Ceasa aumenta faturamento no primeiro semestre

Leia em 7min

                                                                    Ajustes no dólar, na energia e no combustível, encarece os produtos.

Somente no primeiro semestre deste ano, mais de 143,2 mil toneladas de alimentos foram comercializadas nas Centrais de Abastecimento do Pará (Ceasa-PA). Este montante praticamente empata com os números do mesmo período do ano passado, quando foram comercializadas 143,4 mil toneladas. As transações envolvendo os produtos do campo movimentaram, somente de janeiro a junho deste ano, R$ 336 milhões, aumento de 12,37% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram negociados R$ 299 milhões. Praticamente metade do volume vendido durante o primeiro semestre na Ceasa-PA (49,32%), ou seja, 70 mil toneladas, foi em frutas.   

Do volume total comercializado, 76,39% dos produtos teve como procedência outros estados do Brasil, 22,47% oriundos de municípios paraenses, e 1,14% de outros países. A localidade que teve maior participação percentual da oferta de produtos na Ceasa-PA foi o Pará, seguido da Bahia, Pernambuco, São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul. Se comparado com o mesmo período do ano anterior, o estado que apresentou maior variação positiva no preço dos produtos foi o Espírito Santo (137,95%), devido ao aumento expressivo na oferta de repolho; e o Distrito Federal apresentou a variação negativa mais expressiva no período com relação à oferta (-39,21%).

De acordo com a pesquisa, o maior ofertante de frutas também foi o Pará, revelando a fruticultura como um forte potencial econômico. A análise mostra que houve variação positiva de 0,14% no volume de produtos comercializados procedentes do Pará. Para o diretor técnico da Ceasa-PA, Rosivaldo Batista, um dos desafios do estado é ampliar a oferta de produtos, a partir de pesquisas técnicas no campo. Ele diz ainda que a Ceasa tem a função de vender no atacado, ou seja, o consumidor final não é o público-alvo da empresa de companhia mista. Ainda assim, ele destaca que aos sábados o mercado ganha características voltadas para o consumidor, a partir do projeto Varejão. “Neste dia, os alimentos ficam mais baratos, podendo ocasionar em uma economia de até 30%”, calcula.

Municípios

O município com a mais alta participação percentual com relação à oferta de produtos paraenses comercializados na Ceasa foi Capitão Poço (37,88%) com a produção e comercialização, principalmente, de laranja pêra e limão thaiti. Em seguida aparece Santo Antônio do Tauá (11,63%), com banana mysore, limão thaiti, maracujá, alface, coentro, jambu, pepino e macaxeira; Santa Izabel do Pará (8,52%), com a produção e comercialização de mamão havaí, macaxeira e ovo de galinha; e Igarapé-Açu (6,88%), com mamão havaí e maracujá. Os municípios de Salvaterra, Castanhal, Maracanã, Canaã dos Carajás e Curuçá também aparecem com porcentagens significativas no que tange à oferta de produtos na central de abastecimento.

Dos produtos analisados, a banana prata foi a mais comercializada no primeiro semestre deste ano, com mais de 18 mil toneladas. O menor índice ficou com a comercialização da alface crespa. O Pará foi o maior ofertante de abacaxi, laranja, limão, mamão, maracujá, alface, caruru, coentro (cheiro verde), chicória e macaxeira. O estudo ainda divide a participação percentual na oferta de produtos por região de integração. A análise mostra que das 12 regiões, 88,16% dos produtos comercializados na Ceasa nos primeiros seis meses deste ano foram procedentes das Regiões Guamá (45,70%) e Rio Capim (42,46%), ambas localizadas no nordeste paraense.

Ajustes no dólar, na energia e no combustível, encarece os produtos

O dólar e a elevação dos preços controlados, sobretudo no caso da energia elétrica e dos combustíveis, refletiram no custo de comercialização dos produtos na Ceasa. Pelo menos é o que afirma a comerciante Meire Pinto, de 45 anos, ao calcular que a diferença de preços entre a maçã argentina e a nacional pode chegar a 40% em agosto. “A pera importada também registrou aumento considerável, assim como a uva. Acredito que esta elevação aconteceu em função da alta do dólar. Na avaliação da comerciante, para reduzir os preços será necessário ampliar a produção em território brasileiro, e, principalmente no estado. “As vendas caíram muito. Somente na primeira quinzena deste mês sentimos uma retração de aproximadamente 30% na receita nominal. Só nos resta esperar que as coisas melhorem”, acrescenta.

A retração na comercialização de hortaliças também foi acentuada, segundo aponta o comerciante Armando Morikawa, de 48 anos. “A queda foi grande no consumo, e a margem de lucro, que já era baixa, reduziu mais ainda”, relata. Ele destaca também que a produção no campo vem sofrendo com a seca. “Estão racionando água e, por conseqüência, tem faltado horti no mercado. Com isso, os preços se elevam, e o consumidor muda seu hábito”, assevera. Morikawa diz que, com a baixa demanda pelos produtos, em virtude da elevação dos custos, e, por se tratar de perecíveis, para não ter prejuízos, os comerciantes estão sendo obrigados a queimar estoque. “Quando percebemos que esses alimentos estão empatados, vendemos a preços bem baixos, evitando que o prejuízo seja maior do que o posto pelo cenário”, revela.

