Investidores agora apostam em café, cacau e gado

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Os fundos de hedge e outros gestores de recursos estão migrando para pequenos mercados, como o de cacau, café e até gado, que desafiam a forte queda registrada nos preços globais das matérias-primas.

Esses investidores estão apostando em produtos cuja demanda tem disparado à medida que os mercados emergentes prosperam e sua classe média se expande, o que está elevando o consumo de produtos como chocolate e hambúrguer.

Investidores e economistas acreditam que a demanda por esses produtos é menos vulnerável a uma desaceleração do crescimento da China. A demanda chinesa por alimentos mais sofisticados ainda é forte, e a ascensão de outros mercados emergentes ajudará a aliviar qualquer retração, dizem eles.

Ao mesmo tempo, agricultores têm dificuldade para atender à demanda porque elevar a produção de café e cacau, assim como a atividade pecuária, é caro e requer tempo. Essa dinâmica pode deixar a oferta limitada e os preços elevados por anos, dizem investidores e analistas.

Os pés de café e os cacaueiros levam mais de três anos para produzir grãos de alta qualidade, enquanto um boi é geralmente abatido para produzir carne com 18 a 22 meses de vida. Por outro lado, quando a oferta no mercado de milho está limitada, os agricultores podem plantar e colher uma safra maior em questão de meses, rapidamente anulando qualquer alta nos preços.

Os preços de grãos e de algodão caíram este ano porque os produtores americanos plantaram safras excepcionalmente grandes depois de um período de alta nos preços, e o clima favorável impulsionou a produtividade.

"Se há um indicador nos preços para plantar mais milho, os produtores vão subir em seus tratores e plantar cada hectare de terra que têm", diz David Donora, chefe de commodities da Threadneedle Investments, em Londres, que administra US$ 158,7 bilhões.

Os contratos futuros de café arábica subiram 73% até agora no ano, enquanto os de cacau avançaram 22%. Os futuros de gado tiveram alta de 22% e os futuros para gado de confinamento subiram 41%. As apostas de fundos de hedge e outros investidores na alta dos preços de café e cacau se mantêm perto de níveis recordes em vários meses, contrastando com uma queda expressiva nas apostas de alta para outras commodities, da soja ao cobre, segundo dados do governo americano.

Além disso, preocupações com a fraca atividade industrial na China derrubaram os preços de commodities como cobre e algodão. O Índice de Commodities da Bloomberg, que monitora os preços futuros de 22 commodities, caiu mais de 4% neste ano.

Mercados emergentes como a China lideram o crescimento global da demanda por café, carne e chocolate. O consumo de carne bovina e vitela deverão subir 5,1% na China este ano, ante um crescimento global de 0,7%, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.

Na América Latina, o mercado de café deve crescer 5,7% este ano, ante uma alta mundial de 3,9%, segundo a firma de pesquisa Euromonitor International. Os ganhos virão de um aumento no número de consumidores com renda disponível nesses países. O percentual da população mundial vivendo em situação de miséria, ou com menos de US$ 1,25 por dia, caiu em mais de 50%, para 20,6%, entre 1990 e 2010, segundo o Banco Mundial.

Produtos como café e chocolate tendem a registrar quedas menores na demanda durante retrações econômicas, à medida que continuem baratos para a maioria dos consumidores, dizem economistas. O número de pessoas com condições de comprar pequenos luxos também continua crescendo junto com a renda em países em desenvolvimento.

"Como consumidores, nos acostumamos a certos gostos e hábitos alimentares", diz John Baffes, economista sênior do Banco Mundial. "É difícil mudar."

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura informou recentemente que seu Índice de Preços de Alimentos caiu em agosto para o menor nível em quase quatro anos, com queda nos preços de grãos, açúcar e soja. O índice de preços de carne, porém, atingiu alta recorde.

Problemas de abastecimento dispararam os preços da carne, do café e do cacau este ano. Uma seca afetou a produção no Brasil, o maior produtor de café do mundo. Os preços do cacau estão subindo em meio a temores de que o surto de ebola se espalhe pela Costa do Marfim e impeça a produção e exportação do principal ingrediente do chocolate no país, o maior produtor mundial.

Os investidores apostam que esses mercados precisarão de muito tempo para resolver os problemas na cadeia de suprimento.

Sem dúvida, as commodities de melhor desempenho tendem a estar em mercados menores, limitando as oportunidades para os investidores. O valor dos contratos em aberto no mercado futuro de cacau dos EUA chega a US$ 7,1 bilhões, comparado com cerca de US$ 21,1 bilhões de milho e cerca de US$ 137 bilhões no mercado futuro de petróleo.

Por enquanto, os preços ainda estão subindo mais que o previsto. O USDA estimou recentemente uma alta entre 8% e 9% nos preços de carne bovina e vitela este ano, acima da previsão do mês passado, que era de alta entre 6,5% e 7,5%.

No mercado de café, os produtores brasileiros alertam que os pés danificados pela pior seca em décadas não vão se recuperar para a safra do ano que vem. Danilo Silva Fernandes, presidente da cooperativa Coopervitae, em Nova Resende, Minas Gerais, diz que a produção entre seus membros caiu 20% este ano, e pode cair outros 14% no próximo.

"Houve muito pouco crescimento pela falta d' água", diz ele.



Veículo: Valor Econômico


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