Grandes marcas lucram menos, mas já vislumbram o pós-crise

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Cenário. Apesar das varejistas de moda de capital aberto terem visto retração no lucro líquido somado de 2016, todas conseguiram reduzir seu nível de endividamento e aumentar o caixa


 
São Paulo - As varejistas de moda de capital aberto (Renner, Marisa, Restoque e Cia. Hering) apresentaram piora no lucro líquido somado de 2016, que recuou 16,3%, frente ao ano anterior. Nesse cenário, apenas a Renner destoou com uma alta de 8% no indicador. Apesar do desempenho ruim, todas investiram na saúde financeira da operação, visando 'surfar' no pós-crise.
 
Como resultado, as empresas fecharam 2016 com um aumento na geração de caixa e uma diminuição do nível de endividamento. Para este ano, a estratégia será manter o foco na melhoria desses indicadores e da eficiência operacional, já com a previsão de uma gradativa recuperação do consumo. "Nosso desafio é estarmos prontos para esse momento de retomada", disse o diretor presidente da Marisa, Marcelo Araujo, fazendo menção a perspectiva de uma gradual volta do consumo, que para ele deve ocorrer no segundo semestre deste ano
 
Na mesma linha segue o diretor financeiro da Cia. Hering, Frederico Oldani. "Abrimos 2017 com expectativa positiva em relação a como a economia deve se comportar. Acreditamos que o PIB deve voltar a crescer, ainda que modestamente, mas no curto prazo vemos dificuldades", disse em teleconferência.
 
Os executivos também atentaram para a necessidade das companhias passarem de forma saudável pelo período de transição, além do maior foco na redução de despesas e maior produtividade.
 
O presidente da Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc e Dudalina, Marcelo Epperlein, concorda na medida em que afirmou que assim como em 2016 o foco neste ano será na eficiência operacional, rentabilidade, geração de caixa e redução do endividamento. No ano passado, a empresa já reduziu em R$ 26,5 milhões o endividamento líquido, em comparação com 2015, atingindo uma proporção de dívida líquida por Ebitda ajustado de 2,62 vezes.
 
A estratégia, na visão de consultores de varejo, é assertiva. De acordo com o sócio-diretor da GS&Consult, Jean Paul Rebetz, no momento atual (em que a demanda está fraca) as empresas devem focar justamente na saúde financeira da operação. "Aquele que estiver capitalizado, com a liquidez e a rentabilidade em dia, terá mais condições de aproveitar a retomada do consumo", ressalta o consultor.
 
O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni, também enxerga como um sinal positivo a melhora desses indicadores. "Mostra que apesar de terem dificuldade para vender, as companhias buscaram realizar ajustes para tornar a operação mais eficiente", afirma. O executivo acrescenta ainda que como a recuperação do consumo se dará de forma lenta, a continuidade desses ajustes ao longo deste ano será uma necessidade.
 
Sobre quando essa retomada virá, tanto Rebetz quanto Felisoni são conservadores. O primeiro, por exemplo, aponta que uma recuperação nas vendas das varejistas deve ficar apenas para 2018. "O mercado está 'azedo' ainda. No ano que vem deve começar a ter mais elasticidade, mas por enquanto ainda não vejo uma retomada do consumo."
 
Já o presidente do Ibevar pondera que apesar de acreditar em um começo de retomada a partir do segundo semestre, ainda não será nada consistente. "As condições seguem muito adversas", diz.

 

 

Quem se sairá melhor?
Com exceção da Renner, que nas palavras da CEO da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, é "um player diferenciado", a consultora afirma que a varejista de capital aberto que tem maior potencial de reação em um cenário de retomada é a Marisa. Ela explica que a empresa fez uma mudança radical na liderança recentemente, e que isso indica que ela está buscando fazer mudanças profundas na operação - o que para ela é positivo para a rede.
 
Na outra ponta, ela diz que a que terá o maior desafio daqui para frente é a Cia. Hering. "Na Hering não é só uma questão do mercado estar ruim. Acredito que ela está em um momento de repensar a estrutura do negócio. Ela caiu na mesmice e precisa rever a categoria de produtos: se vai investir no básico, no fashion, etc.", diz.
 
O sócio-diretor da GS&Consult, Rebetz, acrescenta que essa necessidade de rever os produtos se dá por um cansaço do consumidor, que não tem buscado mais pelos itens básicos. "Esse produto não está emplacando. Não tem atraído mais o consumidor", afirma.
 
Sobre a Renner - única das quatro varejistas que apresentou melhora tanto do lucro quanto da receita líquida (veja no gráfico) -, Ana diz que o bom desempenho se deve ao investimento que a varejista fez - desde a época do 'boom' do consumo - em eficiência operacional. "Durante os anos do 'boom', a Renner não ficou só 'surfando' no faturamento, e investiu muito em eficiência: modelo de logística, gestão, BI [business intelligence], sistema de CRM. Na hora que a crise veio ela estava muito mais preparada para lidar com a situação", explica.
 
Felisoni, do Ibevar, complementa que outros aspectos que justificam o bom desempenho da Renner são: o sortimento, a velocidade de ajuste das coleções, e uma sintonia mais precisa com o interesse do seu público. "Ela se saiu melhor nessas questões", diz.
 
Pedro Arbex
 
Fonte: DCI - São Paulo


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