Encomendas vão melhorar, mas são insuficientes para salvar ano

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Indústria Mesmo com a expectativa de aquecimento da atividade nos últimos meses do ano, tradicionalmente marcados pelo aumento das encomendas, o pessimismo é elevado




Os empresários estão pouco confiantes com relação ao desempenho da indústria em 2014. Mesmo com a expectativa de aquecimento da atividade nos últimos meses do ano, tradicionalmente marcados pelo aumento das encomendas, o pessimismo é elevado.

"A demanda deve aumentar nessa época do ano, mas a confiança dos empresários continua baixa", afirma o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo. Ele pondera que essa melhora será baseada em números registrados nos meses anteriores, que foram muito baixos - afetados pela Copa do Mundo - e não representam uma recuperação efetiva do setor.

Apesar de alguns setores sinalizarem uma perspectiva de melhora para as encomendas de final de ano, o pessimismo é generalizado. "A perspectiva não é boa e nós devemos ter um resultado bem mais modesto que o ano passado", conta o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Para ele, existe a possibilidade de a indústria calçadista ter uma recuperação nas encomendas dos próximos meses, mas esse movimento deve ser observado com maior clareza apenas a partir de outubro.

Ciclo negativo

No segmento têxtil, a previsão é encerrar o ano com queda de 4% a 5% na produção têxtil e de até 2% na produção de vestuário, contabilizando três anos seguidos de queda. "A indústria [têxtil] não vem bem. Nós até começamos o ano melhor que a expectativa, mas a partir de abril começamos a enfraquecer e o ápice do resultado negativo se deu nos meses de junho e julho, com a Copa do Mundo", comenta o diretor superintendente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.

Ele destaca os reflexos da queda nas vendas do varejo, que afetam diretamente a indústria. Com o agravante do aumento nas importações, principalmente de vestuário, responsáveis pela redução da demanda nas fábricas. Segundo o diretor da Abit, a importação desses itens cresceu 5% nesse ano e detém hoje 13,1% de participação do mercado.

Pimentel observa ainda que a redução cada vez maior no horizonte de tempo das carteiras de pedidos do setor têxtil tem afetado o setor. Se antes, os pedidos eram feitos com até 12 meses de antecedência, agora os pedidos chegam a ser registrados com apenas quatro meses. "O cenário ruim na economia tem encurtado esse horizonte de pedidos e com isso o empresário não sabe, por exemplo, quanto vai vender no próximo ano", afirma. Segundo Pimentel, a falta de previsibilidade tem impedido projetos de ampliação da produção, estratégias de negócios e empregos.

Exceção

O segmento de eletroeletrônicos está entre os poucos cuja perspectiva para o final do ano não é negativa. "Os empresários estão confiantes com o volume de encomendas, mas financeiramente está mais apertado que no ano passado", afirma o presidente executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula.

A realização da Copa do Mundo no País, que prejudicou muitos setores, ajudou a alavancar as vendas de televisores, o que garantiu um resultado melhor no primeiro semestre. Para os últimos meses do ano, Kiçula prevê uma aceleração no ritmo da produção, baseado no aumento das vendas do varejo, para atender a demanda do Natal. "Mesmo com o recuo de 5% nas vendas de eletrodomésticos da linha branca no primeiro semestre, vamos fechar o ano com resultado positivo", estima.

Uma sondagem da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), realizada com cerca de 500 empresas do segmento, mostra que 46% esperam crescimento das vendas no segundo semestre deste ano ante igual período de 2013, enquanto 33% preveem queda e 21% estabilidade. A Abinee ressalta que a avaliação é, em parte, influenciada pela expectativa de mercado que o mercado todos os anos é mais aquecido no segundo semestre.

Pequenas e médias

A tendência para os próximos meses, segundo o economista da CNI, Marcelo Azevedo, é que as indústrias de pequeno e médio porte acompanhem o desempenho das grandes empresas. "Isso acontece porque as fábricas menores, muitas vezes, fornecem para as gigantes do mesmo setor", explica.

Ele pondera, entretanto, que esse desempenho pode variar em determinados segmentos e não descarta a possibilidade de alguns nichos apresentarem resultados positivos, na contramão do que se espera no setor. "Mas, em relação a confiança dos empresários, a perspectiva continua negativa e sem previsão de melhora", conclui.

Socorro

Em geral, os representantes das indústrias dizem que as reivindicadas setoriais são as mesmas há anos, mas reconhecem que algumas delas foram atendidas pelo governo federal.

A volta do programa Reintegra - que concede crédito sobre o faturamento das exportações, como medida para aumentar a competitividade - foi citada por Heitor Klein, da Abicalçados e Fernando Pimentel, da Abit, como uma possibilidade de benefício para indústria no ano que vem. Desta vez, diferente do período anterior, o programa não tem data para terminar e a alíquota será de 3% em 2015.

"O problema é que, em contrapartida, a inflação e os juros continuam em um patamar elevado e o câmbio está sendo administrado em um patamar que não favorece a indústria", acredita Heitor Klein.

"O cenário é aterrador e certamente nós podemos esperar mais perdas de emprego na indústria", completa o diretor de economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini.



Veículo: DCI


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