Herdeiro da Wickbold faz carreira solo

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Quando criança a brincadeira de férias ao lado dos primos tinha endereço certo - a fábrica de pães, fundada por seu bisavô Henrique Wickbold, em 1938, na capital paulista. A diversão era moldar as massas e saborear o pão quentinho, saído do forno. Foi neste ambiente bastante familiar que Pedro Wickbold, hoje com 27 anos, teve seu primeiro contato com o mundo dos negócios. "Eu sabia que um dia eu estaria entre eles, mas meu sonho quando adolescente era ser jogador de futebol", lembra. "Joguei pelo São Caetano até a categoria juniores." A morte do pai há 10 anos e o ingresso na faculdade fez o jovem mudar de planos.

O uniforme de futebol foi para o armário e ele para a fábrica da família. Passou por todos os departamentos, do chão de fábrica onde ajudava na manutenção das máquinas à direção de marketing, incluindo a boleia do caminhão de entrega e a arrumação dos pães nas gôndolas dos supermercados. "Fiquei muito focado no operacional porque a entrega dos pães tem de ser ágil e a briga na prateleira é grande", afirma Wickbold.

"Quando acumulei uma boa vivência fui para o Rio de Janeiro fazer a estruturação logística da empresa". Embora tivesse interesse em aprender cada passo da operação do negócio da família, o bisneto do fundador também queria acumular experiência em outras empresas, ter a própria vivência empreendedora.

A oportunidade surgiu quando cursava o terceiro ano da ESPM. Junto com três amigos de curso, ele viu na internet o lançamento de uma nova marca de relógios, com conceito socioambiental muito forte, sem similares no mercado nacional. A marca era a Relógios WeWood, criada em Florença, na Itália, em 2010, cujos modelos são desenvolvidos em madeira reciclada, o que garante exclusividade. A matéria-prima é a sobra de diversas fábricas de móveis, pisos, instrumentos musicais e outros produtos feitos de madeira.

Disposto a trazer a WeWood para o Brasil a qualquer custo, Wickbold colocou em prática uma lição que todo empreendedor deveria fazer, mas nem sempre o faz. Durante três meses ele se dedicou à criação de um plano de negócios, com dados aprofundados do mercado brasileiro, posicionamento do varejo, precificação detalhada e, principalmente, os tipos de ações que desenvolveria para fazer a marca acontecer por aqui. "Com a cara de pau de quem não tinha nada a perder, entrei em contato com o criador da marca e revelei o interesse", conta o empresário. "Em 2011, o Brasil era a bola da vez, ele tinha interesse em operar no país, já havia conversado com outras pessoas e sabia das dificuldades tributárias, demora nos trâmites de importação e da necessidade de se unir a um operador local."

Wickbold não sabe dizer se o projeto era realmente o melhor ou se o dono da marca gostou dele. O certo é que depois de muitas reuniões feitas por Skype, fecharam a parceria. Nascia, assim, em 2011, a WeWood Brasil, que levou quase um ano para começar a operar. "Só fomos nos conhecer pessoalmente seis meses depois de fechar o contrato", diz. Na prática, a empresa fundada por Wickbold é importadora e distribuidora dos relógios da marca italiana no país. O primeiro lote foi escolhido por feeling, sem que os sócios tivessem algum cliente varejista e com o e-commerce semipronto. "Eram apenas seis modelos, pouco conhecidos já que a marca também engatinhava no exterior", afirma o empresário. "A primeira rede de varejo a dizer 'sim' foi a Farm, especializada em moda feminina. Na sequência, vieram a Cartel 011, outras multimarcas e, em um segundo momento, as relojoarias."

Hoje, são 100 pontos espalhados por 12 Estados brasileiros, mais de 30 opções de relógios unissex e o e-commerce respondendo por 30% do faturamento que, em 2014, deve bater os R$ 3 milhões. A WeWood Brasil também trocou de sócios. Wickbold agora divide a direção da empresa com Renato Feller. Juntos, eles elaboram novas estratégias para alavancar a marca e as vendas, as quais vêm ganhando espaço nos outros 20 países onde a WeWood opera. Entre elas, está a instalação de quiosques temporários, a exemplo do aberto em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, durante a temporada de inverno de 2013. "A proposta inicial era ter um contato mais direto com o público-alvo, saber como avaliavam a marca", conta Wickbold. "Mas tivemos uma grata surpresa com o volume de vendas. Faturamos R$ 100 mil, 60% desse valor apenas no feriado de Corpus Christie."

A experiência, somada ao quiosque aberto no shopping Market Place de outubro a dezembro do mesmo ano, foi importante para os sócios tomarem a decisão de abrir lojas próprias, no modelo quiosque, ainda em 2014. A ideia é inaugurar três unidades até dezembro. Com preços entre R$ 399 e R$ 569, os relógios chamam a atenção pelo fato de serem feitos de madeira, mas, principalmente, pelo design. "O consumidor ainda não tem o apelo socioambiental arraigado. Ele gosta de repetir a história da marca, mas o design italiano ainda é mais importante do que plantar uma árvore." Wickbold faz esta comparação porque um dos diferenciais da marca é plantar uma árvore a cada relógio comercializado em qualquer parte do mundo. Em quatro anos de existência, a WeWood já plantou 300 mil, sendo que a operação brasileira foi responsável pelo plantio de 10 mil mudas. Para tanto, a empresa mantém parceria com duas das maiores ONGs de reflorestamento do planeta, a American Forest Releaf e a Trees for the Future.

Wickbold faz questão de salientar que a fabricação do relógio é praticamente toda artesanal, dividida em 50 etapas e sem o uso de qualquer tipo de material tóxico. "Como não é adotado nenhum tipo de corante, as peças ganham brilho com cera de abelha, cada relógio é único, de acordo com a madeira recebida", afirma.



Veículo: Valor Econômico


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