Marcas do segmento de luxo devem manter planos no Brasil

Leia em 6min

Apesar da expectativa de crescimento de 4% a 5%, empresas de prestígio continuam otimistas por conta da fidelização de um público sempre ávido por artigos mais refinados

 



"Luxo é um comportamento e como no Brasil a cultura é a da valorização de marcas internacionais, as empresas que anunciaram expansão deverão manter os planos este ano." É assim que a é consultora e sócia do Grupo Bittencourt, Lyana Bittencourt, analisa o comportamento das grifes, que vão ter incremento de 4% a 5% nos negócios este ano, ante 2014.

Como a maioria de outros setores do comércio, os artigos de luxo devem ter desaceleração nas vendas devido ao cenário macroeconômico. Contudo, a tendência é de haver manutenção de crescimento, ainda que menor do que o visto há alguns anos, quando o ramo vivenciou a chegada de marcas estrangeiras - com filas de clientes de olho nas ofertas.

O mercado automotivo de luxo é um termômetro neste sentido, já que bateu recordes de vendas em anos recentes. "No varejo automotivo, isso fica bem claro. A BMW nunca vendeu tanto. A Land Rover e outras empresas que fizeram iniciativas no Brasil, ao anunciar fábricas locais, e até a possibilidade de produtos com preços competitivos, manterão os planos. A LVMH abriu uma loja atrás da outra no ano passado, mesmo com a previsão de uma economia mais fraca. Marcas de alto luxo sempre fazem planejamento de longo prazo", falou Lyana.

A previsão faz sentido. Afinal, aumenta o número de milionários no Brasil ano a ano, além de executivos que, com altos salários, passam também a consumir artigos de maior valor agregado, de maneira aspiracional. Assim, grifes como Dolce & Gabbana, Louis Vuitton, Fendi, Donna Karan, Armani, Tiffany & Co., Hugo Boss, Lacoste, Sephora e Burberry, entre outras, são sinônimos de um mercado de sucesso recorrente e global. O segmento deverá ser responsável por girar, aproximadamente, 223 bilhões de euros, conforme a consultoria global de negócios Bain & Company.

Consumo imediato

Consumistas, os brasileiros são até menos vorazes em gastos do que os chineses, mas têm por hábito o consumo imediato, principalmente entre os jovens que se destacam na carreira e passam a se interessar por marcas renomadas. É outro público de consumo, fora os ricos de berço. "São clientes que buscam sempre a sensação do luxo e a tendência de gastos nesse sentido continuará crescendo. O luxo é uma questão de desejo", vê Lyana.

Da mesma opinião, o sócio da consultoria de gestão de brandingSonne, Maximiliano Tozzini Bavaresco, lembra ainda que algumas marcas mantêm as vendas boas, baseadas em seu prestígio. Afora isso, muitas pessoas com muito capital são de fora dos grandes centros urbanos. "Muitos clientes geralmente são de fora de São Paulo e boa parte é de outros estados ou de cidades do interior. O certo é que isso é crescente no Brasil".

O executivo vai além. Para ele, o mercado realmente tem dois públicos, pois muitos dos que consomem artigos refinados fazem isso por status. Porém, há os extremamente fiéis às marcas, que não são afetados por uma economia fraca - não dependem de crédito bancário para arcar com os compromissos financeiros.

Ainda assim, algumas empresas perceberam a desaceleração do consumo devido à economia em descompasso. "Vejo que algumas empresas do setor resolveram mudar de estratégia, atentas à precificação, além de abrir outlets e fazer promoções. A tendência é de as grifes passarem a analisar a mudança de comportamento dos consumidores".

Para Tozzini Bavaresco, outro fato relevante é que se vê claramente uma mudança de atitude entre as marcas, que passaram a analisar o perfil dos clientes com atenção. "Cada vez mais aumenta o número de pessoas que viaja para o exterior e acaba tendo contato com marcas de luxo. Por sua vez, eu acredito que algumas marcas passaram a reposicionar faixas preço de certos produtos para atender as várias demandas existentes".

Visita às lojas

O consultor contou que esteve recentemente em lojas da Gucci, Tiffany, Hugo Boss, Coach e Armani, onde foi possível perceber que apesar de os produtos serem mais caros, houve aproximação de valores, se analisada a conversação do dólar para o Real. Como a maior concorrência do setor são as vendas fora do País, isso tende a diminuir, acredita.

