Governo e caminhoneiros destoam em discurso sobre o resultado de reunião

Leia em 3min 30s

O Ministério dos Transportes e a Secretaria-Geral da Presidência da República divulgaram notas na tarde de hoje (22), depois da reunião com representantes dos caminhoneiros, nas quais explicam que o governo federal atendeu as reivindicações dos caminhoneiros, apesar de um dos pontos – a tabela de frete mínimo, considerado o principal pleito dos trabalhadores – não ter sido atendido.

 

As notas dos dois órgãos enfatizam vários pontos de convergência entre caminhoneiros e governo. Dentre elas a sanção da Lei 13.103/12, conhecida como Lei dos Caminhoneiros, além da isenção de pagamento de pedágio para o eixo suspenso de caminhões vazios e a criação de uma mesa permanente de negociações entre governo, caminhoneiros e embarcadores.

 

Foram colocados, no total, 15 pontos que atendem aos interesses dos caminhoneiros. O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) defendeu que as medidas foram construídas em ambiente de diálogo e respeito. "São conquistas importantes que marcam nova relação entre o governo federal e o setor de transporte de cargas, em especial, os caminhoneiros. Queremos continuar esta construção de agenda positiva a partir de um diálogo permanente”, diz em nota.

 

Na coletiva à imprensa, cerca de uma hora após o fim do encontro, o discurso se manteve. “Estamos seguros de que há um reconhecimento muito grande da categoria [em relação] aos avanços [conquistados]. Acreditamos em amplo apoio da categoria”, disse Rossetto.

 

No entanto, o que se viu na saída da reunião, na sede da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), contrasta com o tom conciliador das notas oficiais. Os trabalhadores saíram do local da reunião fazendo muito barulho e gritando “o Brasil vai parar!”. Do lado de fora da ANTT, fizeram uma pequena assembleia, aprovando a paralisação a partir da zero hora de amanhã (23).

 

Porta-vozes dos caminhoneiros autônomos esperavam que o governo cedesse na questão da tabela de frete mínimo, uma vez que foi irredutível sobre o preço do óleo diesel. Como o governo não cedeu, o tom era de derrota nos diálogos com o governo. “Nós nos sentimos derrotados neste momento. Precisávamos de uma tabela mínima de preço de frete, e não foi isso que o governo deu”, disse Janir Botelho, representante dos caminhoneiros autônomos.

 

Os caminhoneiros consideram que a tabela mínima, impondo um piso no valor do frete, os protegeria contra oscilações do mercado que, segundo eles, costumam repassar uma baixa lucratividade no preço do frete. “No período de safra, o preço do frete é normal. Mas na entressafra, querem reduzir o preço. O problema é que os preços do óleo, da manutenção e dos salários dos motoristas não abaixam”, disse o caminhoneiro Marcos Vieira, de Mato Grosso.

 

Rossetto, no entanto, explicou que a tabela impositiva é inconstitucional, e por isso não pode ser aplicada. No seu lugar, propôs o uso da tabela referencial. Essa tabela seria usada apenas como referência para a negociação do preço do frete, não sendo, portanto, obrigatória sua utilização. “A tabela referencial é um instrumento forte, que viabiliza a atividade econômica. Estamos seguros que uma tabela de custos cria uma base técnica para negociação”, disse o ministro.

 

Caminhoneiros alegam que a tabela referencial não é respeitada e não baliza as negociações de frete. Em resposta, Rossetto disse que o governo tem estimulado os embarcadores a terem uma relação direta com os caminhoneiros, sem a participação de atravessadores. Além disso, a mesa de negociação permanente entre eles e o governo facilitaria as transações comerciais entres as duas partes e o uso da tabela referencial.

 

Agora, o governo aguarda se os caminhoneiros vão mesmo parar, como prometeram na saída da reunião. “Vamos acompanhar”, se limitou a dizer o ministro da  Secretaria-Geral da Presidência da República, confiante de que tem “amplo apoio” da categoria.

 

Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil

 

Edição: Stênio Ribeiro

 

 

 

Fonte: Agência Brasil (22.04.2015)


Veja também

Quem reduzir consumo de energia terá bônus na conta, diz secretário

Bônus será para quem economizar 10% de energia com relação a 2020   O Brasil passa pel...

Veja mais
Confaz prorroga até 31 de dezembro a isenção de ICMS sobre transporte no enfrentamento à pandemia

Convênios prorrogados também amparam empresas, autorizando que os estados não exijam o imposto por d...

Veja mais
Mapa estabelece critérios de destinação do leite fora dos padrões

PORTARIA Nº 392, DE 9 DE SETEMBRO DE 2021   Estabelece os critérios de destinação do le...

Veja mais
Empresa não deve indenizar por oferecer descontos apenas a novos clientes

Não há vedação legal para que fornecedores de serviços ofereçam descontos apen...

Veja mais
Justiça do Trabalho é incompetente para execução das contribuições sociais destinadas a terceiros

A 9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT/RJ), ao julgar um agravo de petiç&...

Veja mais
Corte Especial reafirma possibilidade de uso do agravo de instrumento contra decisão sobre competência

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu embargos de divergência e reafirmou o entend...

Veja mais
Partidos questionam MP sobre remoção de conteúdo das redes sociais

Seis legendas buscam no STF a suspensão dos efeitos da norma assinada pelo chefe do Executivo federal.   O...

Veja mais
Consumo das famílias cresce 4,84% em julho, diz ABRAS

Cebola, batata e arroz foram os produtos com maiores quedas no período   O consumo das famílias bra...

Veja mais
Lei que prorroga tributos municipais na epidemia é constitucional, diz TJ-SP

Inexiste reserva de iniciativa de projetos de lei versando sobre matéria tributária, a teor do dispos...

Veja mais