Economia permanente de água afetará todas as áreas de São Paulo

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Segundo a Sabesp, 'não há planos nem motivos' para interromper redução da pressão na rede

Governo afirma que não há racionamento, mas moradores de todas as regiões relatam falta de água durante as noites

 

 

 


Todas as regiões da cidade de São Paulo serão afetadas com a decisão do governo do Estado de tornar permanente a estratégia de reduzir a pressão na rede distribuidora de água durante as noites.
Essa medida é a principal hipótese para a constante falta de água nas residências da cidade e do restante da região metropolitana da capital.


Mas, segundo a Sabesp (estatal do governo paulista), isso não representa um racionamento, e sim uma medida que traz uma "economia fabulosa" de água ao evitar o seu desperdício --quanto maior a pressão, maior a perda de água ao longo da rede.
No último domingo, em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, o gerente de produção da Sabesp, Marco Antônio Lopez de Barros, afirmou que a empresa "nunca mais" abandonará a prática de reduzir a pressão da água.


A companhia admite que pessoas que moram em áreas muito altas ou distantes podem ser atingidas. Pelas contas da Sabesp, o percentual de afetados não passa de 2% da Grande São Paulo, o equivalente a 400 mil pessoas.
Pesquisa Datafolha do mês passado, no entanto, revelou que 60% dos paulistanos disseram ter sofrido com a falta de água ao menos uma vez num intervalo de 30 dias.


Moradora do Itaim Paulista (zona leste), a autônoma Débora dos Santos, 26, conta que todos os dias a água acaba às 17h e só volta de manhã. Depois, é preciso lidar com um fluxo mais baixo. "Você abre a torneira, e a água vem pulsando, meio engasgando. Depois, sai fraquinha."
Quem não tem caixa de água vive situação ainda pior. "Preciso tomar banho antes das quatro da tarde. Depois, só com a ajuda da canequinha", diz a dona de casa Doroti de Almeida, 65, vizinha de Débora no Itaim Paulista.


Na Vila Brasilândia, zona norte paulistana, Carlos Menezes, 23, funcionário de uma loja de paisagismo, relata o mesmo tipo de problema.
Dois condomínios da região deixaram de contratar os serviços de jardinagem. Ele diz que, se a pressão continuar baixa, não sabe o que vai fazer. "Se não tiver água, ninguém trabalha", afirma.
Essa diminuição da pressão, apesar de ser uma prática comum em outras cidades do mundo, precisa ser bem planejada, para não deixar a população sem água, diz Pedro Cortes, professor da USP e do Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Nove de Julho.


A Sabesp sustenta que a população deve ter caixa de água suficiente para o abastecimento 24 horas.
"Mesmo que as pessoas utilizem reservatórios adicionais, o problema é que não há água disponível para atender a todos da mesma maneira que ocorria antes da crise", diz o professor da USP.
"Uma pessoa pode até comprar um reservatório adicional, mas talvez não receba água suficiente".


Outra consequência, segundo ele, pode ser a contaminação da rede. "A água do subsolo poderá infiltrar na tubulação pelas falhas responsáveis pelos vazamentos."
A Sabesp negou pedido de entrevista feito pela Folha sobre a redução de pressão. Em nota, afirmou que a medida é adotada desde 2007. "Não há planos nem motivos para interromper essa dinâmica, já que ela reduz o desperdício", afirma a Sabesp.


Desde o início da crise da água deste ano, quando a empresa intensificou a medida ao diminuir a pressão em até 75%, aumentaram as queixas de desabastecimento.
Artur Rodrigues e Eduardo Geraque de São Paulo


Colaboraram Carolina Dantas e Júlia Barbon

 



Fonte: Folha de São Paulo (12.11.2014)


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