Para proteger a rentabilidade, lojistas virtuais reduzem oferta de frete grátis

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Se em 2011 o percentual de vendas com a entrega grátis era de 66%, em 2016 o número caiu para 39%; para os próximos anos, a expectativa do mercado é que o índice atinja o patamar dos 20%

 

 


São Paulo - Com a maturação do comércio eletrônico no Brasil, o percentual de vendas com frete grátis tem diminuído gradativamente no setor. Se em 2011 a fatia era de 66%, no ano passado ela já caiu para 39% do total. Daqui para frente, o movimento deve continuar, com a transformação da prática em algo cada vez mais escasso.

A cultura do frete grátis, explica o presidente da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (Abcomm), Maurício Salvador, ganhou força nos primeiros anos do e-commerce como forma de atrair o consumidor para o canal e de ganhar mercado.

Atualmente, no entanto, a prática tem se tornado inviável para as varejistas virtuais. "O que explica essa mudança é o aumento no custo do frete, que inviabilizou a continuidade da estratégia", afirma Salvador. De acordo com ele, o custo - que há dois anos representava 6% a 12% do valor do produto -, representa hoje 6% a 15% do total.

O diretor da área Mercado Envios do Mercado Livre, Leandro    Bassoi, corrobora a visão do executivo e afirma que a diminuição tem se dado justamente para equilibrar as finanças das companhias do setor. "O peso do frete tem ganhado cada vez mais importância na composição financeira das empresas. Como o frete grátis 'comia' muito a rentabilidade, elas estão tentando equilibrar melhor essa questão."

Salvador aponta também que houve um aumento de outros gastos operacionais, como armazenagem, mão de obra e marketing, o que acabou pressionando ainda mais os lojistas a diminuírem a oferta da entrega gratuita.

Para o diretor geral da plataforma Busca Descontos, Ricardo Bove, a busca das varejistas virtuais por maior rentabilidade se acentuou com a crise, acelerando a mudança. "Como o mercado inteiro está hoje em busca de formas de aumentar a rentabilidade, essa redução da oferta [de gratuidade na entrega] é natural", afirma.

Em sua visão, a tendência é que o percentual de vendas com frete grátis, que segundo a E-bit fechou em 39% em 2016, caia para próximo de 20% em dois anos. O co-fundador da plataforma de lojas virtuais Nuvem Shop, Alejandro Vázquez, também sinaliza para um acirrando dessa realidade. "Um dos motivos pelo qual o frete grátis foi forte anos atrás é que o consumidor estava se acostumando a comprar pela internet. Ninguém estava disposto a pagar para receber o produto em casa. Hoje em dia, com a consolidação do e-commerce, o cliente já está muito mais habituado", diz.

Isso não impede, no entanto, que a mudança impacte de forma incisiva nas vendas do setor. Na visão do CEO da E-bit, Pedro Guasti, o consumidor brasileiro ainda é muito suscetível ao frete grátis, principalmente quando a proporção do valor do frete é muito alta em relação ao preço do produto. Sendo assim, a diminuição da oferta da entrega gratuita acaba impactando as vendas do e-commerce. "Mas como as empresas estão comprometidas com a saúde financeira do negócio, elas abrem mão de vendas para ganhar rentabilidade", explica.

 

 

Sempre vai existir
Apesar da tendência vista nos últimos quatro anos, Salvador, da Abcomm, afirma que a oferta de frete grátis sempre existirá no setor, já que é uma estratégia importante de marketing.O que acontecerá, no entanto, é que será algo muito mais seletivo. "A maioria das lojas hoje estabelece um valor mínimo de compra e regiões específicas para disponibilizar a entrega gratuita. Além disso, algumas varejistas que antes pagavam o total do frete, estão pagando uma parcela e a outra parte incluindo no preço do produto", afirma Salvador.

Bove, do Busca Descontos, concorda e diz que o frete grátis vai ser sempre uma estratégia de vendas importante para os lojistas virtuais. "A questão, no entanto, é que está deixando de ser algo automático, para virar um diferencial", diz.

 

 

Na contramão
No Mercado Livre, Bassoi afirma que vem ocorrendo um movimento oposto ao visto no setor, e o percentual de vendas com frete grátis aumentou no ano passado. O executivo não abre os números, por questões estratégicas, mas diz que a alta foi relevante e que o objetivo da empresa é continuar estimulando os lojistas a oferecerem a entrega gratuita.

"O frete grátis é um vetor importante para nós, porque a conversão de vendas é melhor do que a dos anúncios com o frete pago", diz Bassoi. Ele explica que há alguns anos a participação desse formato de venda era inferior a média do mercado, mas que atualmente (após a implementação de mudanças no sistema de envios do Mercado Livre), a fatia está acima do visto no setor.

De acordo com ele, o marketplace oferece hoje ferramentas que facilitam para o lojista a previsão do valor que será cobrado no frete e que garantem um mesmo valor independente da região, o que estimula a oferta do benefício. "Quando ele [o varejista] já sabe de antemão o preço que vai pagar pela entrega, ele consegue ajustar o valor do anúncio, e assim manter suas margens. Para nós, por outro lado, o lojista oferecer frete grátis não afeta negativamente em nenhum aspecto, e só dá uma experiência melhor para o nosso consumidor", ressalta.

Pedro Arbex

Fonte: DCI - São Paulo


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