Economistas descartam guinadas ortodoxas

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O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) deve trazer mudanças na condução da política macroeconômica, segundo economistas ouvidos pelo Valor, mas sem uma guinada rumo a medidas muito ortodoxas. Para especialistas, o mais urgente é definir uma nova equipe econômica para, a partir daí, sinalizar os ajustes a serem feitos e como os novos objetivos serão alcançados. Entre estes ajustes, os mais importantes para recuperar a confiança e criar condições para um crescimento maior seriam a recuperação do superávit primário e a recomposição das tarifas administradas.

Já a respeito da política monetária e cambial, o consenso não é tão forte. Alguns economistas argumentam que o Banco Central deve subir os juros para sinalizar uma mudança em relação ao comprometimento com a meta inflacionária, enquanto outro grupo avalia que a taxa Selic no patamar atual, em 11%, já fez seu trabalho. Também há divergência sobre a continuidade ou não da intervenção do governo na trajetória do câmbio.

Em relatório divulgado ontem logo após a divulgação do resultado das eleições, o chefe de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirma que os principais desafios de Dilma serão reequilibrar a economia e reanimar o "espírito animal" do setor privado. Em sua opinião, o mix de política econômica continuará heterodoxo, com pequenos e graduais ajustes para corrigir desequilíbrios.

Trocados alguns nomes da equipe econômica, diz Ramos, a expectativa é que seja feito um ajuste fiscal suave, mais por meio do aumento de impostos do que por cortes de gastos. O economista diz que empréstimos dos bancos públicos devem ser moderados e que tarifas como gasolina, ônibus urbano e eletricidade devem ser recompostas de forma gradual.

Do lado do câmbio, o analista do Goldman Sachs espera uma mudança mais significativa: tendo em vista perda de competitividade dos setores comercializáveis e o aumento do déficit em transações correntes, o governo deve aliviar as intervenções e permitir um real mais depreciado. O dólar mais caro e o reajuste de preços administrados exigiriam uma alta adicional entre 1 e 1,5 ponto percentual dos juros, acrescenta Ramos, o que ajudaria o Banco Central a controlar as expectativas inflacionárias.

O professor Antonio Corrêa de Lacerda, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que um ajuste da taxa de câmbio rumo a um patamar mais desvalorizado já está em curso e é necessário, mas acredita que o governo pode continuar intervindo no mercado de dólar para suavizar volatilidades e diminuir incertezas. Lacerda também discorda da necessidade de aumento adicional de juros. "Já temos taxas de juros muito elevadas, seria inócuo tentar reduzir a inflação com aumento."

Para o economista da PUC-SP, o mais importante é que o governo resgate a confiança na economia e, para isso, Dilma vai precisar de nomes em sua equipe que corroborem a intenção de um maior diálogo, reforçada em seu discurso de vitória. "O resgate da confiança é algo fundamental para despertar o espírito animal e retomar a atividade", disse.

Ex-secretário de política econômica da Fazenda, o economista Júlio Gomes de Almeida argumenta que a nova equipe deve concentrar suas atenções na política fiscal. Segundo Almeida, não é possível elevar o superávit primário de um ano para o outro de forma substancial, mas é preciso que o governo sinalize quais serão os ajustes a serem feitos nessa seara e se comprometa com o fim da chamada "contabilidade criativa".

Medidas possíveis para controlar melhor os gastos públicos, na visão de Almeida, são o aumento dos juros do Programa de Sustentação dos Investimento (PSI), do BNDES, e a mudança da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). O economista pondera, no entanto, que é preciso agir com muita "calma e cautela" nesse assunto, já que os investimentos estão em patamar muito deprimido. Desonerações e incentivos também podem ser revistos, acrescentou, como o seguro-desemprego e a desoneração da folha de pagamentos para serviços.



Veículo: Valor Econômico


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