Retração evidencia a concorrência acirrada entre os shopping centers

Leia em 4min

São Paulo - O crescimento no setor de shopping centers nos últimos cinco anos acabou provocando uma canibalização das operações em algumas regiões. A consequência disso foi a queda no fluxo de consumidores, fechamento de lojas e uma pressão de grandes players para que se crie uma regulamentação no setor.

"Os investidores mais conscientes reclamam, mas esse é um fenômeno recente na indústria de shoppings", afirmou o sócio diretor da GS&BW - braço de shopping center da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza, Luiz Alberto Marinho.

Para ele, o que levou a essa concorrência acirrada, e por vezes desleal, é o fato de o segmento de shopping centers estar ligado ao imobiliário. Assim, ao invés de se estruturar a viabilidade de consumo atrela-se a disponibilidades de terrenos. "Para os terrenistas tem de ser onde eles compraram o terreno. Eles fazem de tudo para viabilizar o shopping", diz.

Segundo o especialista, o primeiro caso visto no mercado paulista foi a construção do Shopping Market Place, em 1995, instalado ao lado do Morumbi Shopping, que foi inaugurado em 1982, no Brooklin, na capital. "Isso também é reflexo de um segmento que demorou a se desenvolver no Brasil", explicou. Marinho diz que a indústria de shoppings começou em 1966 e mesmo sendo um nicho antigo, foram necessários 40 anos - até 2006 para a construção de 351 shoppings. "Desses mais de 300, 170 foram inaugurados nos últimos nove anos", disse.

Uma das soluções que podem levar os players do setor a sentir menos o efeito da concorrência, na opinião de Marinho, seria a união dos empresários. "Não tem como regulamentar o setor pela quantidade de shoppings e do varejo que atua nesse segmento. Isso seria uma intervenção agressiva demais. Acho válido promover debates de conscientização entre os empreendedores com o apoio da Associação Brasileira de Shopping Centers [Abrasce]", conclui.

Contraponto

Na opinião do especialista em shopping center e varejo e diretor da Make It Work, Michel Cutait, é errado afirmar que existe um número exagerado de shoppings no País. O mais correto é dizer que em alguns casos a concorrência é mais acirrada devido ao menor mercado de consumo de algumas regiões. "Em São Paulo essa análise deve ser feita com conceitos bem distintos já que um shopping na zona sul não compete com um na zona leste e a região tem uma demanda de consumo muito maior. As cidades regionais têm mostrado maior concorrência porque o market share é proporcionalmente mais desequilibrado já que o mercado de consumo é menor e a oferta maior". Segundo Cutait, isso gera a percepção de que há uma canibalização entre os shoppings.

O especialista discorda da necessidade de uma regulamentação do setor, uma vez que já existem certas regras - como a lei do aluguel - que permeiam o segmento. "O excesso de regulamentação é um dos motivos mais perversos que dificultam e limitam o crescimento da iniciativa privada", enfatizou.

Para finalizar, Cutait afirmou que a conjuntura econômica do Brasil acabou por deturpar o momento vivido pelo shopping. "O problema não está na oferta mas no cenário macroeconômico que afetou de forma contundente o consumo que está reprimido por conta da inflação e do desemprego", concluiu o executivo.

Iniciativas

Na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) a tentativa de unir as incorporadoras e administradoras de shopping centers existe há cerca de cinco anos, mas ele serve como forma de alerta aos empresários. "Essa concorrência ficou mais acirrada quando os shoppings conseguiram de forma mais fácil fundos para investimento. Com dinheiro, cidades que não comportariam nem um shopping, hoje tem dois", diz o vice-presidente e coordenador do Conselho de Varejo da ACSP, Nelson Kheirallah.

Na opinião do coordenador, além da canibalização entre os shoppings, os varejistas também são afetados de forma negativa. "As lojas âncoras, por exemplo, vão para esses shoppings para frear seus concorrentes diretos. Só que com a crise econômica que estamos enfrentando, já teve rede que fechou as portas", disse ele.

Uma das medidas da ACSP é convencer esses empresários a adiar a inauguração dos empreendimentos como forma de adequação do novo cenário. "O Via Café Garden Shopping em Varginha [MG], da Tenco Shopping Center foi um dos que adiou a inauguração. Outro foi o Shopping Cerrado Goiânia [GO] do Grupo Odilon Santos e da Cyrela Commercial Properties [CCP]", disse Kheirallah ao DCI.

Ainda segundo o especialista da Associação o número maior de adiamento de inaugurações tem sido visto desde 2014. "Em 2014 foi anunciado a construção de 42 shoppings, inaugurou entre 22 ou 24 dos previstos. Esse ano a mesma coisa tem acontecido. A expectativa era de 26 novos shoppings e apenas 14 devem ser inaugurados", disse Kheirallah.



Veículo: Jornal DCI


Veja também

Reino Unido tem inflação 'zero' em agosto

                    ...

Veja mais
O círculo virtuoso das vendas começa dentro da loja

Apple, Timberland, Patagonia... Nessas empresas, os funcionários são tão importantes quanto os clie...

Veja mais
Setor agropecuário enfrenta crise no Pará, aponta Dieese

                    ...

Veja mais
Venda de PCs despencou 38% no segundo trimestre, diz consultoria

               O resultado fez com que o Brasil de...

Veja mais
Juros ao consumidor aumentam

                    ...

Veja mais
País negociou 44% da safra de café 2015/16

A comercialização da safra de café do Brasil 2015/16 (julho/junho) está em 44% da produ&cced...

Veja mais
PIB do agronegócio mineiro estimado em R$ 163,492 bilhões

                    ...

Veja mais
Atividade agrícola teve queda em junho

Após apresentar duas evoluções seguidas, o faturamento da atividade agrícola de Minas Gerais...

Veja mais
Ao plantar menor área de milho em 45 anos, Rio Grande do Sul aumenta dependência da soja e riscos para o solo

              Espaço destinado à cultura ...

Veja mais