Confecções nacionais apostam em inovação para sobreviver

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Desafio. Depois da indústria de tecidos, agora são os fabricantes de roupas que enfrentam a concorrência com produtos importados, numa crescente participação dos produtos nas lojas

 

 



Depois da indústria de tecidos, agora são as confecções brasileiras que começam a enfrentar a pesada concorrência com os importados. Nas maiores lojas do País, a presença de roupas que vieram prontas cresce a olhos vistos. Nessa briga, o investimento em inovação e ganho de eficiência se tornam cruciais para ganhar competitividade.

O volume de importados deve registrar alta de 1,5% só neste ano, enquanto as exportações devem cair 9,4%. Já o volume produzido em 2014 tem retração de 2,9% prevista em relação ao volume produzido em 2013, conforme dados do compilados pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi). No final de 2013, a balança comercial do setor têxtil estava negativa em US$ 4,5 bilhões, valor 183% acima do registrado em 2009.

"Essa tendência [de avanço dos importados] não deve ser revertida enquanto a indústria nacional não ganhar eficiência e produzir itens com diferencial", afirma o sócio diretor do Iemi, Marcelo Prado.

Para ele, é ilusório acreditar que o preço maior é o que impede produto nacional de ser mais competitivo nas redes de fast fashion, o problema está na inovação de produtos e o tempo que as fabricantes levam para entregar as novidades.

Reformulação

Mudar o modelo de negócio, foi o caminho encontrado pela fabricante para sobreviver Fakini, que apostou na receita de eficiência e inovação, reestruturando sua produção com itens de maior valor agregado.

A empresa, que tinha como principal foco a exportação de malhas, quase foi a falência com a mudança do patamar da taxa de câmbio em 2002. "Com o real valorizado na época, perdemos muita competitividade", lembra Francis Fachini, diretor comercial da empresa.

Para evitar a falência, a Fakini mudou em um ano o modelo de comercialização e voltou a atender o mercado interno, principalmente as lojas de departamento que vendem roupas de fast fashion, caracterizadas pelo preço baixo.

Segundo Fachini, como a política de preços praticada por essas lojas é muito agressiva, a pressão sobre a margem de lucro e o avanço cada vez maior da concorrência dos importados tornou o modelo de negócio inviável. "Percebemos que era preciso mudar novamente para sobreviver", conta o executivo.

A direção da empresa decidiu, então, investir para ganhar eficiência. Após reduzir 20% do quadro de funcionários e terceirizar parte da produção, hoje já reincorporou novamente parte dos processos. "A costura, uma das principais áreas terceirizadas, já é 50% interna", destaca Francis Fachini.

Além do investimento para reestruturar a produção, a confecção catarinense passou a identificar nichos para desenvolver a sua marca própria a partir de 2010.

O investimento em marcas próprias, com desenvolvimento de uma identidade, o trabalho com produtos licenciados e a consolidação da relação com as redes de varejo multimarcas fizeram a empresa recuperar os ganhos. A partir de 2012 voltou a registrar lucro.

"Nós agregamos valor ao produto e quando adequamos o preço ao custo nos recuperamos", explica ele. Até setembro deste ano a Fakini faturou R$ 70 milhões, uma alta de cerca de 20% em relação a 2013.

Movimento

A receita de recuperação da Fakini vem sendo seguida por vários fabricantes catarinenses envolvidos no projeto Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC). Criado em 2005 por um grupo de empresários da região do Vale do Itajaí, o programa surgiu da necessidade de agregar valor ao produtos criando uma identidade própria ao produto fabricado no País.

Atualmente, o principal objetivo de SCMC é antecipar tendências e gerar valor aos participantes por meio da inovação, segundo o presidente do SCMC, Claudio Grando. Para ele, o caminho é fazer da moda brasileira um mercado independente, que não segue tendências externas, dominadas pelas concorrentes.

Assim como a Fakini, outra confecção que integra o projeto e é tida como um modelo de inovação no setor é a Cia. Hering. A empresa encontrou na diversificação de seus negócios, com produtos e investimento no varejo, a solução para ganhar espaço em um mercado cada vez mais competitivo. Até setembro deste ano, a Cia. Hering faturou R$ 1,4 bilhão, um recuo de 0,8% ante igual período de 2013. "Hoje nós precisamos de mais criatividade que em momentos anteriores, com um ano desafiador a frente", afirma a executiva de comunicação institucional da Cia. Hering, Amélia Malheiros.

De acordo com a executiva, a busca por inovação é uma constante na estrutura produtiva da companhia, com foco principal nos processos, como reutilização da água usada na linha de produção, investimentos em equipamentos mais eficientes e corantes com maior durabilidade e menos nocivos ao meio ambiente, sem esquecer que o foco principal é o que a novidade tem a agregar ao produto.

"Essa inovação também chega nas prateleiras com um número maior de coleções", conta. A cada dois meses o grupo lança, pela marca Hering, uma nova coleção. Após a criação do SCMC, destaca Malheiros, a empresa passou a olhar menos para o exterior e investir nas novidades desenvolvidas no País.

Na avaliação de Malheiros, o mercado brasileiro já exerce muita criatividade, mas a inovação é diferente disso. "É preciso entender que a inovar não é só lançar um produto novo, esse conceito precisa ser absorvido por todas as etapas da fabricação e venda", defende.

Pequenas e médias

Se nas grandes empresas a necessidade de investir na diferenciação dos produtos está mais difundido, nas pequenas e médias ainda é preciso avançar. "O caminho para a pequena e média é se especializar em nichos específicos", conta Marcelo Prado, do IEMI.

Projetos como o SCMC, na opinião do economista, podem ser uma alternativa para que as empresas sem recursos para investir, tenham acesso a informações e modelos de negócio.

A troca de informações entre as empresas também é defendida pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone. "Os empresários já entenderam que é preciso investir em inovação, mas ainda precisamos melhorar a comunicação", explica ele.



Veículo: DCI


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