Copa afeta consumo e amplia a ociosidade de moinhos de trigo

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A realização da Copa do Mundo no Brasil teve um efeito inesperado para a indústria processadora de trigo no Brasil. Em vez de escassez do cereal, como se previa no início deste ano, houve uma certa "folga" no abastecimento, de forma que os moinhos até desaceleraram a moagem de trigo para produção de farinha. Isso ocorreu porque houve um menor consumo de pães e outros derivados de farinha no período. Com isso, estima-se que, nos últimos dois meses, a indústria tenha reduzido em 5% a moagem de trigo, quando o normal é elevar o volume processado em 15% devido à maior demanda típica do inverno.

A situação afeta principalmente os moinhos que fornecem matéria-prima para o setor de panificação, que responde por metade das 8,3 milhões de toneladas de farinha consumidas no país, segundo o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika. "O forte da panificação fica em São Paulo".

De fato, o movimento das padarias na capital paulista ficou muito abaixo da expectativa do segmento no período da Copa. A receita do setor caiu 20%, segundo Antero Pereira, presidente do Sampapão, entidade que representa as padarias do Estado. Ele elenca os fatores que levaram a esse cenário: antecipação das férias escolares, cancelamento de eventos de negócios na cidade e decretação de feriados nos dias de jogos. "A Copa foi um desastre para as padarias, com exceção daquelas localizadas próximas do Itaquerão e em alguns outros bairros, como na Vila Madalena", afirma.

Nas contas do sindicato que representa a indústria moageira do Estado de São Paulo (Sindustrigo), a queda na moagem afetou todo o semestre. Os moinhos do Estado processam 1,9 milhão de toneladas de trigo por ano, 950 mil toneladas por semestre. "Mas nos primeiros seis meses deste ano, esse volume caiu 5%, para cerca de 900 mil toneladas", diz o presidente do Sindustrigo, Christian Saigh. Ele acrescenta que a ociosidade dos moinhos paulistas, normalmente em 30%, está em 35%.

Parte dessa redução pode ser explicada pelo clima quente neste inverno, diz Marcelo de Baco, da De Baco Corretora, de Porto Alegre (RS). O tempo quente reduz a demanda por alimentos calóricos, à base de farinha, e as chuvas no Sul mantiveram os pastos verdes, reduzindo a necessidade de complementar a alimentação animal com ração. O consumo entre os turistas que vieram para assistir aos jogos da Copa também decepcionou. "As fotos só mostram os turistas segurando cerveja, e não cachorro quente", brinca Baco.

Fora de São Paulo também houve retração. No Rio Grande do Sul, a redução da moagem no semestre é estimada em torno de 10%, segundo José Antoniazzi, presidente do sindicato que reúne os moinhos do Estado. "Maio e junho foram os piores meses dos últimos anos", afirma. O processamento das indústrias gaúchas costuma somar 1,6 milhão de toneladas no ano, mas no primeiro semestre o setor moeu cerca de 100 mil toneladas a menos que o normal para o período. Essa queda significou uma ociosidade na casa dos 10% - os moinhos do gaúchos utilizam normalmente 100% da capacidade instalada, segundo Antoniazzi.

Mas para quem tem uma clientela diversificada, a redução da moagem de trigo não tem sido significativa. Foi o caso do Moinho Estrela, com sede em São José (RS), que fornece farinha para padarias, indústrias de biscoito, massa e panificação e para o varejo. "A queda nas compras foi mais por parte da indústria de biscoito e massa", afirma Gerson Preto, diretor industrial da empresa.

O Estrela também reduziu o volume de trigo moído no semestre, mas o recuo foi resultado da interrupção das atividades durante os dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo. Segundo Preto, as paradas devem ter prejudicado o faturamento, mas ainda não é possível mensurar o efeito. Porém, ele avalia que o processamento deve retomar o fôlego a partir de agosto por causa dos preparativos para o consumo de fim de ano e alcançar a meta de 240 mil toneladas no ano - o mesmo volume processado pelo moinho em 2013.

Além do consumo em queda, outro fator tem pesado na retração das atividades dos moinhos: o excesso de farinha de trigo em estoque nas indústrias. No ano passado, houve quebra na safra de trigo por conta do frio, o que fez o preço do cereal disparar no mercado interno. "Com essa memória e com os preços ascendentes no início do ano, os compradores de farinha tentaram garantir o padrão de qualidade e fizeram contratos para recebimento em abril e maio, acumulando estoques para até 5 meses", diz Marcelo Baco.




Veículo: Valor Econômico


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