Planejamento das finanças pode salvar consumidor da inadimplência de começo de ano

Leia em 6min

Assim como as festas de Natal e ano-novo, as despesas tradicionais de início de ano devem ocupar a cabeça e o calendário dos brasileiros, em destaque. Diante dos rumos dos principais indicadores da economia, os cuidados para evitar começar 2016 com as finanças já combalidas por presentes, viagens e comemorações caras ao bolso devem ser redobrados. Além dos possíveis aumentos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), a elevação de preços das matrículas e do material escolar promete superar as expectativas.

O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) anunciou recentemente que as mensalidades tendem a ser remarcadas entre 10% e 14% no ano que vem, e, para completar a aflição de quem tem filhos, toda a linha de material de papelaria foi reajustada de janeiro a outubro em 3,22% na Grande Belo Horizonte. Embora o índice tenho ficado abaixo da inflação de 7,69%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as despesas com cursos, leitura e papelaria subiram 8,89%, na média, na Região Metropolitana de BH.

Para que as famílias não sejam pegas de surpresa, o ideal é que, desde agora, organizem o caixa, com base no orçamento previsto para o início de 2016. Segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, este é o primeiro passo para enfrentar os aumentos que virão. “Dá para prever os valores das despesas de começo de ano, basta relembrar o que foi pago no ano anterior e acrescentar os reajustes discutidos. A partir daí, é possível ter uma boa referência”, afirma Mauro Calil, educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro.

Com a inflação próxima de dois dígitos e o aumento das taxas de desemprego, a preocupação cresce. A assistente financeira Adriana Flôres, de 33 anos, diz nunca ter se sentido tão insegura. Por isso, já começou a abrir mão de gastos supérfluos. “Neste ano, mesmo com 13º e férias para ajudar nas contas, não conseguirei viajar, renovar os móveis de casa, muito menos trocar o carro, que era um plano que eu tinha desde janeiro”, afirma.

Apesar de a renda da assistente ter crescido em 2015, o acréscimo foi corroído pela inflação. Por isso, está mais difícil organizar os pagamentos para o próximo ano. “Já não estou tendo de onde tirar. Agora, controlo o uso da luz e do telefone para tentar poupar”, afirma. Adriana lamenta não poder colocar os filhos de 5 e 13 anos em um colégio particular. “Com matrículas absurdas e material escolar caro, será impossível dar um estudo melhor para eles, no momento”, lamenta.

Consumo regrado

Economizar é a palavra do momento no vocabulário dos brasileiros. Segundo o presidente da DSOP Educação Financeira, Reinaldo Domingo, decidir por consumo regrado é o mais sensato a se fazer. “Estamos com dólar alto, inflação chegando a 10% e é melhor ponderar nos gastos de fim de ano para que 2016 comece leve”, afirma. Para ele, educação financeira é importante para se obter felicidade.

Que o ano vai começar pressionado pelas altas de preço, é previsível. Por isso, especialistas dão dicas de como driblar a situação. Juntar um grupo de pais para comprar na mesma loja pode elevar a chance de conseguir preços mais em conta para o material escolar. Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), recomenda que não se desperdice o material parcialmente usado no ano anterior. “Esta é a hora de poupar. Não descarte objetos que ainda podem ser utilizados”, afirma. É importante, também, não se deixar levar somente pelos desejos dos filhos.

Família e bolso unidos

Evitar ceder aos impulsos de consumo, definindo uma lista de gastos necessários e com o engajamento de todos os membros da família, é medida decisivas se elas não desejam entrar em 2016 já endividadas. Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, “é importante que todos participem das finanças da família. Assim, fica mais fácil os filhos compreenderem e abrirem mão de produtos mais caros”.

A gestora de RH, Daniele Abreu, 38 anos, sempre se organiza para pagar o material escolar de seus dois filhos à vista. É isso o que os especialistas recomendam. Para Mauro Calil, da Academia do Dinheiro, fazer pagamentos parcelados, se não houver incidência de juros, pode ser vantajoso, mas ele recomenda a quitação à vista caso seja possível negociar um bom desconto.

