemos.

Podemos olhar apenas para o desemprego – apenas é um eufemismo ofensivo diante do drama que vivem mais de 22 milhões de brasileiros (os sem trabalho, os subempregados e os desalentados). Este mesmo economista que conversou com o blog lembrou que, no governo Lula, quando o PIB cresceu em média 4,2%. Em dezembro de 2002 a taxa de desemprego era de 10,5% e chegou a 5,3% oito anos depois. Ela caiu 0,65% ao ano no período. 

Na gestão Dilma, o Brasil teve o pior desempenho da história com crescimento médio do PIB de 0,9%. A conta do desemprego mudou no meio do primeiro mandato quando o IBGE começou a Pnad Contínua.  Em março de 2012 ela estava em 7,90% teve sua mínima em 6,2% em dezembro de 2013 e fechou dezembro de 2016 em 12%. Imagine agora, depois de dois anos de recessão profunda, com as demissões ainda em curso e uma expectativa de recuperação, mas com baixo crescimento do PIB, quanto tempo vai levar para o Brasil recuperar os empregos perdidos?

O otimismo é amigo e ninguém pode lhe recusar um cafezinho. Olhar para a queda da inflação e a consequente redução dos juros alivia o aperto que vivemos durante anos e pode espalhar efeitos positivos pela economia. Mas que ninguém espere milagres, eles não vão, nem deveriam aparecer. A crise nos deu a oportunidade de mexer nas profundezas das nossas fragilidades e tomar decisões importantes, como a limitação dos gastos públicos e a reforma da previdência.

Legar a recuperação da economia à derrubada mais intensa dos juros é não só injusto como incorreto. Se o país der um jeito de escapar das lições de casa atrasadas, não demora muito para todo este texto ser reescrito na direção inversa. Eu não gostaria de fazê-lo.

Thaís Herédia

Fonte: Portal de Notícias G1


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