Intolerância ao glúten e dietas da moda criam oportunidades

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Por Tatiana Schnoor | De São Paulo



O modismo das dietas funcionais e de desintoxicação, que deu notoriedade aos produtos livres de glúten, cria novas oportunidades de negócios no segmento de alimentos especiais. O mercado nacional de itens sem glúten - complexo de proteínas encontradas nos cereais - é abastecido por pequenos e médios fabricantes.

Dados da Euromonitor mostram que as vendas globais desse tipo de alimento cresceram 75% entre 2008 e 2013, para US$ 2,1 bilhões. No Brasil, não há dados suficientes para determinar o tamanho do mercado. A Nielsen, por exemplo, não mede esse segmento de alimentos por considerá-lo pequeno. A projeção fica por conta de produtores que se reúnem em encontros anuais.

Chico Geraes, fabricante há nove anos de alimentos sem glúten da marca de mesmo nome (Chico Geraes) organiza o evento Viva Sem Glúten, em Juiz de Fora (MG). "É a tentativa de organizar o setor que é muito pulverizado, mas em pleno crescimento", diz. No ano passado, o evento reuniu 25 produtores. A segunda edição do encontro está prevista para acontecer em novembro e deverá reunir 2 mil pessoas.

Se for considerado o número de consumidores que dependem exclusivamente dos alimentos livres de glúten, a estimativa mais recente é de 2 milhões de pessoas no Brasil, de acordo com a Federação Nacional dos Associados de Celíacos no Brasil (Fenacelbra).

Nesse universo estão as pessoas com doença celíaca; os não celíacos, mas sensíveis ao glúten; e os que são alérgicos ao trigo. Os que sofrem desse mal dependem somente de comidas livres de glúten pois seu intestino delgado não tolera este complexo de proteínas. O único tratamento é a dieta isenta de glúten por toda a vida.

Mas o alimento sem glúten ultrapassou a fronteira dos celíacos. Há quem compre esse tipo de comida porque segue dietas que prometem bem-estar ou um corpo mais magro. Atenta a este movimento, a Nestlé pretende ampliar as sugestões de receitas em seu site para os interessados em comidas livres de glúten, a partir de setembro.

O empresário Marcelo Martins, dono da fábrica de aromatizantes BevFoods, vem observando o segmento de comidas especiais há três anos, o que o levou a investir R$ 2 milhões na compra da marca Berti Gluten Freee, uma fabriqueta de pães, torradas e farinhas sem glúten, composta de 13 funcionários e que abastece 150 pontos de venda em São Paulo. O plano de Martins é expandir a outros Estados, como Rio de Janeiro. Para isso, vai investir mais R$ 500 mil ainda este ano em compra de equipamentos e logística.

O empresário calcula que possa crescer 30%, fechando o ano com faturamento de R$ 2 milhões. "Não é de hoje que vemos as pessoas mais preocupadas com a alimentação. O glúten entrou para a lista dos produtos procurados não apenas pelos celíacos", diz Martins.

Com um mercado inteiro a se desenvolver, a italiana Schär, empresa líder nessa categoria, com oito fábricas no mundo, considera o Brasil um mercado estratégico. Seu representante exclusivo no Brasil, a Mentor Foods, prevê aumento da presença da Schär a partir de 2015, com a ampliação das linhas de pães e biscoitos.

Atualmente, o mercado nacional recebe 23 itens. No ano que vem serão 27 de um total de 100. Os dois destaques são: Pane Casareccio, um pão sem glúten de casca dura para colocar sopa dentro, e o biscoito integral com cobertura de chocolate belga. "Esperamos ter uma expansão nas vendas de 30% no próximo ano", diz Fernando Menezes, diretor-geral da Mentor.

A motivação de alguns dos empreendedores em expandir as possibilidades de acesso aos alimentos livres de glúten não está apenas na visão de negócio potencial, a advogada tributarista Mariana Pierre, por exemplo, deixou a carreira para se dedicar a desenvolver um projeto inspirado pelo filho, que é intolerante ao glúten e alérgico à proteína do leite e à de soja.

Ela inaugurou a padaria e confeitaria Lilóri neste mês, no bairro dos Jardins, em São Paulo. O espaço é totalmente dedicado à venda de pães e doces sem glúten e outros produtos especiais. "Nossas comidas foram desenvolvidas para aguçar o paladar de nossos consumidores e mostrar que comida sem glúten e lácteos têm, e muito, sabor", diz a empresária, que não informou o investimento. A projeção de crescimento para o primeiro ano de atividade é de 10%. "O espaço foi concebido para todos os perfis que se preocupam com a saúde ou simplesmente buscam pães caseiros, fabricados de forma artesanal e com gostinho de 'comfort food' ", diz Mariana.

O glúten também está presente no malte, ingrediente importante na produção da cerveja. Há fabricantes de olho nesse público especial. Foi lançada há três meses a Lake Side Beer, vendida como a primeira opção de cerveja artesanal sem glúten de produção nacional. O investimento no desenvolvimento do produto não foi revelado, mas o gerente da cervejeira do Rio Grande do Sul, Marcelo Theochi, diz que a novidade já está em 10 Estados do país.

"A adesão foi muito rápida e pelo que tudo indica, devemos triplicar a capacidade atual da fabricação, que é de 30 mil litros por mês, em pouco tempo", afirma. Theochi explica que "é um processo exclusivo e com patente. É feita a inserção de uma enzima que quebra a proteína no malte", conta.

O Empório Veredas, revendedor da cerveja Lake Side Beer, informou que nos últimos três meses, quando começou a comercializar o rótulo, já foram vendidas cerca de 70 caixas, com 12 unidades cada uma. "Esse produto está em evidência e tem trazido novos clientes para além dos celíacos, que representam 80% dos clientes", diz Bruno Pedra, sócio-proprietário do Empório Veredas.



Veículo: Valor Econômico


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