Ele mudou a Reckitt e conquistou investidores

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Por Matthew Boyle | Bloomberg



Substituir um executivo muito aclamado não é fácil. Mas ninguém preveniu Rakesh Kapoor sobre isso. Desde sua nomeação surpresa como CEO da Reckitt Benckiser, três anos atrás, Kapoor conquistou a confiança de muitos que duvidavam que ele poderia igualar o sucesso de Bart Becht, o holandês que presidiu uma multiplicação por seis, em 12 anos, do valor de mercado do grupo, fabricante dos produtos de limpeza Lysol, dos analgésicos Nurofen e da mostarda French's.

Depois de expandir as vendas da área de medicamentos isentos de prescrição com novos produtos e aquisições - e de agora preparar o desmembramento de sua divisão de remédios controlados, vendidos com apresentação de receita médica --, Kapoor, de 56 anos, fez com que as preocupações que promoveram a queda de 7,5% das ações da empresa no dia em que sua indicação foi anunciada fossem abandonadas.

Embora ele ainda enfrente desafios com a divisão de produtos de limpeza e com a desaceleração do crescimento em alguns mercados emergentes, os papéis do grupo subiram 59% desde que ele assumiu o comando, em setembro de 2011. A alta corresponde a mais que o dobro do avanço do índice referencial britânico FTSE 100.

"Ele era uma incógnita e estava substituindo uma pessoa muito bem-cotada", disse Martin Deboo, analista da Jefferies International de Londres.

Em seu primeiro ano como CEO, Kapoor, nascido na Índia, fundiu as subsidiárias da Europa e América do Norte em uma só, afastou o diretor financeiro e deslocou mais recursos de desenvolvimento de marca para mercados emergentes como Brasil e Rússia.

Kapoor delineou uma estratégia de expandir as vendas de produtos para cuidar da saúde, como os descongestionantes Mucinex e os preservativos Durex. Embora esse setor tenha respondido por mais de 25% das vendas de 2011 - percentual aproximadamente equivalente ao da divisão que inclui produtos para lavar roupas -, a área de medicamentos isentos de prescrição tem melhores perspectivas. O setor, que movimenta US$ 200 bilhões, está em rápida expansão devido à expansão da automedicação por parte de uma população em processo de envelhecimento e ao processo de liberação de alguns remédios antes só vendidos com apresentação de receita médica.

"Ele abraçou rapidamente toda a mudança de produtos da área de medicamentos isentos de prescrição", disse James Edwardes Jones, analista da RBC. "Rakesh articulou isso como prioridade estratégica número 1, uma noção que nunca percebi em Bart."

O Mucinex, por exemplo, era apenas um descongestionante nasal quando a Reckitt o adquiriu, em 2008. Kapoor lançou versões noturnas e variantes para combater sintomas maiores de resfriado, gripe e alergias. Ele é atualmente a marca mais vendida do segmento de medicamentos isentos de prescrição nos Estados Unidos, em relação ao sétimo lugar ocupado dez anos atrás.

"O Mucinex migrou de uma marca restrita para uma marca dominante", disse Kapoor, em entrevista concedida em junho.

Kapoor também ingressou em novas categorias, vencendo a proposta de compra da Bayer e adquirindo a fabricante de vitaminas e suplementos Schiff Nutrition por US$ 1,4 bilhão em 2012, e no ano passado ampliou o portfólio de remédios na China e na América Latina. Alguns meses atrás, conquistou os direitos mundiais da marca K-Y de lubrificantes sexuais, e pode fazer venda combinada com a Durex - marca que inclui acessórios eróticos e cuja taxa de crescimento dobrou nos últimos três anos.

Algumas dificuldades permanecem. Analistas do Exane BNP Paribas dizem que Kapoor pagou múltiplos "extremamente salgados" por aquisições como a Schiff, e os suplementos vitamínicos passaram a ser alvo de rígido monitoramento nos Estados Unidos.

A desaceleração do crescimento na Índia e no Brasil, ao lado do enfraquecimento das vendas dos aromatizadores Air Wick também representam obstáculos.

Mas a investida na área de saúde impulsionou as vendas em toda a América do Norte e Europa, que cresceram 3% no ano passado, enquanto fabricantes do mesmo ramo como a Unilever e a P&G enfrentaram dificuldades nessas regiões. "Rakesh entende plenamente que não basta crescer só nos mercados emergentes", disse Chris Wickham, analista da Oriel Securities. "Essas marcas da área de saúde são joias."

A busca de Kapoor por mais dessas joias foi frustrada no segundo trimestre deste ano, quando a Bayer se mostrou disposta a pagar mais pela divisão de medicamentos isentos de prescrição da Merck. Outro possível alvo desapareceu quando a Novartis incorporou sua divisão de medicamentos isentos de prescrição a uma joint-venture com a GlaxoSmithKline.

Kapoor ainda está à procura de negócios, e poderá vender a mostarda French's para financiá-los, segundo a gestora de investimentos Sanford C. Bernstein. O desmembramento da área de medicamentos que exigem receita médica vai liberar o executivo, permitindo que ele se concentre em mercados não explorados como a Nigéria e a África do Sul, que, segundo ele, oferecem "ampla oportunidade" para os sabonetes Dettol e os desinfetantes da empresa.

Quanto a Becht, Kapoor ainda o encontra para jantar em Londres algumas vezes por ano. Becht, que preferiu não fazer comentários, tem interesse próprio no sucesso de Kapoor: ele é codiretor da empresa de investimentos Joh. A Benckiser, que é a maior acionista da Reckitt Benckiser, com 10,5% de seu capital.



Veículo: Valor Econômico


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