Falta de rapidez para entender a crise deixa setor têxtil longe da recuperação

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Para recuperar o tempo perdido, empresas de todos os portes reduzem custos fixos e fecham lojas pouco rentáveis; na retomada, prevista para 2018, devem ficar só as redes mais estruturadas


 
São Paulo - A falta de agilidade das varejistas de moda de entenderem e se adaptarem à crise formou um cenário desafiador para o setor têxtil. Com retomada prevista só para 2018, empresas de todos os portes correm para adequar estoques, diminuir a dependência de um único público e cortar custos para passar a recessão sem falir.


 
Os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, dão um bom panorama da situação. Em abril deste ano o setor de tecidos, vestuário e calçados viu recuo de 8,8% no volume de vendas, sobre um ano antes. Esse cenário de retração não é novidade e já vem pelo menos desde o começo do ano passado (veja no gráfico).
 
Neste contexto, a solução encontrada pelas grandes varejistas do setor parece ser unânime. "O tom delas é muito parecido: se a receita não ajuda, vamos pelos custos", afirma o analista de investimentos da Quantitas, Vinicius Piccinini. De acordo com ele, as grandes empresas têm tentado responder a crise de forma parecida: demitindo, adequando as lojas à realidade, e fechando as com baixo desempenho.
 
Para o professor do núcleo de estudos de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Roberto Nascimento, uma das principais dificuldades dessas empresas é na gestão do estoque. "Com a crise é preciso ajustar os estoques a essa nova demanda. E muitas empresas falharam nisso", diz.
 
O consultor da Rizzo Franchising, Marcus Rizzo, concorda e acrescenta que outro problema é a falta de posicionamento das companhias. "Isso gera sobras enormes, o que faz com que coloquem produtos em liquidação de maneira predatória. Esse erro no estoque é fomentado por um mal direcionamento de algumas delas, querendo atender a todos os públicos".
 
Acertos
 
Apesar de o diagnóstico ser similar para todas, os resultados variam e algumas tem se saído consideravelmente melhor do que outras. "A crise bate para todas, mas para algumas é mais branda. Há um varejo menos preparado e um mais preparado", diz Piccinini, da Quantitas - citando a varejista Renner como exemplo de operação saudável. Para ele, das companhias de capital aberto do setor, ela é a que tem apresentado os melhores resultados financeiros.
 
Com crescimento constante na receita líquida desde o começo de 2014, a varejista recentemente anunciou que deve levar a operação para o Uruguai, com a abertura de duas unidades no país. "O Uruguai tem um mercado muito parecido com o do Rio Grande do Sul, onde a rede nasceu e já sabe operar. Acho que foi um movimento correto", diz Piccinini.
 
No primeiro trimestre deste ano a varejista viu expansão de 6,5% na receita líquida. Em todos os trimestres do ano passado e de 2014 a rede apresentou avanço constante nesse item, e sempre de dois dígitos.
 
Erros
 
O caso da Renner, no entanto, não reflete a realidade do setor. A maioria das empresas está em situação difícil e um exemplo são as negociações entre o grupo Restoque - detentor da Le Lis Blanc, Rosa Chá e Dudalina - e da Inbrands, que controla as marcas Ellus, Richard e VR. Após apresentarem queda na receita e prejuízo no primeiro trimestre deste ano, elas anunciaram a possibilidade de fundir operações. O objetivo seria ganhar sinergia, e reduzir custos.
 
Outra varejista que tem sentido mais a crise é a Cia. Hering. Segundo Piccinini, durante os últimos treze trimestres, a empresa apresentou queda nas vendas no conceito 'mesmas lojas' - que considera só as unidades abertas há mais de 12 meses. No primeiro trimestre deste ano, a empresa teve recuo de 29,5% no lucro líquido e fechou oito operações. A Marisa teve resultados ainda piores, apresentando um prejuízo de R$ 17,2 milhões de janeiro a março. O valor mais do que triplicou em comparação com os R$ 5,3 milhões de prejuízo que ela teve no primeiro trimestre de 2015. Procuradas, as empresas preferiram não se pronunciar.
 
O que fazer?
 
O supervisor de lojas da Side Walk, Felipe Azambuja, tem sentido na pele essas dificuldades e afirma que, com a crise, houve mudança no comportamento do consumidor. "Os clientes não deixaram de comprar, mas estão consumindo em menos quantidade", diz.
 
Além da redução de custos e do ajuste dos estoques citadas pelos consultores outra alternativa é a adaptação dos produtos. A varejista de moda infantil Marisol, diz ter lançado uma nova linha com preços menores. "Fizemos uma revisão do portfólio e lançamos uma nova linha, com produtos com um preço mais acessível", diz o diretor corporativo de varejo da companhia, Luis Delfim. Ele também cita a simplificação de processos produtivos e redução no número de linhas de marca.
 
As diversas ações adotadas pelas empresas, no entanto, não devem ser suficientes para uma retomada no curto prazo. De acordo com Nascimento, da ESPM, o setor só deve sentir uma recuperação forte no final de 2017. "E até lá, algumas empresas não devem resistir. Serão anos de 'peneira', só vão ficar os bons", previu.

Veículo: DCI


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