Já na avaliação do comerciante Daniel Albuquerque, 46 anos, todos os segmentos tiveram perda de faturamento, entretanto, no caso dos comerciantes da Ceasa, a concorrência com os supermercados tem reduzido ainda mais a margem de lucro. “Antigamente, a Ceasa era a grande central de abastecimento do Pará. Hoje, não. Atualmente, os produtos são faturados diretamente com o supermercadista”, aponta. O permissionário relata que mais da metade dos produtos comercializados em seu posto na Ceasa vem de fora do estado. “O tomate vem da Bahia e de Goiás. Dizem que nós, paraenses, somos preguiçosos por não plantarmos essas culturas. Entretanto, temos um solo ácido para esses alimentos, além de um clima chuvoso, que também não contribui”, aponta. Ainda de acordo com Albuquerque, o governo do estado deveria investir em pesquisas tecnológicas, assim como a Embrapa, no sentido de adaptar sementes às condições edafoclimáticas da região. “Em Israel, que tem uma terra seca, tudo se produz. Agora, lá, investiram em pesquisa. Isso é o que nos falta. Se ocorrer, vamos ter um preço, no mínimo, 50% mais em conta, já que a logística é muito cara nesse País”, resume.

Mesmo com os preços elevados, fazer a feira é uma obrigação à vendedora Maria do Socorro Andrade, de 58 anos, que revende os produtos hortifrutigranjeiros de porta em porta. Com este trabalho, feito por ela há mais de 30 anos, Maria do Socorro criou três filhos, e ajuda a pagar a escola do neto. “Pelo menos quatro vezes na semana venho aqui, e tenho observado o aumento considerável dos preços. Agora, tenho que comprar, porque este é meu sustento. Foi com estes produtos que ajudei a formar três filhos, hoje todos encaminhados”, revela. A vendedora, que foi, simultaneamente, pai e mãe dos filhos, garante que as vendas já foram melhores. 

Caminhoneiros

Manter a Ceasa abastecida é uma árdua tarefa para dezenas de caminhoneiros que todos os dias adentram aos portões das Centrais. Grande parte deles abdica da convivência com família pelo bem estar e o sustento dela. Este é o caso do catarinense Marcelo Santos, de 37 anos, que atualmente mora em Petrolina, no estado de Pernambuco, nordeste brasileiro. Com apenas quatro dias do mês reservados à esposa e aos filhos, Marcelo diz que gostaria de passar mais tempo em casa. Ele trabalha como motorista há 16 anos, e assegura ser apaixonado pela atividade que desempenha. “Já tentei outras profissões, mas minha paixão está no que faço. É justamente o amor às estradas que me move. Deus dá um dom a cada pessoa, e gostar de dirigir foi o meu”, revela.

Embora transporte frutas e legumes, a alimentação do caminhoneiro não é nada saudável. “Nosso objetivo é chegar, ou seja, muitas vezes comemos em qualquer restaurante ou loja de conveniência, alimentos que são práticos. As frituras são constantes, porque são mais rápidas”, aponta.  Ao todo, ele visita Belém duas vezes por semana, e leva, em média três dias para chegar. Para Santos, ter o trabalho reconhecido é o maior desafio. “É preciso muito esforço nessa profissão. Mas sigo viajando, deixando o coração na minha casa, pertinho da minha família”, conclui.

 

 

Veículo: Jornal O Liberal - PA


Veja também

Projeto incentiva práticas sustentáveis na lavoura de arroz

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realiza, em todo o Estado, um amplo trabalho de pesquisa e conscientizaç...

Veja mais
Moagem de cana já atingiu 47,41 milhões de toneladas no Centro-Sul do País

O volume de cana-de-açúcar processado pelas unidades produtoras da região Centro-Sul do Brasil atin...

Veja mais
Roubos de carga têm queda de 24,58% no primeiro semestre

No primeiro semestre deste ano foram registrados 178 roubos de carga no Grande ABC. Segundo a SSP (Secretaria de Seguran...

Veja mais
Com dólar em alta, uso de fertilizantes recua nas lavouras

Distribuidoras de insumos de diferentes regiões do Brasil vêm observando atraso e queda no uso de fertiliza...

Veja mais
BDMG disponibiliza recursos destinados aos cafeicultores

                    ...

Veja mais
Abertura cubana dá esperança a comércio

                    ...

Veja mais
Confecções lançam a coleção de verão e não veem entusiasmo nos lojistas

Há mais de 30 anos, Nídia Pauzer Tiss, dona da loja Trajes e Detalhes, localizada em Campinas (SP), cumpri...

Veja mais
Quatro em cada dez lojistas estão com estoque encalhado

                    ...

Veja mais
Varejistas se movimentam para reduzir aluguéis em shoppings

                    ...

Veja mais