Com inflação em alta, cresce a venda de produtos de marca própria no varejo

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Produtos que levam o selo das varejistas representam pouco mais de 5% das vendas do setor



A inflação próxima do teto da meta, de 6,5%, já causa mudanças em hábitos de consumos e nos negócios do varejo. As empresas abriram mais espaço para as chamadas marcas próprias nas prateleiras de supermercados e lojas de todo o país. Produzidas sob encomenda para as redes varejistas e com pouco gasto de marketing, esses produtos tendem a ter preços menores e, por isso, são cada vez mais usados para encher o carrinho sem estourar o orçamento.

— Estou fazendo mais pesquisa de preço e optando por marca própria, principalmente nos produtos de limpeza, porque acho que a qualidade é mais parecida com a que estou acostumada — conta Sônia Bassos, profissional de seguros.

Na outra ponta, empresas que começaram a atender o segmento de marcas própria estão conseguindo, de alguma forma, driblar a desaceleração da atividade econômica. É o caso da mineira Emiflor. A fabricante de alimentos estima faturar R$ 240 milhões em 2014. Quase 70% deste total são referentes à venda de produtos de redes varejistas, como gelatina, batata palha e amido de milho. No ano passado, essa participação era inferior a 60%.

— As vendas das marcas próprias estão crescendo 15%. Já a nossa linha, no geral, tem expansão entre 7% e 8% — conta Zanone Campos, diretor comercial da Emiflor.

No Brasil, produtos que levam o selo das varejistas representam pouco mais de 5% das vendas do setor, mas alcançam um percentual maior em algumas redes e categorias de produtos. No Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, as marcas próprias Qualitá, Taeq e Casino superaram 10% das vendas do segmento de alimentos. No início do ano, a fatia era de 9%.

Seguindo a tendência, as Lojas Americanas acabam de lançar a Basic+Care, marca própria de artigos de higiene pessoal, que oferece, por exemplo, embalagens com 50 unidades de lenços umedecidos por R$ 6,99 contra R$ 8,99 do pacote de 48 unidades da líder Johnson & Johnson, segundo preços verificados em uma das unidades em São Paulo. A rede tem 12 marcas próprias de produtos de vestuário, utilidades domésticas e decoração.

NEM SEMPRE O PREÇO É MENOR

Mesmo sendo referência de economia, marca própria não necessariamente significa preço menor. Numa da lojas do Extra no Centro do Rio, por exemplo, a caixa de 250g do Matte Leão era vendida ontem por R$ 7,99 enquanto o similar de mesmo volume da Qualitá saía por R$ 9,19. Já o pacote de 100 g do açúcar refinado da marca própria sai mais em conta, a R$ 2,11, contra R$ 2,35 da marca premium. A vantagem de preço também aparece em outros produtos, como óleo de soja.

O diretor financeiro do Grupo Pão de Açúcar, Christophe Hidalgo, afirma que as empresa tem investido em novos produtos, mas pondera que nem sempre o de marca própria será o mais em conta.

— Nem sempre é o melhor preço, mas o consumidor a cada dia se dá conta que é um produto de qualidade, por isso ganhamos espaço.

Os supermercados Zona Sul, no Rio, possuem 13 marcas de produtos de fabricação própria e outras 50 produzidas com exclusividade para a rede. Segundo Pietrangelo Leta, diretor comercial do Zona Sul elas respondem por 23% das vendas e crescem acima da média da empresa.

— Não trabalhamos com o conceito de marcas próprias, mas de marcas exclusivas. O primeiro critério na hora de selecionar os produtos é a qualidade e, em segundo, um preço competitivo, não necessariamente o menor. Em geral, custam menos do que o líder do mercado mas, dependendo da categoria, podem até custar mais porque são itens diferenciados, de gastronomia. Entre outros, temos pães Panetto,molhos, azeites e massas italianos San Frediano, vinho chileno Santa Dominga e, há um ano, lançamos os Sucos Já — explica Leta.

Célio Martinez, gerente de marketing do atacadista paulista Roldão, diz que a alta de preços tem mudado o comportamento do consumidor. Se antes as compras de consumidores finais nas unidades do grupo se concentravam aos sábados e domingos, agora também ocorrem às sextas. Além de comprar maiores volumes para fugir de futuras altas, ele destaca a busca por marcas próprias, categoria que representa 10% das vendas, contra 5% há três anos.

— Ele procura um custo menor e uma referência, que é a rede varejista que oferta a marca própria. Isso fez com que elevássemos a oferta de itens deste tipo— conta.

Ontem, o ministro da Fazenda Guido Mantega disse que o combate à inflação está sendo bem-sucedido e que a população recuperou o poder de compra, porque os preços de alimentos estão em queda. Mas, na avaliação da presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias, Neide Montesano, a perspectiva do setor é de mais expansão por causa da alta de preços.

— Estamos crescendo entre 10% e 12% nesse ano alavancados pelo aumento da inflação.

E o interesse não é só de fabricantes e consumidores. Segundo Marcos Gouvêa de Souza, diretor consultoria GS&MD, a margem de lucro do varejo é maior na marca própria.

— No Brasil, o valor da marca da indústria ainda é muito forte e relevante — diz.




Veículo: O Globo - RJ


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