Indústria brasileira de vinho vê espaço para ampliar vendas

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São Paulo - A indústria brasileira de vinhos quer ganhar espaço no mercado interno, apesar da fraqueza econômica do País. Fabricantes estão apostando no aprimoramento de processos produtivos e no aumento da safra de uva em 2017.

"A aceitação dos vinhos nacionais está maior, com o aumento do contato do brasileiro com os produtos. Depois que o cliente experimenta o vinho, ele gosta e volta a comprar", avalia o sommelier da Red Buteco de Vinhos, Igor Colleta. A empresa representa fabricantes nacionais como a Casa Verrone.

 

A expectativa da Colleta é ampliar em até 35% o volume de vendas de vinhos neste ano, com o ingresso em um novo canal de vendas: a distribuição para restaurantes. "A dificuldade dos fabricantes da região Sul do País hoje é a logística para chegar aos restaurantes, então queremos fazer essa ponte e levar esses rótulos ao consumidor final, por meio do restaurante."

 

O gerente comercial da vinícola Dom Cândido, Alvaro Dias, também vê oportunidade para os rótulos nacionais ganharem espaço no País este ano. "O mercado estava muito ruim no ano passado, mas agora o vinho brasileiro está no auge. No entanto, ainda é preciso combater o preconceito e a falta de conhecimento em relação ao que produzimos localmente", destaca. A vinícola produz cerca de 280 mil litros de vinho por ano.

 

Apesar da expectativa, a comercialização de vinhos e espumantes nacionais recuou 14% nos quatro primeiros meses deste ano em comparação ao mesmo período de 2016, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). No entanto, de acordo com a entidade, a retração perdeu ritmo a partir de abril.

 

"O primeiro trimestre não foi tão bom, pois ainda estávamos sob o impacto do ano passado. Mas maio, junho e julho já estão muito melhores", acrescenta o diretor comercial da Salton, Cleber Sleifer. "A chegada do frio deve ser um fator positivo para as vendas mesmo que as notícias econômicas continuem ruins", acredita o executivo.

 

Já o enólogo da Dunamis, Vinicius Cercato, espera que a melhora gradual da economia ajude a impulsionar a demanda pela bebida, mas ele ainda tem difícil projetar o desempenho das vendas este ano.

"Estamos buscando parceiros para levar os nossos produtos a estados nos quais ainda não estamos", comenta. A Dunamis produz de 80 mil a 100 mil garrafas de vinho por ano.

 

Segundo ele, as últimas três safras foram boas para a Dunamis, o que favoreceu a qualidade do produto. "Vínhamos ajustando a safra e a fabricação, e tivemos nosso vinho eleito como um dos melhores no País em 2015 e 2016", conta Cercato.


Concorrência

A Salton também conta com a expansão das vendas, mas puxada por um aumento do mercado e não pela retração dos importados. "Acredito que a oportunidade que temos é no estímulo ao consumo no mercado interno", afirma Sleifer. "Nossa briga não é contra os vinhos chilenos ou argentinos, mas para quebrar o preconceito dos brasileiros com o vinho nacional", diz o diretor da Salton.

 

Com a valorização do dólar sobre o real desde 2016, os importados perderam parte do apelo devido ao aumento dos preços, o que favorece os rótulos brasileiros, que respondem por 30% das vendas.

"[Porém,] além da crise econômica, que hoje inibe um pouco o consumo, o aumento dos impostos dos vinhos e outras mudanças na tributação elevam ainda mais os preços do produto brasileiro", explica o sócio-gerente da vinícola Batalha, Giovâni Peres.

 

Para tentar conquistar até os consumidores de menor poder aquisitivo, a Batalha lançou neste ano uma linha de vinhos de entrada, com preço em torno de R$ 45 por garrafa.

"A tendência no primeiro semestre foi de manter as vendas em linha com o ano passado, mas, agora, apostamos nesse lançamento da linha de entrada e no relançamento de um vinho que estava há um ano fora do mercado e já recebeu prêmios."

 

As premiações aos rótulos em concursos, comenta Peres, ainda são importantes no estímulo à demanda. "O brasileiro segue muito essa indicação para saber quais produtos estão tendo reconhecimento", revela ele.

O executivo da vinícola Batalha espera ampliar em pelo menos 10% o volume de vendas neste ano, incluindo os espumantes. Ao todo, a Batalha produziu 40 mil garrafas este ano e deve comercializar 25 mil, fabricadas em anos anteriores.

 

Safra recorde

Não é apenas a possibilidade de venda que deixa as indústrias do setor otimistas. Depois perder 57% da safra em 2016, os produtores de uva do Rio Grande do Sul, colheram uma safra recorde de 750,6 milhões de quilos em 2017. O volume é 5,8% maior que o recorde anterior, registrado em 2011, quando a colheita no País atingiu 709,6 milhões de quilos.

 

"Com esse aumento da oferta estamos colocando a casa em ordem e já alcançamos um nível de produção tranquilo", afirma Sleifer, da Salton. Isso significa em torno de 20 milhões de garrafas. "Mesmo que a safra ainda não tenha sido suficiente para suprir as necessidades de todas as uvas, especialmente d as de mesa e as para vinho branco."

 

O setor deve iniciar o ano de 2018 com 281,3 milhões de litros de bebida em estoque de passagem, alta de 20% o registrados em 1º de janeiro deste ano, segundo o Ibravin.

 


Fonte: DCI São Paulo

 


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