Varejo tenta reagir à crise de confiança dos consumidores

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                                  Para grandes varejistas, a apatia dos clientes está travando mais as vendas do que o crédito escasso




A falta de confiança do consumidor está gerando efeitos mais negativos ao desempenho do varejo do que a trava no crédito. "O consumo não acabou, o que acabou foi a confiança do consumidor", afirmou ontem a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) e do Magazine Luiza, a 3ª maior varejista do eletroeletrônicos e móveis do País.

Luiza Helena e a nata dos varejistas brasileiros participaram, ontem, em São Paulo, do 1º Latam Retail Show, realizado pelo Grupo GS&, que quer reproduzir no País o mesmo formato do maior evento do varejo dos Estados Unidos, a NRF. Os empresários mostraram como estão tentando virar o jogo do desânimo nas vendas.

No Magazine Luiza, por exemplo, todos os funcionários da empresa assumiram o papel de vendedores. "Se não vender, vamos ter de demitir gente", disse a presidente da rede. Além disso, ela contou que reduziu em 30% os custos de expansão. "Temos de fazer mais com menos." Neste ano, a rede varejista vai abrir 30 lojas, um número maior do que o do ano passado, porque a empresa comprou 15 pontos de venda. Essas aquisições foram resultado de uma determinação do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) após a fusão da Casas Bahia com o Ponto Frio.

Marcílio Pousada, presidente da Raia Drogasil disse que o maior varejista do mercado hoje é o "aluga-se". Ele se referiu à grande quantidade de placas de imóveis vagos para locação. Essa maior facilidade para encontrar pontos de venda por um preço menor do que no passado recente vai facilitar, segundo o executivo, os planos da companhia de abrir 130 lojas este ano, além de um centro de distribuição em Recife (PE).

O presidente do Walmart Brasil, Guilherme Loureiro, disse que os supermercados têm sofrido com a queda de vendas em volume e redução do número de visitas dos consumidores às lojas. "Uma coisa que vemos é que o salário do trabalhador não dura todo o mês, portanto temos visto uma concentração das vendas nos primeiros dias do mês." Esse comportamento tem sido negativo para as vendas no formato tradicional de hipermercados.

Crédito. Marcos Gouvêa de Souza, diretor geral da GS&MD, disse que o crédito está mais complicado por causa do aumento da taxa de juros e do maior rigor na concessão. Mas ele observou que se for eliminado o crédito imobiliário, hoje as famílias brasileiras estão menos endividadas em relação há um ano. Isso abriria, na sua avaliação, uma perspectiva para o varejo. Ele destacou, no entanto, que a falta de confiança do consumidor tem sido predominante. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o Índice de Confiança do Consumidor recuou em julho para o menor patamar da série histórica e caiu 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

"A reversão dessa queda na confiança só vai acontecer quando se criarem fatos novos ou quando forem concluídas algumas coisas que estão acontecendo no País", disse Gouvêa.

Luiza Helena concordou com Gouvêa em relação ao peso da falta de confiança atrapalhando os negócios do varejo. Mas ela lembrou também que o crédito está travado, especialmente para as pequenas e médias empresas. Segundo Luiza Helena, existem recursos no Banco do Brasil e na Caixa, mas eles não estão chegando aos lojistas. Ela admitiu que uma parte da falta de fluidez no crédito é de responsabilidade das entidades do próprio varejo que deveriam mostrar os caminhos para desobstruir o fluxo, a fim de que os recursos circulassem.

Na Guararapes, controladora da Lojas Riachuelo, por exemplo, a necessidade de melhorar o investimento em capital de giro fez a empresa ajustar seu negócio de crédito ao consumidor. Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, afirmou que a rede vinha num ritmo acelerado de conversão dos cartões de crédito próprios para os "bandeirados". "Apesar dessa transição ser uma operação financeira rentável, é demandante de capital, então reduzimos esse ritmo de conversão visando preservar o caixa."

Na Telhanorte, revenda de materiais de construção, dois terços das vendas são financiadas, contou o presidente da empresa, Manoel Corrêa. Para preservar o caixa, a empresa adequou os prazos nas vendas sem juros e manteve o plano mais longo, de 24 prestações, mas com juros. "Essa equação é fundamental para a gestão de caixa."

 

Veículo: Jornal O Estado de S.Paulo


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