Nas têxteis, produto 'made in China' tem design brasileiro

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A RC Conti, uma pequena empresa de Brusque (SC), com 180 funcionários, costuma trazer pijamas da China que não têm similares no mercado nacional, feito com um soft especial. O produto vem pronto, já embalado, com etiqueta e tag da empresa. Na Cativa, 22% do faturamento de 2014 deve vir de produtos importados da Ásia. Já a Lepper encontrou na China uma boa relação de custos para a produção de sua linha bebê e de artigos sintéticos, como roupão e mantas. A produção da China, iniciada há 5 anos, já representa 20% do faturamento.

O setor têxtil é representativo do avanço da compra de produtos prontos via terceirização produtiva. A ida para a Ásia, que envolve empresas de diferentes portes, ocorre após exaustivas contas de custo de produção. A RC Conti pesquisou o valor de nacionalizar o pijama que importa, mas desistiu. "O custo aqui seria quatro vezes maior", explica Rita Conti, dona da empresa e presidente do Sindicato das indústrias do Vestuário de Brusque, Botuverá, Guabiruba e Nova Trento (Sindivest).

"Não há dúvida que a revenda ganhou importância e isso é fruto da perda de competitividade da indústria nacional", diz Fernando Pimentel, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Ele afirma que, além do aumento de custos domésticos, o mundo não se recuperou após a crise de 2008 e o país não só perdeu mercados no exterior como virou alvo de todos os fornecedores do mundo, que passaram a direcionar seus excedentes ao Brasil. Ele aponta dois tipos de "competição" externa: a "desleal", porque não segue padrões mínimos de condições de trabalho e marcos regulatórios; e a "real", feita por países onde o custo é efetivamente menor que o brasileiro.

Na onda atual de aumento da importação de produtos prontos, em muitos casos a criação e o desenvolvimento dos produtos é toda feita no Brasil, segundo os fabricantes ouvidos pelo Valor. Gilmar Sprung, presidente da Cativa, conta que as coleções são mandadas para diversos fornecedores na Ásia para uma cotação. Depois de escolhido o melhor preço, são produzidas as primeiras amostras até que a mercadoria é entregue com etiqueta e tags da Cativa. Segundo ele, todo processo, da criação até a efetiva chegada da mercadoria no Brasil, leva um ano. O produto chega pronto, revisado e embalado. "Realizamos somente inspeções por amostragem", diz Sprung.

A RC Conti define até o botão do pijama. "Daí volta para cá [SC] para aprovação", diz Rita. Esse processo demora de seis a oito meses. A parte de criação e design dos produtos importados pela Lepper também está sendo feita "dentro de casa", em Joinville, na sede da empresa.

Além da Ásia, as empresas também têm avançado na terceirização produtiva com oficinas de costura (também chamadas de facções) no Brasil. Essa forma de operar, segundo as empresas, não têm diminuído a produção no Brasil, mas também não levou, nos últimos anos, a uma ampliação de capacidade de produção no país. A maior parte das empresas ouvidas não possuem planos para isso nos próximos anos.

Rita, da RC Conti, diz que começa a planejar uma expansão no Brasil, mas ela será em outras áreas, que não a produção: loja física (ela tem oito da sua marca Mensageiro dos Sonhos), telemarketing ou loja virtual. A empresa já usa 22 oficinas no Brasil.

Na Lepper, a presidente Maria Regina Loyola Alves diz que a empresa tem faccionado tudo que é possível. "O caminho é ficar na empresa com aquilo que é capital mais intensivo e maquinário com alta produtividade", destacou.

O prazo entre desenvolver e produzir na Ásia faz com que Ivo Lombardi, dono da Miss Beth, especializada em biquínis, roupas para ginástica e pijamas, evite essa estratégia. A antecipação dos pedidos, diz, poderia fazê-lo "fugir da moda", pois fica difícil ter o "feeling" do varejo com tanta antecedência. Embora não use a Ásia, Lombardi terceiriza produção com 42 facções no Brasil, processo que cresce cerca de 15% ao ano. Dada a concorrência pelas oficinas no país, diz que algumas já ficam a mil quilômetros da sua fábrica.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, de Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), Ulrich Kuhn, há hoje dois lados muito claros na relação com a Ásia. "Um é que realmente ela danifica e impede o crescimento da indústria têxtil brasileira. De outro lado, é um processo absolutamente necessário".



Veículo: Valor Econômico


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