Indústrias abrem franquias próprias para elevar lucros

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Objetivo é fugir da negociação com supermercados e lojas multimarcas e vender diretamente ao consumidor


FILIPE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Indústrias acostumadas a vender para supermercados e lojas multimarcas estão apostando no sistema de franquias para oferecer seus produtos diretamente ao consumidor. O objetivo é melhorar os resultados financeiros em um momento de fraca atividade no setor e tornar as marcas mais conhecidas.

"Hoje, os grandes varejistas têm muito poder de barganha quando compram da indústria, o que deixa as margens de lucro apertadas. Ir diretamente ao varejo ajuda a ter mais controle dos preços", diz José Carlos Fugice, sócio da consultoria GoAkira.

É o que fez a fabricante de calçados J.Gean, de Franca (SP), que espera ter, até o fim do ano, lojas em Jaú (SP), Uberlândia (MG) e Belém.

Para evitar concorrência entre as franquias e outros estabelecimentos que já vendiam seus produtos, a companhia optou por levar suas unidades para cidades em que seus itens são menos encontrados, diz o diretor comercial Everton Lourenço.

"Vimos que, em momentos de baixa nas vendas, as multimarcas nem sempre são os parceiros ideais. Às vezes elas podem vender todos os nossos sapatos, mas não fazem mais compras por ainda terem estoque de outras marcas", diz o executivo.

Os empreendedores que pensam em abrir uma unidade dessas novas redes devem examinar se a empresa realmente está preparada para fazer a transição entre indústria e comércio.

"Essas empresas têm experiência industrial, mas nem sempre sabem lidar com varejo. O franqueado pode passar por treinamento e acabar sabendo tudo sobre a fabricação do produto e nada de operação de lojas", diz Marcus Rizzo, da consultoria Rizzo Franchise.

Também é importante observar se a indústria oferece aos franqueados itens diferentes dos que já podem ser encontrados em outros espaços. Caso contrário, o estabelecimento acaba virando uma "loja de fábrica" sem nada em especial, afirma Rizzo.

A Fini, especializada em balas, chicletes e outros doces, busca ter algum diferencial oferecendo nas franquias itens importados de sua matriz espanhola que não oferecidos aqui em outras lojas.

Esses produtos devem representar cerca de 70% do que é vendido, diz Andrea Garcia, gerente da empresa.

A companhia abriu 55 lojas próprias desde 2012, quando iniciou o planejamento desse modelo. Após período de testes, a empresa busca interessados em assumir esses espaços a partir deste ano.

DESCONHECIDOS

A empresa Tip Top, de roupas infantis, usa o modelo de franquias para revitalizar e fortalecer a marca de 62 anos, conta Ricardo Marcondes, gerente de expansão.

"Ficamos algum tempo escondidos por estarmos com produtos só em outras lojas. A nova geração talvez não vestisse nossas roupas por não estar vendo a marca exposta como está agora", diz.

O processo começou em 2008 e hoje a companhia tem 90 lojas com marca própria em funcionamento. Agora, a estratégia é criar "mega-stores". Duas foram abertas desde 2013 --a maior tem 600 metros quadrados.

Além das roupas produzidas pela empresa, os estabelecimentos do novo modelo vendem produtos de outros fornecedores, como carrinhos de bebê. O investimento inicial para se abrir uma franquia da empresa é de cerca de R$ 1,5 milhão.


Redes investem em fábricas para controlar produção


Enquanto indústrias estão vendo oportunidades no varejo, empresas que já estavam no setor de franquias estão abrindo fábricas para abastecer suas lojas e podem inclusive se tornar fornecedores de outras companhias.

O objetivo é melhorar a qualidade dos produtos e não correr riscos com fornecedores. Um exemplo disso é a Mr. Cheney, que vende cookies. A empresa fabrica doces suficientes para atender 30 franqueados.

"Como o cookie é muito delicado, dificilmente iríamos encontrar um bom fornecedor na indústria que não tentasse baratear o produto e simplificar o preparo", diz o sócio Lindolfo Paiva, 49.

Como hoje tem capacidade para atender até cem franqueados, Paiva compensa a ociosidade fornecendo os produtos para restaurantes.

A fábrica da Coxinha du Chef também funciona abaixo de todo sua capacidade: ela poderia produzir coxinhas para cem franquias e sua previsão é fechar o ano com apenas 25.

Os sócios da empresa encaram isso como investimento e optam por não vender fora de suas próprias lojas, diz um deles, Renato Iarussi, 41.

"A fábrica hoje dá prejuízo por causa de custos como aluguel. Mas é algo que já está previsto. Se vendêssemos nossos produtos fora da rede não haveria mais interesse pelas franquias."


Veículo: Folha de S.Paulo


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