Mercado: Um doce impulso às cotações do cacau

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Há mais de dez anos, Anupama Amarnath aprendeu a fazer chocolate para seu marido, que tinha dificuldade em encontrar, em Bangalore, alternativas para satisfazer seus desejos. Mas a demanda por seu produto, misturado e moldado em vários formatos, cresceu para além de sua casa. Amarnath, de 50 anos, agora dirige na cidade indiana a Chocolate Junction, rede formada por 11 lojas, e é dona de uma fábrica de quase mil metros quadrados.

Anos de rápido crescimento do consumo de chocolate na Índia e em outros mercados em desenvolvimento agitaram o mercado global de cacau de uma forma sem precedentes. Estima-se a fatia desses países nas vendas globais de chocolate este ano em 45%, conforme dados da empresa de pesquisa de mercado Euromonitor. Há dez anos, eram 33%.

O apetite voraz nos países em desenvolvimento - da Índia até a Arábia Saudita e a China -, colaborou neste ano para uma forte alta nos preços do cacau, o principal ingrediente do chocolate. Nos últimos dias, os contratos futuros da commodity, também sustentados pelo aumento do consumo em países desenvolvidos, alcançaram seus maiores níveis em quase três anos. Na Suíça, que tem o maior consumo per capita de chocolate do mundo, as vendas do produto deverão subir cerca de 1,5% neste ano, conforme previsão da Euromonitor.

O aumento de mais de 40% das cotações internacionais do cacau nos últimos 12 meses fez do produto o segundo com melhor desempenho no Índice de Commodities S&P GSCI, perdendo apenas para o níquel, que subiu 47%.

"A demanda dos mercados emergentes é a razão principal por trás do crescimento constante e consistente que estamos vendo no mercado de cacau", diz Sterling Smith, analista do Citigroup, em Chicago. "Há demanda para elevar o preço ainda mais? Ah, sim."

Graças ao contínuo crescimento da renda nesses países, o chocolate passou de luxo raro a prazer acessível, e seu consumo está se tornando um hábito diário. Essa mudança está sendo impulsionada por uma explosão de novos produtos, assim como melhorias na infraestrutura de transporte e refrigeração facilitaram a distribuição de barras de chocolate e bombons. "Podemos colocar sua foto no chocolate, moldar o logotipo de uma empresa ou fazer buquês de chocolate, montados como uma flor", disse Amarnath. "Há uma grande demanda, contanto que seja de qualidade."

Muitos investidores e analistas afirmam ter notado como é grande a influência da demanda dos países emergentes no mercado de cacau, que gira em torno de US$ 6,6 bilhões, quando os preços continuaram a subir apesar da confirmação, no mês passado, de que o principal produtor de cacau do mundo, a Costa do Marfim, terá uma nova safra recorde.

Na bolsa de Nova York, os contratos para entrega em julho, o vencimento mais próximo no momento, atingiu na sessão de 27 de junho o maior patamar desde 22 julho de 2011 (US$ 3.153 por tonelada). Ontem esses papéis fecharam a US$ 3.113, com uma pequena retração em relação à véspera.

A escalada do cacau levou fabricantes de chocolate a aumentarem os preços em todo o mundo. Um quilo de chocolate está custando, em média, US$ 12,62 neste ano nos EUA, 2% a mais que em 2013, valor 18% superior à média de cinco anos atrás, conforme a Euromonitor.

Investidores e fabricantes de chocolate estão apostando que os chocólatras continuarão engolindo esses aumentos de preços. Gestores de fundos, fundos de hedge e outros investidores impulsionaram suas apostas na alta nos futuros de cacau em 45% nas últimas oito semanas, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).

A CFG Asset Management, uma consultoria de investimentos que administra cerca de US$ 335 milhões, apostou em novembro em um título negociado em bolsa da iPath Pure Beta Cocoa que tem como objetivo "seguir" os preços do cacau. Matt Forester, diretor de investimento da empresa, ampliou a posição em meados de junho, devido às preocupações com a oferta diante do aumento da demanda.

As vendas da Índia devem crescer 14% este ano, de acordo com as projeções da Euromonitor. E a China já é atualmente o oitavo maior país consumidor de chocolate do mundo - em 2010, ficou em décimo lugar. Já as vendas globais de chocolate, em alta mais acelerada nos últimos três anos, deverão atingir o recorde de 7,5 milhões de toneladas em 2014.

Nesse contexto, fabricantes multinacionais têm expandido suas linhas de produtos e comprado empresas locais. Em dezembro, a gigante americana Hershey Co., por exemplo, aceitou adquirir a chinesa Shanghai Golden Monkey Food Joint Stock Co. para fortalecer sua presença no país asiático. A Hershey informou que espera que a China se torne o seu segundo maior mercado, atrás dos EUA, em 2017.

Mas nem todos os especialistas nesse segmento acreditam que a demanda dos mercados emergentes continuará a subir, por conta de uma desaceleração que já atingiu muitos mercados de câmbio, títulos e ações em economias em desenvolvimento.

"A demanda dos mercados emergentes deveria ser um ponto brilhante, e não vejo isso acontecendo se os indicadores econômicos tiverem qualquer correlação real com o consumo de chocolate", diz Judy Ganes, presidente da J Ganes Consulting LLC, uma empresa especializada nos setores agrícola e de alimentos. Ela apontou especificamente para indicadores de crescimento lento em grandes mercados como Brasil e Índia.

Mesmo assim, executivos de empresas de alimentos dizem que ainda há muito espaço para a demanda crescer, considerando as grandes populações e a relativamente baixa penetração do chocolate em países mais pobres. "De cada dez indianos, entre oito e nove ainda não comem chocolate. Portanto, existe uma oportunidade de crescimento", afirma Mayur Bhargava, gerente-geral de chocolate e doces da Nestlé Índia.

Na Ásia, o volume de cacau transformado em ingredientes básicos, como cacau em pó e manteiga, cresceu 3,7% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com informações da Associação de Cacau da Ásia. Investidores consideram esses processadores de cacau indicadores da demanda. O próximo resultado deverá sair este mês.

Em Pequim, no mês passado, Sun Ji, de 34 anos, gastou US$ 800 em chocolates na loja da Godiva Chocolatier para sua festa de casamento, que será em agosto. Não apenas sua família tem consumido mais chocolate no último ano, mas o produto se tornou um presente popular entre amigos e colegas, diz Sun, que trabalha no setor de tecnologia de informação, ressaltando que o aumento dos preços não deve reduzir o desejo pelo chocolate.

"O preço subiu um pouco este ano, mas aumentos de 20% ou mesmo de 30% não vão nos impedir de comprar", disse Sun. (Colaboraram Neena Rai e Dantong Ma)




Veículo: Valor Econômico


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