Região da Campanha cresce e busca selos de procedência

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Formada por 11 municípios localizados no sul do Rio Grande do Sul, próximos à fronteira com o Uruguai, a região da Campanha vive o terceiro e mais importante ciclo de desenvolvimento da sua indústria de vinhos finos e se consolida como o segundo polo nacional do setor, atrás da Serra do nordeste gaúcho e à frente do Vale do São Francisco. Agora, as vinícolas também se preparam para pedir o reconhecimento da Indicação de Procedência (IP) e, em seguida, da Denominação de Origem (DO) dos produtos locais.

Segundo a associação Vinhos da Campanha, 17 vinícolas de diferentes portes, como as pequenas Routhier & Darricarrère e Guatambu e as grandes Miolo e Valduga, produziam na região cerca de 25% dos vinhos finos e de 35% das uvas viníferas do país em 2010. A participação de todo o Rio Grande do Sul na produção brasileira de vinhos finos fica entre 80% e 85%, com 45,7 milhões de litros (incluindo base para espumantes) elaborados em 2013, estima o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

A tendência, entretanto, é que o peso da Campanha nas estatísticas siga em alta, porque conforme o Cadastro Vitícola elaborado pela Embrapa com o apoio do governo gaúcho e do Ibravin, a área plantada com uvas viníferas na região cresceu 77,2% de 2003 a 2012, para quase 1,6 mil hectares, enquanto em todo o Estado as videiras permaneceram estáveis em 6 mil hectares. O presidente da associação, Giovani Peres, calcula que os vinhedos locais já chegam a 2 mil hectares.

"A região tem um potencial enorme graças às melhores condições climáticas e de solo e à disponibilidade de terras mais baratas do que no Vale dos Vinhedos [na Serra Gaúcha]", comenta o diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani. As coxilhas (colinas) do sul do Estado favorecem a mecanização e reduzem custos, mas a oferta de mão de obra especializada é menor do que na Serra, que também dispõe de uma cadeia completa de fornecedores de insumos e equipamentos, ressalva.

O saldo entre prós e contras, porém, tem sido favorável à Campanha. Com amplitude térmica maior, mais insolação e menos umidade graças ao vento constante e ao solo arenoso, a região se destaca na produção de uvas com maior concentração de açúcar e de vinhos tintos com menor acidez, mais "redondos" e "macios" ao paladar.

Os rótulos elaborados no sul do Rio Grande do Sul são vendidos principalmente no mercado interno, em restaurante e lojas especializadas, e conseguem atingir patamares de preço mais competitivos contra os chilenos e argentinos, maiores concorrentes das marcas nacionais. A exceção fica por conta da Miolo, que neste ano prevê exportar 700 mil litros, o equivalente a 933 mil garrafas, de vinhos produzidos na unidade Seival Estate, em Candiota.

Em relação ao Vale do São Francisco, entre Pernambuco e Bahia, a Campanha gaúcha também leva vantagens. Ela não necessita de irrigação como o Nordeste brasileiro, por exemplo, cita o enólogo Fabrício Domingues, da Almadén. Assim como a Seival, a vinícola faz parte do grupo Miolo, que opera nas duas regiões. "Na média, o custo de produção de um quilo de uva é de R$ 1,33 lá e de R$ 1,15 aqui", calcula. Conforme Paviani, do Ibravin, o polo nordestino responde por de 10% a 15% da produção de vinhos finos nacionais e pouco menos de 20% dos espumantes, com foco nos moscatéis.

Peres lembra que a história do vinho na Campanha se iniciou em 1888 com a fundação, por um imigrante espanhol, da vinícola Quinta do Seival, que encerrou operações na década de 1920. Em 1973, a americana National Destillery fundou a Almadén no município de Bagé, e três anos mais tarde a transferiu para Santana do Livramento. Depois a empresa passou pela Seagram, pela Pernod Ricard e desde 2009 é controlada pela Miolo, que em 2000 já havia adquirido a área da Quinta do Seival.

"Não estamos falando de uma região iniciante na viticultura. O terceiro estágio veio para ficar", aposta o presidente da associação. Agora, de acordo com Peres, o plano é entregar em 18 meses ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) a documentação para o reconhecimento da Indicação de Procedência (IP) dos vinhos da Campanha.

A IP e a Denominação de Origem (DO) são dois tipos de indicação geográfica, que atestam as características de um produto em função das especificidades naturais e humanas onde é elaborado. Vinhos e espumantes com essas chancelas ganham valor de mercado. A DO será o próximo passo do processo, pois estabelece critérios mais rígidos de classificação.

Conforme Tauê Hamm, diretor comercial da vinícola Peruzzo, de Bagé, e ex-presidente da associação, a ideia é buscar uma IP mais "abrangente", sem limitação de variedades de uvas, e depois DOs "específicas" para diferentes áreas da Campanha, que cobre uma extensão de 700 quilômetros. Até agora o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, foi a única região vinícola brasileira a receber a DO. Outras quatro (três no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina, esta para vinhos comuns) receberam IP e mais duas, inclusive o Vale do São Francisco, estão com o processo em andamento.



Veículo: Valor Econômico


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