Ipea prevê recuperação econômica gradativa a partir de 2020

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A economia brasileira deve crescer só 0,8% – uma queda brusca da previsão anterior de 2% – mas a retomada deve ser gradativa a partir do próximo ano. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados nesta quinta-feira (27) como parte de um estudo. A retomada, todavia, só será possível mediante a aprovação da reforma da Previdência, pondera o instituto.

 

Segundo o presidente do órgão, Carlos Von Doellinger, a reforma previdenciária terá como principal impacto os investimentos, com retomada da confiança no mercado brasileiro. “Podemos vislumbrar, possivelmente para 2020, uma gradativa recuperação da economia”, afirmou ele durante apresentação do estudo.

 

Doellinger destacou, porém, outra projeção otimista não inserida no levantamento: uma guinada da indústria extrativa ainda neste ano, “que pode dar um ânimo adicional [na economia como um todo] ainda no segundo semestre”.

 

“Me refiro principalmente aos resultados que vão ser colhidos, por exemplo, no setor de energia. A Petrobras conseguiu liberar a venda da TAG, o que vai injetar recursos importantes no seu negócio. Além disso, como a cessão onerosa e a ativação do pré-sal, creio que vamos ter boas notícias na indústria extrativa que vão dar um impulso importante na economia”, disse o presidente do instituto.

 

Ele enfatizou ainda que o Rio de Janeiro será o mais beneficiado, “deixando para trás essa urucubaca” que o estado vem enfrentando. “O Rio vai voltar a viver um ciclo favorável, porque os investimentos [em óleo e gás] estarão concentrados aqui”, disse.

 

Desempenho frustrante

 

Na última carta de conjuntura divulgada pelo Ipea em março, o órgão projetava uma alta de 2% do PIB em 2019. A redução desta expectativa em 1,2 pontos percentuais se deve, segundo o diretor de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas do instituto, José Ronaldo de Castro, ao desempenho frustrante dos diversos setores nos primeiros cinco meses do ano.

 

“Em relação ao que se esperava no início do ano, os indicadores recentes frustraram. Realmente vieram abaixo do que a gente esperava e isso causou uma redução bastante grande da nossa projeção para 2019, explicou Castro.

 

O economista reiterou que “a melhora desse quadro econômico vai depender da aprovação de reformas”, sobretudo a da previdência. Segundo ele, se ela não ocorrer, a projeção de alta de 2,5% da economia para o ano que vem “não se concretiza”.

 

"Se não houver a aprovação, claramente a gente tenderia a uma nova crise econômica, porque tornaria insustentável o crescimento da dívida pública", apontou Castro.

 

“Quanto mais rapidamente ocorrer essa reforma e essa sinalização de viabilidade do setor público brasileiro, mais rapidamente a gente vai conseguir reverter as expectativas e iniciar uma retomada mais intensa”, enfatizou José de Castro.

 

Para ele, o efeito da aprovação da medida seria imediato sobre a confiança dos investidores, o que “refletiria em investimentos no setor produtivo, alavancando a geração de empregos e, consequentemente, o poder de consumo dos brasileiros”.

 

Mudanças propostas pela Câmara geram impacto menor

 

O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, José Ronaldo de Castro, minimizou as alterações feitas sobre o texto original da proposta da reforma previdenciária realizada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Ele ponderou que, embora menor, ela vai promover alívio nas contas públicas.

 

“Reduziram o tamanho da economia gerada com a reforma da previdência, mas, ainda assim, viabiliza a melhora do quadro fiscal no Brasil, só que diminuiu o espaço, por exemplo, para uma eventual alta de investimentos, que está comprimida”, ponderou.

 

Extinção do abono salarial

 

Das mudanças propostas pela Comissão Especial, Castro criticou duramente a que altera as regras para acesso ao abono salarial do PIS/Pasep, benefício que deveria ser totalmente extinto, segundo ele.

 

Na proposta inicial do governo, passaria a receber o abono somente quem ganha até um salário mínimo. Os parlamentares decidiram aumentar um pouco este corte de acesso, elevando-o para de R$ 1.364, o que equivale a aproximadamente 1,4 salário mínimo atual. Com essa mudança, segundo o economista, o impacto econômico seria cerca de R$ 70 bilhões menor.

 

Castro apontou que, com a regra de um salário mínimo, em dez anos o governo economizaria R$ 164,1 bilhões. Já com o aumento para 1,4 salário mínimo, essa economia cai para R$ 96,1 bilhões na década.

 

“O abono do PIS tem potencial de gerar uma economia imediata. Além disso, ele é uma política social mal localizada”, afirmou ao defender a extinção do benefício.

 

Pelas regras atuais, tem direito a receber o abono salarial o trabalhador que tem ao menos cinco anos de cadastro no PIS e que tenha trabalhado pelo menos 30 dias com carteira assinada recebendo no máximo dois salários mínimos. Segundo o diretor do Ipea, o pagamento beneficia mais quem ganha próximo dos dois salários e, assim, não cumpre seu papel social.

 

“Em relação ao abono salarial, se o objetivo dele é reduzir pobreza e distribuir renda, ele não atende bem esse objetivo. Então, para atingir esses objetivos o ideal seriam outras políticas públicas que não o abono salarial. Então, olhando do ponto de vista de redução de desigualdade e pobreza, o ideal seria, de fato, eliminar o abono totalmente”, defendeu.

 

Fonte: G1 – Economia

 


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