Dívida bruta do País deve bater 80% do PIB em 2020 e entrar em declínio

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O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, avalia que o endividamento cairá de forma gradual na próxima década, abrindo caminho para a recuperação do grau de investimento


São Paulo - A dívida bruta do Brasil deve chegar a 80% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, mas entrar em trajetória gradual de queda nos anos seguintes, avalia o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
Ele, que foi diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), e sua equipe trabalham com um cenário de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 241) - que limita o crescimento dos gastos públicos pela inflação do ano anterior - e da reforma da Previdência, além de considerar encaminhamento de ações microeconômicas.
 
Contudo, fatores políticos ainda colocam em risco a perspectiva para a dívida bruta traçada por Mesquita. Na avaliação do coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia Ricardo Balistiero as delações premiadas do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) e dos ex-executivos da Odebrecht podem destituir Michel Temer da Presidência da República. Cenário, para ele, que pode dificultar aprovação de medidas fiscais no Congresso.
Em encontro com a imprensa ontem, Mesquita afirmou, porém, que as suas projeções indicam estabilização da dívida bruta em 80% do PIB em 2020, opinião, inclusive, compartilhada por membros do governo federal.
 
Após 2020, o endividamento deve cair gradativamente. "Todo ajuste pelo lado do gasto é gradual", reforçou o especialista em política fiscal do Itaú Pedro Schneider, destacando que o ambiente de queda do endividamento considera uma idade mínima de 65 anos para a aposentadoria e um teto para o crescimento dos gastos.
Mesquita completou que acredita em uma revisão das desonerações fiscais por parte do atual governo, após as reformas fiscais. Além disso, ele considerou que a abertura de exploração do pré-sal ao capital estrangeiro pode trazer investimentos para o País.
 
Nota de crédito

A redução gradativa da dívida bruta depois de 2020 deve possibilitar com que o Brasil recupere aos poucos a sua credibilidade perante os agentes econômicos internacionais, abrindo o caminho para uma possível reconquista do seu grau de investimento já na próxima década.
 
O País perdeu o seu selo de bom pagador pelas três principais agências de rating do mundo: Standard & Poor's (setembro/2015), Fitch Ratings (dezembro/2015) e Moody's (fevereiro/2016). Mesquita comenta que, na média, os países demoram sete anos para recuperar o grau de investimento. Alguns recuperam em um prazo menor, outros em um tempo maior. O Brasil, segundo Mesquita, encontra-se neste último grupo de nações no atual momento, devendo fazer o possível para recuperar a sua nota antes disso.
 
"A pergunta que todo mundo faz aos economistas das agências de rating é quando que o Brasil vai voltar a ser grau de investimento? Uma vez, um deles respondeu: o Brasil perdeu o grau de investimento quando a sua razão dívida/PIB era 64%. Na conta de vocês, ela vai superar 80%. Então, você tem aí o tamanho do esforço que o País vai precisar fazer para se recuperar", disse.
 
Mesquita ressaltou ainda que a trajetória "explosiva da dívida bruta" foi resultado de uma "tempestade perfeita": uma combinação do aumento do déficit primário com as despedaladas fiscais, além de um aperto monetário e "colapso do crescimento econômico".
"Esse desastre aconteceu em muito pouco tempo", destacou Mesquita. Entre o final de 2014 e agosto de 2016, a dívida bruta foi de 57% para 70% do PIB. Segundo o economista-chefe do Itaú, se Temer for destituído da presidência, é "bem provável" que a atual equipe econômica seja mantida por quem assumir, garantindo, assim o andamento das reformas.
 
Já para Balistiero, mesmo com a equipe mantida, problemas na aprovação das medidas podem surgir. "Hoje o Temer tem maioria, mas não sabemos se quem entrará vai ter apoio da Câmara", diz ele, completando que a reforma da Previdência é mais "impopular" do que o teto para o gasto, o que seria um outro entrave para as reformas fiscais.
 
2016 está dado
Segundo os especialistas, o cenário fiscal para 2016 está dado. As projeções do Itaú, inclusive, vieram em linha com o resultado primário de setembro do governo federal: um déficit de R$ 25,302 bilhões, o pior desempenho para o mês da série histórica, que teve início em 1997. Entre janeiro e setembro deste ano, o resultado primário foi de déficit de R$ 96,633 bilhões, também o pior da série. Em 12 meses, o governo central teve um rombo de R$ 138,2 bilhões.

Para este ano, a meta fiscal admite déficit de R$ 170,5 bilhões nas contas da União. O Itaú prevê que o resultado fiscal deste ano deve ficar abaixo desse valor, de R$ 164 bilhões, Já para 2017, o banco projeta rombo de R$ 144 bilhões, ao passo que objetivo do governo é não gastar mais do que a sua receita em R$ 143 bilhões.
 
Fonte: DCI


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