Inflação obriga famílias a diminuírem ou trocarem itens de compras

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No posto de gasolina, no supermercado ou à mesa do café da manhã, o brasileiro está sentindo com mais força o peso do custo de vida. A inflação de 0,82%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro, foi a maior para o mês desde 2002. No acumulado do ano, indicador já alcança 8,52% no país, percentual mais alto desde 1996; e no período dos últimos 12 meses, chegou a 9,93%. Até dezembro, a expectativa dos analistas de bancos e corretoras é de que encoste nos dois dígitos. Para fazer frente à disparada do orçamento, brasileiros estão transformando a rotina. Se os preços administrados pelo governo, aqueles dos serviços públicos, sobem, pelo menos as despesas que o consumidor pode controlar crescem em ritmo menor.

Na Grande Belo Horizonte, a inflação acelerou menos que a média nacional em outubro, com alta de 0,62%. Ainda assim, o percentual foi superior ao de setembro (0,41%). A suspensão do reajuste das tarifas do transporte urbano entre 17 de setembro e 24 de outubro contribuiu para a menor pressão no indicador da capital. Para completar o tanque do carro com 35 litros de combustível, a advogada Gabriela Leite, de 33 anos, gastava R$ 110 no início do ano. Agora está desembolsando R$ 126.  Os gastos com energia elétrica na residência em que mora com mais duas pessoas, aumentaram, no mesmo período, de R$ 90 para R$ 140.

Como não conseguiu fugir do reajuste da gasolina de 6% em outubro e nem da escalada da conta de luz, que, neste ano, encareceu quase 50% no país, Gabriela está freando as compras no sacolão e no açougue. “No sacolão, compro 20% menos, substituindo frutas pelas espécies da época, trocando produtos e ainda deixando de comprar alimentos que estão caros demais, como é, agora, o caso do limão. Prefiro a manga palmer, mas se a tommy estiver mais barata é essa que levo. Serão quatro em lugar das seis anteriores”, explica.

A ginástica da advogada Gabriela Leite é sentida pela maioria da população brasileira. O motorista Agmar Braga, 45, está desempregado. Ele conta que sente a aceleração do custo de vida principalmente no supermercado, onde reduziu a quantidade comprada de uma só vez. "Estou comprando menos e optando pelas marcas mais baratas."

Em outubro, as maiores influências sobre o índice vieram dos transportes (1,72%) e do grupo de alimentação e bebidas (0,77%). As remarcações ligadas à locomoção subiram sob o impacto da elevação das passagens aéreas (4,01%), pneu (0,94%), passagem de ônibus intermunicipal (0,84%), conserto de automóvel (0,69%), acessórios e peças (0,46%).

O vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, aponta que o indicador mais importante é o câmbio, que foge ao controle do governo e pressiona a inflação. Itens como a carne bovina tiveram forte alta em 12 meses (17,16%), principalmente devido à elevação das exportações, que reduzem a oferta no mercado interno. O dólar também impacta o preço dos insumos, encarecendo os alimentos.

Em outubro, os combustíveis pesaram forte nas despesas das famílias, participando com 4,89% da composição do IPCA, e liderando o ranking dos principais impactos na inflação do país. Mais caros em 6,09%, os combustíveis foram responsáveis por 37% do resultado do índice.

O consumidor passou a pagar, em média, 5,05% a mais pelo litro da gasolina desde 30 de setembro. Em relação aos últimos doze meses, os preços do combustível acumulam 17,93%, em média. O reajuste foi ainda maior no caso do etanol, que chegou a 12,3%, mas a contribuição do produto na formação do índice é inferior à da gasolina, de 1,10 ponto percentual. Para o diesel, o reajuste em 12 meses alcançou 15,9%. Nas bombas, o combustível foi reajustado em 3,26% em outubro.

A estimativa do mercado, segundo relatório publicado pelo Banco Central, é de que a inflação feche o ano em 9,9%. Em 2016, embora crescendo em ritmo menor, na opinião de economistas, o índice deve ainda superar o centro da meta estabelecido pelo Banco Central, ficando próximo a 6,5%. “Em 2016, o reajuste dos preços administrados, a exemplo da energia elétrica, devem ocorre em patamares menores e o consumidor, em função do aumento do desemprego, deve ter maior controle sobre os seus gastos, contribuindo para o crescimento em menor ritmo da inflação”, diz Pettersen.

 



Veículo: Jornal Estado de Minas - MG


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