Ganhos indiretos, como vale-refeição, crescem mais nos acordos salariais

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As negociações salariais com data-base neste primeiro semestre têm conseguido, em geral, ganhos reais menores do que os do ano passado, principalmente devido à base elevada de 2012 e à inflação em alta. Com as margens mais apertadas neste ano, as categorias tentam compensar com o que os economistas chamam de salário indireto. A elevação generalizada nos preços dos alimentos e a demanda por mão de obra qualificada em alguns setores têm garantido reajustes de até 25% nos tíquetes-alimentação e ganhos em cláusulas sociais como auxílios para saúde, creche e compra de cesta básica.

 

O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará, Roberto Bentes, informa que os acordos fechados até maio no Estado conseguiram pelo menos recuperar a inflação do período. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses chegou a 7,16%. Em 2012, na mesma comparação, o aumento do indexador era de 4,88%.


Ele dá como exemplo o caso dos rodoviários de Belém, com data-base em maio, que conseguiram aumento salarial de 8% - cerca de 1% de ganho real sobre o INPC acumulado nos 12 meses encerrados em maio, de 6,95% -, de 10% no tíquete-alimentação, mais benefícios com auxílio-clínica e matrícula. "O custo de alimentação no Pará já é um dos maiores do país. Como esse segmento estava até pouco tempo entre os que mais pressionavam a inflação, o reajuste do tíquete tem sido mais fácil de negociar", diz Bentes.


"É mais uma reposição de perdas do que uma compensação pelos ganhos reais menores", avalia Sandro Silva, supervisor técnico do Dieese de Paraná. Na capital do Estado, os servidores do Hospital das Clínicas tiveram reajuste salarial escalonado, de 9% para cargos com remuneração até R$ 2 mil (82% do total) e de 10% no tíquete-alimentação. "Sei de outras categorias que ainda estão negociando e pedindo 15%", afirma. Os gráficos do Paraná conseguiram 7,5% de aumento na remuneração e de 14,3% no auxílio para alimentação.


Os 16 mil servidores da prefeitura de Vitória, no Espírito Santo, conquistaram o direito de receber o tíquete-alimentação, que varia entre R$ 200 e R$ 250, dependendo da carga horária do funcionário. A negociação, porém, continua, afirma Verônica Grillo, presidente do sindicato da categoria, por um reajuste salarial maior do que os 3,01% propostos pela prefeitura.


Nos setores em que a demanda por mão de obra está mais pressionada, os ganhos com benefícios têm sido ainda maiores. Os trabalhadores da construção civil do Rio de Janeiro obtiveram 9% de reajuste salarial e 21,2% no tíquete-alimentação, de acordo com dados do Dieese.


O aumento de 8,99% na remuneração dos trabalhadores da construção civil do interior de São Paulo foi o maior dos últimos cinco anos. Ainda assim, o tíquete-alimentação da categoria, com data-base em maio, subiu 13,3% (para R$ 17), e o vale-supermercado, 33% (para R$ 200). Em 2012, esses reajustes se basearam pela variação do INPC e ficaram entre 6% e 8%.


Haruo Ishikawa, vice-presidente de relações de capital e trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), admite que a inflação dos alimentos pesou no momento de avaliar a proposta de reajuste das cláusulas sociais. Segundo ele, mesmo com resultados financeiros aquém do esperado nos últimos meses, as empresas de construção civil do Estado ainda têm muitos empreendimentos já vendidos e precisam de mão de obra qualificada.


A categoria dos farmacêuticos do Estado de São Paulo obteve 8,5% de reajuste salarial, com ganho real de 1,33%, e entre 20% e 25,6% no auxílio-alimentação. No ano passado, o aumento no benefício ficou entre 6% e 7,5%. "O setor passa por bom momento e há escassez de mão de obra qualificada. O sindicato precisa aproveitar essa fase para garantir melhorias na convenção coletiva", diz Antonio Silvan de Oliveira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Químico (CNTQ).


A Federação dos Metalúrgicos de São Paulo, que representa 14 sindicatos e mais de 200 mil trabalhadores, tem data-base em setembro e ainda não definiu o pedido de reajuste. Seu presidente, Valmir Marques da Silva, afirma, porém, que as cláusulas sociais terão espaço importante e que a federação irá reivindicar a unificação de benefícios como licença-maternidade e qualificação profissional para os seis grupos de negociação.

 

 

Fonte: Valor Econômico (19.06.2013)

 


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