Varejistas avaliam solução para gerir estoque

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Um método de gestão bem conhecido no mercado financeiro de Wall Street, e que acabou conquistando muitos varejistas norte-americanos durante a crise que abalou o país em 2008, começa agora a desembarcar no Brasil.

Baseado em ferramentas tecnológicas que analisam dados e criam uma equação de equilíbrio entre estoques, investimentos e receita, o sistema já está sendo analisado pelas empresas brasileiras, que enxergam na técnica alento durante a recessão.

A solução visa garantir o lucro das lojas através das vendas perdidas e dos custos totais que a empresa possui. A técnica foi desenvolvida pelos autores do livro "The New Science of Retailing" (A nova ciência do varejo), cujos autores são o doutor Marshall Fisher, da Wharton School, e o doutor Ananth Raman, da Harvard Business School. "A técnica é baseada em modelos de análise de investimentos utilizada em Wall Street e se tornou aplicável ao varejo nos EUA na crise de 2008, quando as pessoas reduziram o consumo. Nós o chamamos de Profit Optimizing Retail", afirma o CEO da consultoria norte-americana 4R Systems, Kevin Stadler.

A empresa desenvolveu um algoritmo que, aplicado às informações da varejista, proporcionam uma análise estatística que facilita e agiliza a tomada de decisões, seja sobre estoques ou investimentos.

De acordo com Stadler, o software da 4R - baseado em nuvem - faz análises para cada nível de investimento de estoques (on-line, lojas, centros de distribuição) e, a partir disso, encontra o ponto onde esse aporte se torna o mais "eficiente" possível, avaliando também a combinação entre o produto e a localização da loja.

O resultado, diz Stadler, é a minimização das vendas perdidas, o que também acarreta em um custo menor de investimentos em estoques. "Analisamos o estoque e fazemos a modelagem para prever as vendas no futuro. Isso é feito para cada item e local de venda. A estratégia pode ser utilizada, inclusive, no comércio eletrônico", conta.

Na prática

O executivo cita o exemplo da varejista The Vitamin Shoppe, que comercializa suplementos nutricionais e possui mais de 700 lojas entre Estados Unidos, Canadá e Porto Rico. "Em 2008, o pouco crescimento das lojas da marca e as condições da crise levaram ao aumento nos níveis de estoques. Eles precisavam investir em novas unidades sem aumentar o nível de estoque geral e garantir a manutenção do nível de vendas", explica.

Com o sistema implementado, a rede atravessou a crise e abriu 83 novas lojas, entre 2008 e 2010, além de ter aumentado as receitas em quase 100% e elevado a margem de lucro em mais de dois pontos percentuais no mesmo período. "Nesse caso, identificamos exatamente o que poderia ser melhorado, que era a redução do investimento em estoques. Eles passaram a ter os produtos certos nas lojas certas", completa.

A The Vitamin Shoppe cresceu tanto que, em meio à crise norte-americana, a companhia decidiu abrir o capital. O método também foi utilizado em outras empresas locais como a de lojas de conveniência Family Dollar e a especializada em comida Sur La Table. Elas saíram da crise econômica nos Estados Unidos com resultados financeiros maiores do que no período anterior à instabilidade. Segundo a 4R, o método não requer investimento inicial em plataforma tecnológica, nem recursos humanos adicionais.

Contraponto

Apesar de parecer a solução para o comércio brasileiro, a especialista em varejo e CEO da Gouvêa de Souza &AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, acredita que o modelo de gestão da 4R pode não funcionar no País, por conta das características particulares do mercado local. "A maioria das lojas no Brasil é pequena ou média e não possui condições de investir em uma solução como essa", opina.

Para ela, o método é mais bem utilizado por varejistas grandes, que lidam com volumes consideráveis de estoques e têm poder aquisitivo para implementar algo tão robusto. Ainda de acordo com a especialista, o mercado norte-americano é caracterizado por um tipo diferente de autonomia do negócio. Lá as ideias são menos centralizadas. Aqui os empresários são mais resilientes.

"Grandes redes no Brasil utilizam modelos semelhantes, como a Renner e a Riachuelo. São players poderosos, que têm condições de investir. Entretanto, para as menores às vezes é melhor ter um controle menor sobre o negócio do que investir em estratégias caras como as que envolvem soluções tecnológicas", diz.

O método da 4R foi apresentado ontem pela Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo. "A intenção é proporcionar a oportunidade de conhecer uma metodologia inovadora", comenta o coordenador de tecnologia da entidade, Igor Paparoto.

 



Veículo: Jornal DCI


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