Consumidor já troca ração de animais por itens mais baratos

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O movimento de migração que começou em 2015 pode se intensificar este ano com o aumento da procura por produtos de menor valor, observa o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), José Edson Galvão de França. Embora não tenha os dados consolidados sobre o desempenho do setor no ano passado, o dirigente adianta que o faturamento das indústrias ficou praticamente estável em 2015.

"O volume de vendas pode apresentar algum crescimento, mas em função da maior demanda por produtos com preço médio menor", destaca França. Ele espera que o setor repita em 2016 o comportamento registrado no último ano, com demanda ainda pressionada pela piora das condições econômicas no mercado local.

Os brasileiros que compravam rações premium estão migrando cada vez mais para produtos intermediários e, na sequência, para itens com preço de entrada, diz ele. "O mercado não vai encolher em volume porque as pessoas não deixam de comprar ração. Mas o faturamento, descontada a inflação, pode empatar ou até apresentar queda ante 2015", afirma ele.

A demanda na Mars, dona de marcas como Pedigree, Champ, Whiskas e Kitekat, sofreu diferentes movimentos de migração em 2015. Além da demanda por rações mais baratas, a companhia registrou uma alta na procura por embalagens menores como alternativa para reduzir o custo por compra.

"Em alguns casos há busca por pacotes maiores, com a diminuição da frequência de compra, mas em geral vemos diferentes comportamentos. No caso da migração de marca, temos a Champ [para cachorros] e a Kitekat [para gatos] que oferecem um menor desembolso", explica o presidente da Mars petcare, José Carlos Rapacci.

IPI


A mudança nas regras de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de rações também pode influenciar as vendas este ano. A partir de maio, a ração para cães e gatos será tributada em 10% independentemente de ser venda a retalho (embalagens abaixo de 10 quilos) ou não. Até então, havia dúvida sobre a incidência de alíquota de 0% a 10% sobre os produtos.

"Já temos uma carga tributária elevada, pois os produtos para pet, inclusive os alimentos, são considerados supérfluos. Temos uma grande preocupação com relação à maneira que essa elevação vai impactar a demanda pelos produtos", revela o diretor-geral da Total Alimentos, Luiz Claudio Azevedo.

A pressão do aumento dos custos na fabricante das rações Max e Equilíbrio ficou mais intensa a partir do segundo semestre de 2015. A alta nas despesas com matéria-prima, energia elétrica e combustível levou a Total a reajustar preços. O repasse em um ambiente de demanda mais retraída acabou impactando as vendas. A empresa não divulga dados sobre as vendas e faturamento.

"Por não se tratar de um ano otimista, temos de trabalhar ainda mais nas oportunidades, otimizações e eficiência. Já começamos a atualizar algumas linhas de produtos e temos novidades programadas, que até o final do ano poderemos apresentar para o mercado", detalha o executivo da Total.

A expectativa da Mars para manter as vendas em 2016 é avançar sobre as concorrentes "Esperamos um ano parecido com 2015, quando a categoria desacelerou, mas ampliamos a participação no segmento. Em 2016, esperamos avançar também com a introdução de novas marcas e produtos no mercado brasileiro, mas o aumento dos impostos pode impactar o desempenho da categoria", acredita José Carlos Rapacci.

Tendência

O presidente da Mars petcare aposta no segmento de rações e produtos super premium para ampliar os ganhos da companhia no médio prazo, apesar da atual conjuntura macroeconômica mais difícil. Para Rapacci, o retorno da marca Eukanuba, comprada da Procter & Gamble (P&G) em 2014, pode ajudar na expansão das categorias de maior valor agregado.

"O mercado de pet food continua em desenvolvimento no País, apesar do contexto econômico desafiador. Vemos espaço para as rações super premium e também a chance de ampliar as vendas atendendo a demanda por produtos para animais de estimação que hoje não são alimentados com ração. Temos um plano bem agressivo de crescimento para o Brasil", afirma o executivo da Mars.

A empresa paulista Cozinha 4 Patas também vislumbra um aumento dos gastos dos brasileiros com pets nos próximos anos. Inaugurada em junho do ano passado, a fabricante comercializa alimentos como carnes e legumes para cães.

"A demanda tem crescido bastante, em média 30% por mês. Quando um cliente experimenta, normalmente indica para outras pessoas", afirma a diretora geral da Cozinha 4 Patas, Fernanda Lima.

A empresa produz em média 600 quilos de alimentos por mês, com distribuição nas cidades de Cotia, ABC Paulista e São Paulo. Até o final de 2016, a empresária espera ampliar em mais 60% a produção mensal.

"Queremos aumentar a linha de produção para que o acesso a petiscos naturais se torne cada vez mais fácil aos tutores. Mas nosso objetivo é ter uma maior capacidade de produção mantendo os ingredientes que usamos atualmente", explica ela.

Dados da Euromonitor International mostram que o mercado de alimentos para pets continuará em alta no Brasil nos próximos anos, mas deve apresentar menor ritmo de expansão quando comparado aos últimos cinco anos.

No período de 2010 a 2015, as vendas saltaram 62,5% para US$ 4,5 bilhões, enquanto no mundo o avanço foi de 30,8% para US$ 77,6 bilhões. Parte dos números de 2015 foi estimada e deve ser revista na próxima atualização da consultoria. Para o período de 2015 a 2020, a estimativa é de crescimento acumulado de 21,4% no País, chegando a US$ 5,5 bilhões. O mercado global deve registrar alta de 13,0% na mesma comparação para US$ 87,7 bilhões.

 



Veículo: Jornal DCI


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