A executiva do Grupo Bittencourt faz coro. "Apesar de a inflação estar aumentando, se as empresas conseguirem controlar a variação de preço e suas margens, com a alta do dólar comprar fora pode ter uma diferença menor. Isso potencializaria o consumo no mercado interno".

Bavaresco ainda exemplifica que uma bolsa de marcas como Louis Vuitton, por exemplo, costumavam ser o dobro do preço no Brasil, se comparado ao custo em Nova York (EUA). Hoje, a diferença caiu para no máximo 30%. "Sem falar que aqui há outro facilitador, o do parcelamento. Em Nova York, não", brincou.

Outro relato é a respeito das vendas, sendo que em várias grifes ele ouviu reclamação de movimento bem menor em 2014, na comparação com 2013 e 2012. O Natal, entretanto, teria salvado as vendas e diminuído a ansiedade de vendedores e lojistas.

Onda de otimismo

"Por isso que eu digo: a onda de pessimismo já irritou. As pessoas têm de entender que é preciso buscar saídas para driblar a crise, ao invés de só reclamar, como vimos em 2014". É assim que a especialista em varejo e franchising, Ana Vecchi, diretora da Vecchi Ancona - Inteligência Estratégica começa a conversa.

Ana acredita que itens caros podem ter a conotação de supérfluos, logo em períodos de variação macroeconômica as pessoas se questionam se é preciso gastar mais, ou não. Mas crê que o consumidor sabe questões como o fato de grandes marcas terem esse conceito de requinte por envolverem uma prestação de serviço superior, seja no atendimento, no corte ou na apresentação dos artigos sempre de mais qualidade.

"E o cliente paga por tudo isso. Além do que, diferente do novo rico, que consome de maneira desenfreada, o público de alto poder aquisitivo que têm essa experiência vinda em várias gerações, é aquele extremamente exigente, que escolhe bem o que vai comprar".

A expert ressalta, sobretudo, que as grifes de alto luxo costumam investir sem planejamento de longo prazo, pois acreditam que o setor manterá no Brasil desempenho relevante nos próximos anos. "Não são empresas imediatistas. Sabem quando é preciso diminuir a margem de lucro e encantar o cliente. Se asseguram de ter um faturamento vital para ter saúde financeira e nessa equação está uma visão realista de mercado."

Executivo da Consumoteca, de pesquisa especializada no consumidor brasileiro, Michel Alcoforado afirmou que o gerenciamento e o portfólio de produtos de alto valor agregado deverão passar por mudanças, afinal um dos maiores pilares do setor é o desejo, "que deve ser sempre estimulado". Como o Brasil é um dos grandes protagonistas no mercado mundial de luxo, por conta do aumento do consumo, ele estima que agora seja preciso analisar como se vender mais.




Veículo: DCI


Veja também

Setor calçadista brasileiro fechou 24 mil vagas em 2014

O setor calçadista brasileiro encerrou o ano passado com 24 mil postos de trabalho a menos, informou nesta semana...

Veja mais
Samsung e LG desistiram de novas fábricas no Brasil

      Veículo: O Estado de S. Paulo...

Veja mais
BNDES tem R$ 1,6 bilhão para apoio a laboratórios

      Veículo: Valor Econômico...

Veja mais
Lei Antifumo e o lado fraco da corda

      Veículo: Folha de S. Paulo...

Veja mais
Cupom de desconto deve deslanchar no País

Ocupando um espaço deixado pelo setor de compras coletivas, empresas de descontos esperam aumentar a participa&cc...

Veja mais
Lojista espera retomada em janeiro

Após Natal decepcionante, varejista quer compensar perdas com as liquidações do 1º mês d...

Veja mais
Cresce procura por material escolar em Belém

Milhares de alunos e pais já precisam enfrentar a rotina anual da compra de material escolar   Pais garant...

Veja mais
Fiesp detectou demissões no parque industrial paulista

Em dezembro ante novembro o indicador subiu 0,56%   O nível de emprego da indústria paulista caiu 4...

Veja mais
Produção de refrigerante deve subir 5%

  Veículo: Valor Econômico...

Veja mais