Especialistas do varejo apostam em descontos para driblar a crise

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Menos dinheiro no bolso, porém, mais poder para negociar. Ao mesmo tempo em que os consumidores se assustam com os preços altos dos produtos, há quem está se espantando diante de valores bem abaixo da média que passaram a ser oferecidos pelo comércio. Isso porque, no desespero de não ficar no prejuízo e convencer o cliente a gastar em plena a retração econômica, são muitos os lojistas que passaram a “jogar pesado”. São smartphones mais em conta, roupas com descontos de até 70%, aluguéis negociáveis, academias de ginástica mais acessíveis e até carros com descontos de até R$ 8 mil.

“Em uma crise econômica, diminui-se a demanda e aumenta a oferta. Por isso, há oportunidades para quem sabe aproveitá-las”, comenta o especialista em finanças e professor da Fumec, Leonardo Teixeira. Segundo ele, uma vez que o poder de consumo das famílias brasileiras está menor, aumentou o pé no freio para as compras e, com isso, vieram os prejuízos para quem está do outro lado do balcão. Para se ter ideia, até mesmo a alimentação fora de casa, que vem pesando no orçamento familiar e ficou cerca de 10% mais cara, passou a mudar. “Recebia cerca de 400 pessoas por dia no meu restaurante. Com a crise, apenas 70 passaram a vir. Uma queda expressiva”, destaca o comerciante Rogério Rosas.

Diante da falta de cliente e sem perspectivas de melhoras para o seu negócio, ele virou a mesa. Em junho, reduziu o valor do quilo no self service do restaurante, que fica na Região Centro-Sul, passando de R$ 38,90 para R$ 26,99. A redução passou de 30%. “Desde 2014, estava com prejuízos que somavam R$ 300 mil. Eu tinha que dar um jeito nisso. Então, abaixei o preço e comecei a atrair mais clientes e estou ganhando no volume. Além disso, criei o prato executivo, que custa R$ 12,90”, explica. A redução atraiu a estudante Luiza Neves, de 23 anos, que, com a crise, está procurando bons preços. “Quando vi a placa e o valor do quilo, vim e almocei. Nunca tinha entrado no restaurante. Foi o custo que me atraiu”, comentou, mostrando que pagou R$ 8 em um almoço. “Se fosse em outro restaurante na região, ficaria fica bem mais caro”, compara.


Até meados da semana passada, um Honda Civic SI, linha esportiva da marca, estava com R$ 5 mil de bônus ao cliente. No fim de semana, passou para R$ 8 mil de desconto na concessionária Honda Banzai. O automóvel custa R$ 124 mil. Com a oferta, passou a ser vendido a R$ 116 mil. “Estamos girando o estoque. Com a crise, houve uma redução de produção nas fábricas. A indústria vem sendo impactada pelo cenário econômico e, com isso, surgem as oportunidades de negócios para os clientes”, comenta o gerente da Honda Banzai, Carlos Henrique, acrescentando que não é só para esse automóvel que há promoções. “No Civic Exclusive 2015/2015, estamos oferecendo o kit completo para o carro, que inclui, até mesmo TV Digital, sensores de ré, sem acréscimo no valor do veículo. Ou seja, o cliente paga R$ 79,4 mil e ganha o kit, que custaria em torno de R$ 4 mil a mais”, diz.

O empresário Paulo Roberto de Avelar levou um Honda City com desconto de R$ 2 mil. “Morei 31 anos nos Estados Unidos e sei que, no Brasil, os carros são mais caros. Mas, neste momento, você está podendo negociar”, afirma. O poder de barganha também está nos aluguéis dos automóveis.

A Localiza, por exemplo, oferece aos clientes pacotes de aluguel, conhecidos como combos, que dão direito ao consumidor alugar um veículo por três, sete, 15 ou 30 dias. “Nos valores já estão incluídos os seguros (do carro e terceiros), taxas, diárias e ainda um condutor adicional como bônus – fora da promoção custaria R$ 7 por dia. Além disso, o cliente tem outro benefício: pagamento em 10 vezes sem juros”, comenta o gerente de marketing da Localiza, Herbert Viana. Segundo ele, o aluguel por três dias de um carro do Grupo C (veículo econômico, com ar-condicionado e direção hidráulica) sai por 10 vezes de R$ 35 com tudo incluído. O aluguel por 30 dias de um carro do Grupo C fica a partir de R$ 1.900 (também em 10 vezes sem juros). “A nossa expectativa é aumentar entre 12% e 15% os negócios do período das férias em comparação com o ano passado. O retorno já tem sido bastante positivo”, afirma.

PELAS RUAS Basta uma caminhada pelo Centro de Belo Horizonte ou pelos bairros da capital para observar as diversas promoções de roupas, calçados e até de material escolar. No Bairro Floresta, na Região Leste, muitas são as lojas que anunciam descontos de 30% a 40%. Na Q Linda, por exemplo, blusas que custavam R$ 59,90 passaram a ser vendidas por R$ 10. Segundo uma das responsáveis pelo local, Maria Aparecida Mendes da Silva, este ano está muito ruim para as vendas, tanto que estão há seis meses tentando passar o ponto, sem sucesso. “Então, abaixamos os preços de tudo. Vestidos que eram R$ 100, agora custam R$ 49,90”, diz Maria.

A consumidora Vânia Moraes entrou na loja quando viu os valores na vitrine. “Tudo aumentou no país. Meu condomínio que era R$ 200 agora é R$ 405. Por isso, hoje, não estou buscando preços baixos, mas se encontro algo que vale a pena conseguem me fazer comprar”, afirma, escolhendo os vestidos que eram oferecidos por R$ 29,90. Na mesma região, estabelecimentos anunciam 40% de desconto em material escolar e academias oferecem mensalidade mais baratas, entre R$ 49,90 e R$ 69,90.

No início deste mês, uma pesquisa da IDC, consultoria especializada em tecnologia e que acompanha o mercado, mostrou que a venda de smartphones no Brasil caiu 1% em abril e despencou 16% em maio. Segundo a empresa foi a primeira vez que a comercialização dos chamados celulares inteligentes recuou no Brasil. Em abril, as vendas foram de 4,86 milhões de aparelhos. Já em maio, o volume foi ainda menor: 3,89 milhões de unidades. A expectativa da consultoria é que o trimestre feche com queda de 12%. Diante do cenário, algumas marcas têm oferecido promoções. É o caso da Samsung, que lançou oferta que prevê descontos de R$ 50 a R$ 400 em aparelhos.



Veículo: Estado de Minas


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