Alheio à guerra das cervejas, consumidor aprova o "litrão"

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Na hora de comprar sua cerveja, o brasileiro não quis nem saber se a garrafa de 1 litro que estava levando para casa era do tipo "compartilhada", se tinha ou não a logomarca do fabricante em relevo no vidro ou se era motivo de discórdia entre as cervejarias nacionais. O fato é que o popular litrão caiu no gosto do consumidor e foi o principal responsável pelo crescimento do mercado de cervejas este ano, segundo dados da Nielsen. O sucesso foi tanto que a embalagem, restrita até agora a um único fabricante - a AmBev - será adotada também pela rival Femsa.

 

Lançada há pouco mais de um ano, até janeiro a garrafa de 1 litro representava só 0,1% do volume total vendido. Hoje, o litrão já tem 1,3% das vendas. Ou seja, passou de 2,8 milhões de unidades para 14,5 milhões em sete meses. Embora pareça pouco, a evolução é bem significativa em um mercado que já vendeu este ano 5,124 bilhões de litros da bebida, contra 4,991 bilhões dos primeiros sete meses de 2008 - alta 2,7%.

 

"O mercado só cresceu este ano graças, em boa parte, a essa nova embalagem", diz Filipe Abolafio de Souza Silva, coordenador de pesquisas especiais da Nielsen. Tanto é que as vendas cresceram só em supermercados (altas de 7% a 14% conforme o tamanho da loja). Nos bares, a quantidade comercializada ficou estável, com pequena variação positiva de 0,3%.

 

"Essa nossa nova embalagem veio a calhar em tempos de crise, quando as pessoas estão preocupadas com o bolso", diz João Castro Neves, presidente da AmBev, que agora se prepara para lançar o litrão, (até agora vendido apenas no Sul e no Sudeste), no Nordeste.

 

O preço do novo formato explica o sucesso das vendas: enquanto a garrafa comum, de 600 ml, custa R$ 2,60, o litro sai por R$ 3 (com devolução do casco, que tem a opção de ser retornável, a critério do varejista). Ou seja: um copo de 200 ml da embalagem tradicional custaria R$ 0,86 enquanto o da nova ficaria por R$ 0,60 - 30,23% mais barato. Talvez seja até por isso que a tradicional garrafa de 600 ml foi a única embalagem que vendeu menos nesses primeiros sete meses de 2009. Segundo a Nielsen, houve queda de 1,25% entre janeiro e julho.

 

Mas o litrão, que por enquanto, é comercializado apenas pela líder de mercado, já gerou polêmica entre concorrentes da cervejaria. Há 11 dias, a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) foi à Secretaria de Direito Econômico (SDE), para tentar impedir que a AmBev, que detém 68,9% das vendas, continue comercializando o casco de 1 litro. A entidade se queixa de que o vasilhame com a marca da empresa em relevo no vidro não pode ser compartilhado por outras empresas, como acontece com as garrafas de 600 ml, que são 62,7% do setor. A SDE até agora não se posicionou.

 

A AmBev - que está até lançando outra garrafa de uso exclusivo, a Brahma de 300 ml, em garrafa semelhante a que ficou famosa no mercado de refrigerantes como "caçulinha" - não aceita os argumentos da Abrabe. "A gente passa dois anos desenvolvendo o formato da garrafa, leva mais dois para determinar o modelo de chegada no mercado, mais um para encantar o consumidor. Aí vem a concorrência e fala: 'Ah, eu quero usar'?", diz Carlos Eduardo Lisboa, diretor de marketing da companhia. "Cada um faz o seu", acrescenta.

 

É o que vai fazer a Femsa. A cervejaria terá a seu litrão, "em breve", segundo sua assessoria de imprensa, que vem guardando segredo sobre quais das suas marcas terão a nova embalagem. A empresa, entretanto, não deve aderir ao modelo de casco de 1 litro proposto pela Abrabe, já que não é associada à entidade. A associação divulgou no início do mês um desenho de garrafa que poderia ser compartilhado, uma vez que não leva logomarcas.

 

Já a Schincariol - que, assim como a Petrópolis, é associada da Abrabe - ainda não decidiu o que fazer. A empresa diz apenas que o investimento nessa embalagem "apresenta riscos adicionais ao mercado, tendo em vista que a garrafa retornável de 1 litro é marcada com logotipo da empresa dominante". Já a Petrópolis divulgou que, se decidir entrar no segmento, usará o modelo da Abrabe, assim como a Schincariol.
 


Veículo: Valor Econômico


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