Exportador minimiza efeito da crise Argentina

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A abrupta desvalorização cambial na Argentina, realizada pelo governo na tentativa de conter a perda de reservas internacionais, trouxe apreensão aos exportadores brasileiros. Isso porque o vizinho é o terceiro maior mercado para as vendas nacionais, depois de China e EUA, e o maior destino para manufaturados. No ano passado, o país recebeu 8% das exportações brasileiras (US$ 19,6 bilhões). Ainda assim, os principais setores industriais que vendem ao país de Cristina Kirchner minimizam efeitos da crise.

É o caso do setor automotivo, que tem a Argentina como principal destino das exportações. Em 2013, as vendas externas de automóveis somaram 563,2 mil unidades, das quais 475 mil foram para o país vizinho. Apesar disso, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) acredita que a crise argentina não deve afetar os negócios de ambas as nações.

"Apesar da apreensão, temos plena convicção de que a situação irá se normalizar", afirmou ao DCI o presidente da Anfavea, Luiz Moan. Para o primeiro trimestre de 2014, o governo portenho restringiu as licenças de importação.

"Há uma dependência mútua entre os dois países e a melhor solução para ambos é manter esta cooperação", destaca Moan. Não seria interessante que a Argentina mantivesse restrições em demasia aos produtos brasileiros. Isso porque, em 2013, o país vizinho exportou menos em volumes (380 mil veículos) ao Brasil e mais em valores (US$ 7,1 bilhões contra US$ 6,7 bilhões do lado de cá). "A linha produzida lá é de maior valor agregado", diz o executivo.

Moan ressalta que, para 2014, a expectativa da Anfavea é de estabilidade nas exportações entre os dois países. "É muito cedo para fazer uma avaliação completa, mas acreditamos que os negócios irão se manter em um alto nível", diz. Representantes do setor automotivo de Brasil e Argentina se reuniram na última quinta-feira (30) para discutir as relações.

Para a consultoria especializada no setor a Jato Dynamics, o impacto da crise deve ser mínimo. "A Argentina depende mais do Brasil que o contrário", avalia o presidente no País, Gerardo Román.

O consultor afirma que, se houver dificuldades para exportações ou até para trazer produtos do vizinho, o Brasil buscará outras fontes. "O México também possui um acordo bilateral importante com o País. Caso a situação se agrave na Argentina, podemos explorar mais esta troca", diz.

Román garantiu que o perigo de desabastecimento no mercado brasileiro é remoto. Inclusive para quem depende de linhas de produção na Argentina, caso da Mercedes-Benz, que fabrica o utilitário Sprinter em Gonzáles Catán, na grande Buenos Aires. O modelo é um dos líderes em vendas da categoria no Brasil.

"Apesar das incertezas, não enxergamos desabastecimento", afirma o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer. Ele destaca que o efeito maior para a montadora deve ser o da desvalorização do peso, uma vez que 80% das exportações de caminhões da empresa e 40% dos ônibus são para o vizinho sul-americano.

Segundo item mais relevante da pauta brasileira de exportações para a Argentina, os bens de capital mecânicos não têm sido afetados pelas dificuldades do país vizinho em anos recentes, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A entidade registrou avanço de 4,7% nas exportações ao Mercosul em 2013, somando US$ 1,7 bilhão.

"Com o recrudescimento dessa crise, é possível pensar que isso vá prejudicar nossas exportações", afirmou o presidente executivo da Abimaq, José Velloso. Segundo ele, será preciso monitorar o impacto da desvalorização cambial no país ao lado sobre as vendas externas brasileiras do setor, mas bens de consumo devem ser mais afetados.

Percepção semelhante tem a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). "Esse tipo de efeito não afeta diretamente a matéria-prima química, porque quem importa depende disso para produzir. Geralmente os reflexos diretos de uma crise econômica atingem primeiro a parte mais avançada da cadeia, o consumo", explica a diretora de assuntos de comércio exterior da Abiquim, Denise Naranjo.

O impacto, portanto, pode aparecer nas vendas à indústria de transformação brasileira. "Esses produtos de consumo, como calçados e eletrodomésticos, não vão conseguir ser exportados para a Argentina", diz. Segundo a diretora, se as exportações de matérias-primas forem afetadas, é mais preocupante, porque significará que a indústria argentina já terá sido afetada pela crise.

Há ainda a expectativa de que a desvalorização cambial dê espaço ao relaxamento dos controles de importação dos últimos anos. "Com a convergência entre o peso oficial e o 'blue', os controles de importação podem deixar de ser necessários e isso pode suavizar o impacto do movimento do câmbio. Quando se trata de bens intermediários, os controles de importação devem ser relaxados, a fim de evitar um prejuízo excessivo à produção industrial da Argentina", escreveram analistas do Itaú BBA, em 28 de janeiro.

Essa também é a visão da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). "As coisas poderão até melhorar, pois no momento em que você diminui as travas burocráticas para as importações, o empresário que efetivamente precisar do produto brasileiro para compor a sua linha de produção vai importar", acredita o presidente da Abinee, Humberto Barbato. O problema então, segundo ele, será o empresário ter dólares para pagar.



Veículo: DCI


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