Comerciantes da Savassi lançam estratégias para manter os negócios

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Com consumo em baixo e dificuldades com a alta dos aluguéis, empresários se "reinventam" para sobreviver depois da revitalização da região

 



A Savassi chega aos 75 anos com a necessidade de se “reiventar”. Apenas a fama da região, cujo nome tem origem na padaria e confeitaria aberta pela família de imigrantes italianos Savassi, em 16 de março de 1940, não é mais suficiente para manter o glamour de décadas anteriores, quando o local era ponto de encontro de expoentes da política e da cultura mineiras, o que garantiu um comércio farto ao bairro da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Agora, diante do consumo em baixa, da concorrência com o varejo de outros bairros e da escalada no preço dos aluguéis, empresários são obrigados a adotar estratégias para fomentar o caixa. Houve quem optou por fundir a empresa com a do vizinho, quem estendeu o horário de funcionamento e até empreendedor que lançou álbum de figurinhas dos clientes.

As mudanças não ocorrem por acaso: mais de uma centena de lojas fecharam as portas na região desde 2012, quando a prefeitura finalizou a obra de revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos – o nome homenageia um dos fundadores da historiografia no estado. A reforma foi implantada com objetivo de resgatar o glamour na área, mas representou um tiro no pé para boa parte dos comerciantes, pois o novo paisagismo desativou várias vagas de estacionamento público, o que afugentou a clientela, e aguçou o bolso de donos de imóveis comerciais. Dezenas de inquilinos entregaram o ponto diante de reajustes acima dos 100%. Quem passa pela região se depara com muitas faixas de aluga-se.

Mas nem todos os lojistas se deram mal. Quem enxergou logo no início o que ocorria com a economia da Savassi implantou mudanças para não perder faturamento. A Gujoreba, instalada no quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque e especializada em artigos para o lar e escritórios, decidiu estender o horário de funcionamento nos dias úteis, atualmente das 9h às 19h, para 20h. A medida será implantada ainda neste semestre. Em janeiro, enquanto muitas empresas demitiram colaboradores para se adequar à nova realidade da região, a Gujoreba contratou cinco pessoas.

Parte do segredo das vendas, revela Gustavo Batista, um dos gerentes do empreendimento, é apostar no preço baixo. “A maior parte de nossa clientela é da classe média. Temos uma grande variedade de produtos com preço em conta, ou seja, ganhamos na quantidade de mercadorias negociadas. O comércio nos bairros cresceu muito e os lojistas (do Centro e Savassi) precisam estar atentos a novas estratégias. Por isso, queremos ‘pegar’ o pessoal da vida noturna, que frequenta os bares”, reforçou Gustavo, justificando o porquê de a loja estender o horário de funcionamento.

A vida noturna a qual ele se refere não é a mesma dos anos dourados da Savassi. A área que antes abrigava restaurantes frequentados por um público classe A agora recebe espetinhos, ramo que ganhou força na capital nos últimos dois anos e invadiu todas as regiões da cidade. Um desses pontos foi aberto em 2013, no quarteirão fechado da Rua Pernambuco, pelo publicitário Leandro Souza. Suas vendas vão de vento em popa, mas, visionário, ele decidiu ampliar o comércio. Foi assim que se uniu a Rubens Oliveira, dono da livraria, café e choperia Status e da pizzaria Rei do Pedaço, ambos no mesmo quarteirão.

“As três lojas (o espetinho Savassi, a pizzaria e o café-choperia) continuarão com as respectivas marcas, mas, como são vizinhas, vão adotar um cardápio unificado. As mesas, as cadeiras e os uniformes dos garçons também serão padrozinados. Vamos dividir custos de palco, segurança, som, iluminação etc.”, explica Leonardo, acrescentando que o projeto recebeu o nome de Quarteirão Status, cultura e gastronomia. A ideia é que a proposta seja colocada em prática na quinta-feira. Em razão do alto aluguel, que seria reajustado para R$ 40 mil mensais, a Livraria Status mudará de endereço: funcionará num imóvel na Avenida Getúlio Vargas. Já o café, será transferido para uma loja em frente ao local onde funciona atualmente.


Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press João Pimenta vende cerveja a prazo para clientes fiéis, que vão escrever um livro sobre o bar

FIGURINHAS

O endereço fica próximo ao Bar do João, na Tomé de Souza, que este ano completa 30 anos. O dono do empreendimento, João Pimenta, vende cerca de 60 caixas de cerveja por semana. Uma das estratégias é manter as tradicionais contas a prazo para clientes fiéis, que representam em torno de 20% do seu faturamento. “No início, como competia com bares renomados, passei muito aperto. O jeito foi manter o preço sempre em baixa para não perder o freguês.” Mas uma grande novidade implantada no estabelecimento dele foi o álbum de figurinhas com fotos dos clientes. A ideia partiu de dois frequentadores.

“A primeira edição foi ano passado. Agora devemos fazer a segunda. E também um livro, que será escrito pelos clientes”, adiantou João, que inaugurou, em parceria com a filha e o genro, outro estabelecimento do ramo no quarteirão vizinho. “A clientela mudou muito nessas três décadas. Boa parte do público da Savassi, que antes era formado por pessoas mais elitizadas, agora é composta por estudantes e trabalhadores da região.”

Nilo Fantini, dono da relojoaria que leva seu sobrenome, concorda com o dono do bar. Ele é um dos comerciantes mais antigos do bairro: “A loja foi aberta há quase 35 anos”. Para cativar o cliente, ele negocia prazo no pagamento e aposta na transparência e credibilidade, qualidades apreciadas pelos frequentadores da Savassi.




Veículo: Estado de Minas


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