Ambev diversifica sabores e embalagens

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Por Cibelle Bouças



Após um ano difícil, a Ambev chega a 2017 com perspectiva de melhora no desempenho, com o cenário macroeconômico um pouco mais favorável - o que beneficia o setor de bebidas como um todo. A companhia também reforça a aposta em segmentos que têm crescido, mesmo na recessão: as bebidas à base de malte ("near beer"), cerveja sem álcool, cervejas especiais e garrafas retornáveis.



Luciano Túlio, gerente de inovação da Ambev, afirma que uma das áreas com melhor desempenho em anos recentes foi a de bebidas à base de malte, desenvolvida para atender principalmente o público jovem (com menos de 30 anos de idade). "A companhia tem buscado entregar inovações relevantes para o consumidor, seja a necessidade de um sabor diferente, ou um produto adaptado a uma ocasião específica de consumo", afirma Túlio. Esse trabalho de desenvolvimento de produtos é feito por uma equipe de 170 pessoas.



Ele observa que o público jovem tem por hábito tomar bebida alcoólica à noite fora de casa, busca novidades e tem preferência por destilados, como vodca e gim. Por isso, a empresa desenvolveu a categoria "near beer", com a Skol Beats. Essas bebidas misturam malte e frutas cítricas ou silvestres e podem ser tomadas com gelo. Entre as principais empresas concorrentes, apenas a Heineken possui algumas opções de cerveja com misturas, como a Kaiser Radler (com suco de limão) e a Desperados (que mistura cerveja, tequila e limão).



Aos consumidores, a Ambev apresenta a Skol Beats como uma nova categoria de bebida alcoólica. Na prática, a linha concorre diretamente com as bebidas "ice", que misturam destilados (como vodca e cachaça) com sucos de frutas. A categoria representa 2% do volume total de cerveja vendido pela Ambev no Brasil. Sem citar números, a companhia informou que as vendas da Skol Beats apresentaram crescimento nos nove primeiros meses de 2016, enquanto as vendas totais de bebidas no país caíram 6,2% em volume no mesmo período.



Outra categoria que, segundo Túlio, teve crescimento forte em 2016 e deve ajudar a impulsionar a companhia neste ano é a Brahma 0,0%, desenvolvida durante quatro anos para que a bebida sem álcool atingisse um sabor mais próximo ao da cerveja tradicional. "A categoria sem álcool está tomando um rumo novo. Antes existia um estigma de que o sabor não era bom, só servia para quem não podia beber. Hoje cresce o interesse pela cerveja sem álcool pelo sabor, por ser uma opção mais saudável, menos calórica", diz Túlio.



Na categoria premium, a companhia investiu em 2016 nas linhas especiais Brahma Extra Lager, Extra Red Lager e Extra Weiss, feitas com puro malte; e ampliou as linhas da Bohemia, com o lançamento dos rótulos Bohemia 838 Pale Ale, Bohemia Aura Lager, Bohemia 14-Weiss e Magna Pils. E prepara novos rótulos para este ano. As cervejas premium representam 10% das vendas da Ambev.



Outra aposta que ganhará força em 2017 é a oferta de cervejas em garrafas retornáveis, que permitem à Ambev reduzir o preço no varejo de 20% a 30% em relação à garrafa tradicional. A Ambev já tem garrafas retornáveis para Skol, Brahma, Brahma 0,0%, Antarctica e Stella Artois e pretende ampliar a oferta em 2017.



Todo esse esforço não foi suficiente para anular o impacto da retração do consumo de bebidas no país no ano passado. De janeiro a setembro, a Ambev registrou no Brasil queda de 3,1% na receita líquida, para R$ R$ 17,31 bilhões, e queda no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 13,2%, para R$ 7,72 bilhões.

 

No terceiro trimestre, a companhia surpreendeu o mercado ao revisar para baixo as perspectivas para 2016 e ao anunciar que não divulgará metas para 2017. Para 2016, a previsão da companhia foi de queda em receita em vez de estabilidade e aumento nos custos de produtos vendidos "entre um dígito médio e um dígito alto". Neste ano, a perspectiva de um cenário macroeconômico um pouco melhor em comparação ao ano passado deve ajudar. Ronaldo Kasinsky, analista de bebidas do Santander, afirma que a operação da Ambev pode ser beneficiada pela combinação de inflação mais baixa e nível de desemprego estabilizado.



Mas ele não vê a possibilidade de grandes saltos nos resultados. "A Ambev sofre com a retração do consumo. E é uma empresa com operação já muito otimizada. Não há uma transformação muito grande a ser feita. Por isso, mesmo retomando o crescimento, não será uma mudança brusca", afirmou. Kasinsky pondera que a Ambev é muito exposta ao cenário macroeconômico brasileiro. No terceiro trimestre, 52,5% da receita da companhia veio da operação brasileira.



De 17 bancos e corretoras que acompanham o desempenho da companhia, 9 mantiveram no fim de 2016 recomendação de compra para a ação da Ambev e 7, recomendação neutra. Após a divulgação do balanço do terceiro trimestre e das projeções mais pessimistas, o Credit Suisse e o BTG Pactual reduziram o preço-alvo para a companhia - para R$ 20 e R$ 18,50, respectivamente - e mantiveram recomendação neutra. O Santander manteve o preço-alvo em R$ 21 e recomendação de compra da ação.



O analista do Credit Suisse, Antonio Gonzalez, informou em relatório que não vê um ponto de inflexão nos lucros da companhia. O banco projeta para a empresa, até 2018, um crescimento médio anual em dólares de 5% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), ainda pouco atraente em comparação à media do varejo brasileiro, de 13%, à média das cervejarias globais (9%) e das engarrafadoras na América Latina (11%).



Os analistas do BTG Pactual, Thiago Duarte e Vito Ferreira, consideraram em relatório que a Ambev sofre com a guerra de preços no mercado brasileiro e essa disputa pode enfraquecer receitas e margens da companhia nos próximos meses. A companhia também lida com custos persistentemente elevados, com impacto relevante do câmbio.

 




Fonte: Valor Econômico


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