CVS investe mais e lucro vai demorar

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O processo de crescimento da CVS no país, por meio da rede de farmácias Onofre, pressiona despesas e deve impedir que a empresa opere com lucro nos primeiros anos no país, segundo documento sobre o plano de expansão da companhia obtido pelo Valor. Para 2014, a empresa prevê abertura de, no mínimo, 8 lojas, e para 2015, de 15 a 20. Em 2013 foi aberto apenas um ponto.

Questionados a respeito, Marcos Arede, sócio minoritário e filho do fundador da Onofre, e Mario Ramos, diretor financeiro, evitaram comentar detalhes sobre gestão e resultados. "Não posso dizer o que estimamos, mas nossa intenção é investir mais e se investimos, temos que ter paciência para realizar o retorno", disse Arede. "A CVS chegou para ser uma das maiores do país no setor e é lógico que isso leva tempo. Nesse começo, temos despesas, mas são despesas boas, saudáveis para crescimento do negócio", afirmou Ramos.

Esse projeto de crescimento também pode envolver mudança no comando da Onofre. A CVS deve colocar um executivo ligado à companhia na presidência da rede no país. Mario Ramos (ex-Pátria e ex-JP Morgan), atual diretor financeiro indicado pela CVS para a função em janeiro, é o nome mais cotado para ocupar o cargo, segundo fonte próxima à rede. A companhia não confirma a informação.

"O importante é que mesmo com a recente desaceleração do mercado de farmácias no país, nós ainda vemos o Brasil como oportunidade. Queremos fazer história e isso não mudou", disse Ramos, em entrevista por telefone de Long Island, próximo à sede da CVS, em Woonsocket, Rhode Island. A CVS adquiriu o controle da Onofre em fevereiro de 2013 por R$ 650 milhões, valor não confirmado. A marca Onofre será mantida.

Neste ano, o plano é abrir, no mínimo, 8 lojas, e em 2015, de 15 a 20, bem acima da média da rede nos últimos anos - em 2013, foi inaugurado um ponto -, mas abaixo do ritmo de concorrentes como Raia Drogasil e Pague Menos. Estas têm aberto de 60 a 120 lojas ao ano. "Queremos quadruplicar a área de lojas em três anos", diz Arede. "Abrir 140 e fechar 40 é um erro estratégico. A nossa ideia é abrir e não fechar", afirma. Raia Drogasil fechou 24 pontos em 2013 e a Brasil Pharma, 40.

Ramos evita comentar a possibilidade de se tornar CEO da Onofre, numa transição de comando liderada pelos irmãos e sócios Marcos e Ricardo Arede. "Não falamos sobre especulação, mas eu posso dizer que estou muito feliz trabalhando com o Marcos e o Ricardo".

Sobre o plano de expansão, o documento obtido pela reportagem diz: "Nossas vendas não permitiriam sermos rentáveis nos primeiros anos no Brasil, devido ao arranque de despesas. Mas em última análise, acreditamos que iremos atingir níveis maiores de rentabilidade e de participação de mercado em até cinco anos".

O aumento nos investimentos, expansão das despesas operacionais e dos custos - sem elevação nas vendas que compense essas pressões - impede a empresa de projetar operação no azul no prazo de até três anos, apurou o Valor. Fontes ligadas à Onofre na época da venda não informaram se a rede operava com lucro ou prejuízo. A receita bruta foi de cerca de R$ 500 milhões no ano passado, quando ocupou a décima posição no ranking do setor.

A varejista está estudando trazer ao país práticas e estratégias de mercado aplicadas nos Estados Unidos, disse Ramos. Ele evitou comentar essas mudanças. Há informações no mercado de que a companhia poderia "importar" conceitos do programa de fidelidade da CVS nos EUA, um dos maiores daquele país no setor de varejo. A dificuldade nesse processo, segundo análise interna já feita na CVS, seria mostrar as vantagens de adesão ao brasileiro, pouco acostumado a esse tipo de sistema.

O Valor ainda apurou que a varejista considera a hipótese de ampliar o volume de produtos vendidos nas lojas. Nos EUA, a CVS vende alimentos, bebidas, produtos de limpeza, entre outros itens e concorre com pequenos supermercados. Atualmente, segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça de maio de 2010, as drogarias no país estão liberadas para vender produtos de conveniência (águas, barras de cereais, doces).

Essa autorização revogou parcialmente a decisão anterior que havia determinado o cumprimento de normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que impedia essa comercialização. Varejistas que querem vender outros produtos, ampliando a linha à venda, podem conseguir liminares na Justiça que autorizam comercialização de outros itens.

O setor de varejo de farmácias, que chegou a crescer entre 16% a 18% ao ano nesta década, fechou com expansão de 14% em 2013, mas recuperou ritmo no primeiro trimestre, quando apurou alta de 17% nas vendas, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).



Veículo: Valor Econômico


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