Não precisa entender de economia para perceber que as compras no supermercado estão cada vez mais pesadas no bolso do consumidor. Para gastar menos, vale todo e qualquer “jeitinho” brasileiro, desde pesquisar até comprar em quantidade. O CORREIO foi às ruas e constatou que comprar em atacado é mais vantajoso do que no varejo. Levando em consideração o preço unitário, uma cesta com 11 produtos básicos da mesma marca, incluindo itens de limpeza e alimentos não perecíveis, saiu 51% mais barata no estabelecimento que vende em quantidade. Enquanto no varejo o valor total da compra deu R$ 34,94, no atacado foi R$ 23, ou seja, uma economia de quase R$ 12.

Porém, para pagar menos é preciso comprar mais, consequentemente, desembolsar mais dinheiro de uma única vez. Isso não é um problema para o servidor público Genildo Viana. Cliente dos estabelecimentos atacadistas há cerca de 5 anos, ele garante que vale a pena comprar em quantidade. “É muito mais barato comprar em quantidade. Além de não precisar ir ao mercado toda hora, economizo algo em torno de 25%”, disse. Ele, que antes de sair de casa faz uma lista para não correr o risco de comprar algo que não está precisando, diz que os produtos de limpeza são os mais vantajosos quando comparado com o varejo. “Só não compro em atacado frutas e verduras. Prefiro a feira das Sete Portas, que é mais fresca e mais em conta”.

Adepto das compras em atacado há cerca de cinco anos, o servidor público Genildo Viana garante que esse modelo de venda em quantidade  possibilita uma economia de 25% ( Foto: Marina Silva)

Quando o assunto é economia, a doceira Ana Lúcia Dias não mede esforços. Ela diz que bate muita perna em busca de preços mais baixos. “Vou atrás da promoção, seja no atacado ou no varejo. Mas, a maioria das coisas sai mais em conta quando compradas em quantidade”, afirma. Na quinta-feira, por exemplo, ela comprou uma caixa de leite UGT integral da marca Cotochés, com 12 unidades de 1 litro, por R$ 28,68 no Sam’s Club (Iguatemi), ou seja, R$ 2,39 por unidade. No Hiper Bompreço, localizado a poucos metros de distância, que também faz parte do grupo Walmart, o litro do mesmo leite custava R$ 2,84 - uma economia de R$ 0,45 em cada litro, ou seja, uma redução total de R$ 5,40.

O consultor de varejo da Associação Bahia de Supermercado (Abase) Rogério Machado explica que uma série de motivos justificam os preços mais baixos no atacado. “O atacadista compra em caixa fechada e vende em caixa fechada, sem precisar de mão de obra para arrumar a mercadoria na gôndola”. A ausência de alguns serviços, como empacotador, açougueiro e lanchonete também contribui para que os atacadistas consigam vender mais barato. “No varejo, o ambiente costuma ser mais confortável, mais bem iluminado e com ar-condicionado, por exemplo”, pontua. Resumindo: com um custo operacional mais barato, é possível vender mais barato.

De acordo com Machado, a maioria dos atacadistas no Brasil não comercializa apenas produtos em quantidades. “É o sistema híbrido, que oferece ao consumidor produtos no atacado e no varejo no mesmo local. É o que chamamos de ‘atacarejo’”. Para ele, ambos os modelos têm espaço no mercado, já que as necessidades dos clientes são diferentes. “Hoje, o preço é importante para o consumidor, mas não é fator mais importante. Tudo vai depender do perfil do consumidor. Agora, quanto menor a renda, mais importante é o preço”, pontua.

Cuidados

O economista Luís Carlos Ewald, conhecido como o Senhor Dinheiro, reconhece a vantagem de comprar em atacado, mas chama atenção para os cuidados com as consequências. “Feijão e arroz, por exemplo, não são perecíveis, mas depois de um período começa a dar bicho”. Para ele, comprar em quantidade vale para quem tem família grande, mas acima de tudo tem administração.

Ele diz que mais importante é pesquisar e planejar. “Quando acho um azeite barato, por exemplo, compro logo cinco garrafas. Mas, além de guardar em local apropriado, faço uma planilha, para não me perder. Afinal, não adianta comprar mais barato e ter desperdício”. Outra orientação é não comprar por impulso, só porque está mais barato. “A dica é comprar apenas o que é necessário e o que vai utilizar”.

Regras básicas de estoque ajudam a evitar o desperdício
Comprar em quantidade não exige apenas ter mais dinheiro disponível para desembolsar de uma única vez, mas também requer planejamento e acima de tudo conhecimento de algumas regras básicas para o armazenamento.

Responsável por planejar e organizar o estoque de uma cozinha industrial, a nutricionista Jaqueline Santos dá algumas orientações para não anular a economia com desperdício. Segundo ela, o local para guardar alimentos secos, como arroz e feijão, por exemplo, precisa ser seco, arejado e iluminado. “Esses cuidados evitam o desenvolvimento de larvas de insetos, como o gorgulho”.

Arrumar os produtos colocando na frente sempre os que têm vencimento primeiro é fundamental. “Uma planilha, com o nome do produto, quantidade, validade e saída, também ajuda a não ter desperdício”. Na geladeira, a regra, segundo Jaqueline, é colocar tudo que já estiver pronto para consumo na parte de cima, para evitar contaminação dos alimentos. “Isso porque o ar circula sempre de cima para baixo. No congelador, separar os crus dos preparados também é recomendado”.

 
DICAS PARA ECONOMIZAR

 1 Lista de compras  A lista de compras é um item necessário para você levar ao supermercado, pois tende a evitar os excessos e o consumismo. Nela deve conter apenas os produtos necessários com as respectivas quantidades para guiar suas compras e evitar um carrinho cheio de falsas necessidades.

2 Escolha certa Dê preferência a alimentos (frutas e vegetais) da safra, pois, além de terem uma melhor qualidade, são mais baratos que os produzidos fora da época. Evite aqueles impulsos de levar coisas desnecessárias, como uma bebida que você nem gosta tanto ou um pacote de salgadinhos que engorda e faz mal à saúde.

3 Bom senso Promoção é bom e todo mundo gosta, mas comprar só porque está mais barato não é uma atitude de consumidor antenado e que sabe que o barato pode sair caro. O mesmo vale para os produtos que oferecem brindes.

4 Barriga cheia Ir ao mercado com fome fará com que você tenha vontade de sair comprando um monte de coisas que vê pela frente. Se não tiver  jeito, procure comer algo antes de começar a fazer as compras. Isso evita aqueles impulsos de querer pegar alimentos gostosos.

5 Marketing Talvez você nunca tenha percebido, mas tudo dentro de um mercado é executado de forma estratégica. Os produtos mais baratos, por exemplo, costumam ficar nas prateleiras mais baixas, já que nem sempre os clientes gostam de se abaixar. Os corredores das filas únicas, cheios de guloseimas, funcionam como “passatempo” para quem está esperando.

6 Pequenos em casa As crianças são seres consumistas. Normalmente, querem tudo o que veem ou é novidade, com isso suas compras podem sair do controle. Caso não tenha alternativa, uma boa estratégia é disponibilizar uma pequena quantia para ela comprar o que quiser, desde que o dinheiro dê.

7 Marcas locais Se não for fiel à marca, dê oportunidade de conhecer os produtos locais e de marca própria do próprio supermercado. Eles costumam ser mais baratos do que os de marca mais conhecida e a qualidade pode ser tão boa quanto.



Veículo: Correio 24 Horas