D.O.M tira vinhos nacionais de sua carta

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Nesta quarta-feira pela manhã, a sommelière Gabriela Monteleone, responsável pelos vinhos dos restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, em São Paulo, comunicou a Carlos Paviani, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) que está retirando todos os vinhos brasileiros das cartas das duas casas. Ao todo, são 20 rótulos diferentes. A ação foi definida em conjunto com Alex Atala, o chef brasileiro de maior prestígio internacional. Na avaliação do restaurante, não basta apenas deixar de trabalhar com os vinhos das vinícolas que apóiam a salvaguarda.


"As pessoas não imaginam como é difícil vender vinhos brasileiros. Muitas vezes, fazemos um grande trabalho de convencimento do cliente para ele aceitar um vinho brasileiro", afirma Gabriela. E agora, na avaliação de Gabriela e de Atala, a salvaguarda está colocando a perder todo o trabalho pela imagem do bom vinho fino brasileiro.


No final do dia, foi a vez de Paviani conversar com os membros da Associação Brasileira de Sommeliers em São Paulo (ABS-SP). Antes da reunião, Mario Telles Júnior, diretor da entidade, disse para a Menu que a ideia era mostrar para o Ibravin que a salvaguarda protege a indústria gaúcha do vinho ao mesmo tempo em que prejudica, e muito, o setor de serviços que trabalha com o vinho, inclusive o brasileiro, em todo o Brasil. "Antes da abertura de mercado e da chegada dos diversos rótulos de vinhos importados, o Brasil não contava com o sommelier profissional, não tinha todos os empregos gerados pelas importadoras, os restaurantes não tinham carta de vinhos completas", afirma o diretor da ABS-SP. As cotas para a importação de vinhos - que devem ser implementadas se a salvaguarda for aprovada - devem diminuir o mercado de vinhos, a diversidade de rótulos presentes no mercado brasileiro e, assim, impactar em todo o setor ligado ao vinho, na avaliação da ABS.


Com a reunião na ABS-SP, Paviani e equipe encerram o ciclo de conversas que mantiveram, no Rio de Janeiro e em São Paulo, com chefs, jornalistas e representantes de vinícolas. A ideia da Ibravin foi visitar, entre segunda e quarta-feira, os formadores de opinião para esclarecer sobre a salvaguarda e as razões que levam a entidade, junto com a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), a Federação das Cooperativas do Vinho (Fecovinho) e o Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (Sindivinho) a pedir as proteções ao governo federal.


O principal ponto do Ibravin é mostrar que as medidas da salvaguarda não prevêem o aumento de impostos do vinho importado. "A salvaguarda é uma defesa comercial legítima", afirma Paviani. Pela legislação, a salvaguarda permite dois caminhos - o aumento de impostos para até 55% ou a criação de cotas por países. Como as alíquotas de importação para o vinho chileno foram zeradas, a única medida possível no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) são as cotas. Aqui, a questão é que a cota pode (e deve) trazer um aumento do preço de vinho para o consumidor, resultado da lei da oferta e da procura.


Outra ponderação de Paviani é que o Ibravin não está pedindo aumento de impostos. Segundo ele, na quinta-feira passada, dia 23 de março, uma reunião definiu que, com o início do processo de salvaguarda, não tem cabimento o setor também pleitear a elevação da TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul. Explica-se: por consulta do Ministério da Agricultura, o setor tem até a primeira semana de abril para informar se quer ou não entrar na lista de produtos de exceção do Mercosul, o que significa elevar os impostos de importação para até 55%. "Depois da salvaguarda, este assunto morreu", garante Paviani.


E aqui uma correção - em reportagem sobre o tema na edição de abril da revista Menu (que está em gráfica), está escrito que Paviani apóia também o aumento destas tarifas. Na conversa de ontem, com a reportagem da Menu, ele esclareceu que quando confirmou que o setor tinha recebido a consulta e dito sim, o processo de salvaguarda ainda não tinha sido aceito pelo governo. Com a salvaguarda, este aumento de impostos foi arquivado, segundo ele. E as entidades que representam o vinho não vão protocolar o pedido para que o vinho seja uma das exceções da TEC. A conferir.


Por Suzana Barelli
Fonte: Revistamenu (29.03.12)


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