A queda de preços de commodities agrícolas e industriais no atacado provocou a desaceleração da segunda prévia do Índice Geral de Preços -Mercado (IGP-M) de 0,72% para 0,65% de novembro para dezembro. Esse cenário pode perdurar por um tempo, o que deve beneficiar os próximos resultados dos IGPs - cuja taxa anual deve encerrar 2014 abaixo de 4%, resultado inferior ao de 2013, quando a taxa ficou acima de 5%. Até a segunda prévia de dezembro, o IGP-M acumula alta de 3,72% em 12 meses. A possibilidade de continuidade na alta do dólar, que puxa para cima preços de importados e de commodities no atacado e que representa 60% do total dos IGPs, pode, no entanto alterar o cenário.
O setor atacadista foi o grande responsável pela taxa menor da segunda prévia anunciada ontem, afirmou o superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros. Beneficiada por soja, bovinos e aves mais baratas, a inflação das matérias-primas brutas agropecuárias atacadistas diminuiu de 5,09% para 1,21% entre novembro e dezembro e foi um dos principais fatores que levaram à desaceleração da inflação do atacado como um todo (de 0,93% para 0,71%).
Ao mesmo tempo, entre os insumos industriais, houve intensificação no mesmo período na deflação do minério de ferro (de -4,56% para -5,69%), item industrial de maior peso na formação da inflação atacadista.
"Como os preços do varejo registraram aceleração [de 0,43% para 0,66% de novembro para dezembro], bem como os da construção [de 0,14% para 0,28%], o atacado foi o principal responsável pela taxa menor da segunda prévia", afirmou Quadros, citando os outros dois setores usados para cálculo dos IGPs.
Ao falar sobre a aceleração de preços no varejo, no âmbito da segunda prévia entre novembro e dezembro, Quadros lembrou que a inflação dos alimentos está mais elevada devido ao repasse da alta do preços agropecuários atacadistas aos respectivos derivados no varejo. Isso deve ajudar a puxar para cima a inflação do IPC em 12 meses até o fim do ano. Até a segunda prévia de dezembro do IGP-M, o IPC registra alta de 6,65% - o triplo da inflação atacadista para o mesmo período (2,21%).
Mas os preços das matérias-primas agropecuárias atacadistas não estão subindo mais de forma tão intensa, o que deve ajudar a conter a aceleração de preços no varejo, nos próximos resultados dos IGPs, avaliou o superintendente. "O dólar subindo muito é sempre uma possibilidade de que essa influência apareça nos IGPs, mas acho que, se houver, não será nada muito preocupante", afirmou.
Veículo: Valor Econômico