A pressão é para que haja uma redução das taxas de juros do rotativo nos cartões de crédito, que Mantega chamou de 'escorchantes' em entrevista recente ao Estado
BRASÍLIA - O governo acompanha com atenção o debate entre os bancos sobre a possibilidade de eliminar o parcelamento sem cobrança de juros no cartão de crédito. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita que seria um retrocesso muito grande acabar com esse mecanismo. Ele avalia que uma iniciativa dessa natureza pode frear o mercado consumidor acostumado com esta facilidade, prejudicar o varejo e atrapalhar a recuperação da economia.
Como a proposta não tem o apoio da maioria das instituições financeiras, o governo não tem medidas na manga, mas acompanha o debate e poderá intervir para regular o mercado se avaliar necessário. Até o momento, somente Itaú Unibanco propôs cobrar uma taxa extra de lojistas que vendem parcelado, sem a cobrança de juros do consumidor. O Bradesco e as instituições públicas são contrários. O que o governo gostaria de ver, na verdade, é uma redução das taxas de juros do rotativo nos cartões de crédito, que o ministro chamou de "escorchantes" em entrevista recente ao Estado.
A avaliação na equipe econômica é de que a pressão do governo já tem surtido efeito, o que levou o Bradesco a anunciar esta semana um corte nas taxas do crédito rotativo. No início de setembro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram medidas semelhantes, forçando a concorrência privada a seguir o movimento. Em agosto, o Itaú Unibanco já havia criado uma nova modalidade de cartão, na qual o juro máximo caiu à metade. Há uma expectativa de que outros bancos também anunciem redução dos juros no rotativo.
Apesar desse movimento, as taxas permanecem elevadas se comparadas a outras modalidades de financiamento. Na entrevista ao Estado, Mantega mandou um recado às administradoras de cartão de crédito ao afirmar que, se o governo está preocupado com os juros elevados, elas também deveriam estar. Se necessário, o governo poderá agir para regular o mercado e trazer as taxas para patamares mais próximos dos padrões internacionais.
Com a pressão do governo para que as administradoras reduzissem os juros cobrados ao consumidor no rotativo, algumas instituições levaram ao governo que os parcelamentos sem juros acabam provocando a elevação das taxas porque são um risco que é coberto pelas parcelas de quem está no rotativo. A equipe econômica está conversando com os grandes bancos sobre o assunto. A venda parcelada sem juros no cartão foi uma forma encontrada por lojistas para substituir os cheques pré-datados, uma invenção brasileira.
Renata Veríssimo, da Agência Estado
Fonte: Estadão.com.br (27.09.12)