O ministro da Fazenda, Guido Mantega, abriu uma discussão para redefinir a estratégia da Caixa Econômica Federal num contexto em que será cada vez menos provável aportes de recursos do Tesouro Nacional para capitalizar o banco. A principal preocupação é garantir a manutenção dos programas do governo, como o financiamento de habitação e infraestrutura, o que poderá levar à desaceleração nas operações de crédito a grandes empresas. "O que se discute é desacelerar, não parar os financiamentos às empresas", afirma uma fonte com conhecimento do debate.
A discussão envolve vários aspectos, como o pleito para diminuir o pagamento de dividendos da Caixa ao Tesouro, o comportamento dos índices de inadimplência se reduzido o peso dos créditos a grandes corporações na carteira e o papel da Caixa como líder na baixa dos juros e spreads bancários, seguindo determinação da presidente Dilma.
Nos próximos dias, o presidente da Caixa, Jorge Hereda, apresentará a Mantega um mapa da carteira de crédito para pessoas jurídicas nos diversos segmentos. Será discutido, então, quais setores sofrerão corte no financiamento.
A Petrobras, por exemplo, é uma das clientes da Caixa. O banco não revela nomes de seus clientes, mas indica no balanço que o principal tomador de crédito é uma empresa com linha de financiamento de R$ 11,2 bilhões. Os cem maiores clientes da Caixa levantaram R$ 66 bilhões na instituição federal.
Na segunda-feira, em reunião com Hereda, Mantega deixou claro que, na situação fiscal atual, "será muito difícil o Tesouro capitalizar a Caixa" entre 2013 e 2014. No mais recente aporte de recursos, em junho, o Tesouro injetou R$ 8 bilhões no banco.
Hoje, a Caixa tem índice de Basileia de 14,7%, acima dos 11% exigidos pela legislação, o que representa folga de R$ 11,7 bilhões. A discussão no governo é sobre como garantir uma margem de capital para manter a presença do banco nos programas oficiais, como o Minha Casa, Minha Vida e os financiamentos a concessões. Além de desacelerar os empréstimos a setores menos prioritários, como financiamentos a grandes empresas, está em discussão a maior retenção de lucros pelo banco federal para fortalecer sua base de capital próprio.
Uma das ponderações apresentadas por dirigentes do banco federal é que, caso a Caixa empreste menos a grandes empresas, seu índice de inadimplência tenderá a subir. A inadimplência nos empréstimos a grandes empresas é naturalmente mais baixa e, se esse tipo de operação passar a ser menos representativo na carteira do banco, o índice geral tenderá a ficar mais alto.
Se ocorrer, esse será um efeito sobretudo estatístico, que não vai significar a deterioração da carteira de crédito. Mas a Caixa teria de conviver com o fato de que sua taxa de inadimplência ficará maior. Foi encomendado um estudo mais aprofundado para checar como a mudança de estratégia da Caixa, em diferentes cenários, afetará a taxa de inadimplência.
Por Alex Ribeiro | De Brasília
Fonte: Valor Econômico (29.08.2013)