Colheita e TEC derrubam os preços do trigo no Sul do País

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Nayara Figueiredo



O avanço na colheita do Paraná e do Rio Grande do Sul - maiores produtores de trigo, respectivamente - e a isenção na tarifa de importação, que terminou na última sexta-feira (15), levaram os preços do cereal a patamares abaixo do mínimo, que só tendem a se recuperar mediante intervenções do governo, segundo representantes do setor.

Desde junho, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) havia reduzido a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% sobre a importação de trigo para zero. A medida valeria para a compra de até um milhão de toneladas do produto.

Além disso, a ampla oferta internacional pressionou ainda mais o produtor do Brasil.

"O trigo está abundante no mercado mundial. Os preços lá fora estão baratos. O cereal norte-americano também está caindo e se não houver nenhum movimento no câmbio, que favoreça a exportação brasileira, vai ser difícil os produtores se manterem sem a ajuda do governo", explica o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.

O executivo conta que, no período de isenção da TEC, foram importados entre 700 e 800 mil toneladas do produto.

Com isso, os triticultores do Rio Grande do Sul foram os mais prejudicados, pois ainda têm cerca de 500 mil toneladas de trigo em estoque, da última safra, e estão diante de uma estimativa de recorde na produção nacional.

"O quadro está extremamente preocupante. O preço mínimo está em R$ 33,45 e já comercializamos entre R$ 27 e R$ 28 a saca de 60 quilos", enfatiza o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim.

No Paraná, o coordenador do Departamento de Economia Rural (Deral) da secretaria estadual da Agricultura, Francisco Simioni, diz que o preço está exatamente em cima do valor mínimo e a tendência é de queda, considerando que já foram feitas cerca de 3% da colheita.

Para o presidente da federação gaúcha, parte da safra da região Sul será adquirida pelos moinhos, mas ainda vai restar a produção remanescente do último ano. "Fizemos uma reunião com a Câmara Setorial, agora estamos aguardando o volume e a quantidade de recursos para os mecanismos de compra [do governo]", diz Jardim.

A intervenção pode acontecer através do programa de Aquisição do Governo Federal (AGF), com a venda do produto para armazéns credenciados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e de leilões do Prêmio Equalizador de Preço Pago ao Produtor (Pepro).

Segundo a Conab, a produção nacional de trigo deve ficar em 7,5 milhões de toneladas, sendo 3,9 milhões do Paraná e três milhões do Rio Grande do Sul.

De acordo com o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Sistema Ocepar) e presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno, Flávio Turra, do total produzido pela Região Sul nesta safra, cerca de três milhões de toneladas ficarão excedentes.

"Está havendo um movimento no Mapa para levantar os recursos necessários para o escoamento. A maior parte deve ser direcionada ao Pepro e o restante, ao AGF", completa Turra.

Apesar de a oferta global estar alta, uma alternativa é a exportação. Lawrence Pih explica que o trigo brasileiro, principalmente o gaúcho, tem um conteúdo de proteína bom para países da África e Oriente Médio.

"O importante agora é tirar esse trigo daqui, caso contrário ele vai depreciar todos os preços", completa Pih.




Veículo: DCI


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