Se a situação estiver muito apertada, ao ponto de impedir o pagamento de todas as contas logo no início do ano, economistas aconselham dar preferência ao parcelamento do IPVA ou do IPTU. Essas despesas têm condições de pagamento mais vantajosas do que aquelas oferecidas pelas administradoras de cartões de crédito e os bancos no cheque especial, por exemplo.

Daniele Abreu começou a organizar suas finanças em maio deste ano e, desde então, a vida está bem mais tranqüila para a gestora de RH. “Hoje, consigo até gastar um pouco mais. Vou pagar os impostos à vista, coisa que sempre pensei em fazer, mas nunca consegui”, afirma. Para Daniele, a situação só não está melhor por conta da inflação. “Os preços estão mais altos, mas, pelo menos, minha consciência está tranquila porque hoje eu consigo gastar somente o que eu posso”, afirma.

A farmacêutica Danyelle Perez, de 33, seguiu as dicas dos educadores e entrou no embalo dos cortes de gastos supérfluos. “Para manter meus filhos na escola particular e conseguir pagar IPVA, IPTU, matrícula e material escolar, sem dor de cabeça, cancelei o contrato com a TV a cabo e parei de usar telefone fixo. As idas aos restaurantes no fim de semana foram trocados por piqueniques”, afirma. Ela combinou com a família que, neste ano, será o Natal das crianças; só elas receberão presentes. A ceia não será farta e a comemoração do aniversário do filho de dois anos, em 29 de dezembro, “será um lanchinho sem luxos”.

Economistas e consultores costumam orientar o consumidor a usar o 13º salário para quitar dívidas ou fazer poupança para as despesas de janeiro. Mauro Calil recomenda, ainda, que o consumidor não faça empréstimos para quitar essas despesas. “É melhor tentar vender coisas em casa que não estão sendo mais usadas. Busque novas alternativas, pois empréstimo pode custar mais caro e a chance de se enrolar é maior”. Para ele, o cuidado deve ser o de não enfrentar os próximos 12 meses de 2016 endividado. “Avalie se aquela viagem de 30 dias é realmente necessária. Não espere para consertar as dívidas só no fim do ano que vem”, alerta.

Segundo Fábio Gallo, da Fundação Getúllo Vargas, o que não se deve fazer de maneira alguma é deixar de pagar as contas. Fingir que as despesas não existem, traz prejuízos ainda maiores. “O não pagamento pode gerar multas e dores de cabeça para o resto do ano. Ninguém quer que isso aconteça”, analisa. (MA)

 


Veículo: Jornal Estado de Minas - MG


Veja também

Veja produtos que estão com preços em queda em plena crise econômica

Aparelhos de som vendidos a preços 15,6% mais baixos na comparação com o ano passado, televisores o...

Veja mais
Inflação obriga famílias a diminuírem ou trocarem itens de compras

No posto de gasolina, no supermercado ou à mesa do café da manhã, o brasileiro está sentindo...

Veja mais
Mercado prevê maior inflação desde 2002 no país, aponta Relatório Focus

            Segundo o documento, IPCA para 2015 sobe de 9,91% para 9,99%. Retra&ccedi...

Veja mais
Alta do dólar impacta preço de itens da ceia de Natal

                    ...

Veja mais
Inadimplência avança em SP

Em outubro, 18% das famílias paulistanas estavam inadimplentes, alta puxada pelas fatia de baixa renda (inferior ...

Veja mais
Estudo mostra preferências financeiras da população

A pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) revelou que a maior parte dos consumidores ...

Veja mais
Supermercados no RS preveem alta nas vendas para o Natal e Ano Novo

                    ...

Veja mais
Setor privado tem que fazer sua parte durante a crise, diz presidente da OCDE

O secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (...

Veja mais
Resolvida a questão fiscal, economia poderá reagir em seis meses, diz Levy

                    ...

Veja mais