Plantio de feijão sofre no Estado com concorrência

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Mesmo com preços atrativos, agricultores optam por outras culturas, e o cenário do grão é de queda de área de produção nos últimos anos

 


Componente de pratos básicos e tradicionais da culinária brasileira, como a feijoada ou a simples dupla com o arroz, o feijão vem caindo no conceito de produtores ao longo dos anos. No Rio Grande do Sul, nas últimas cinco safras, foram registradas quedas consecutivas na área plantada (veja quadro).

Nesta safra, o grão teve uma leve recuperada na área plantada, conforme o indicativo da Companhia Nacional de Abastecimento. Na previsão mais otimista, o feijão no Estado deve ocupar 72,2 mil hectares, um aumento de 1,4% em relação ao período anterior, de 71,2 mil hectares. Na mais pessimista, a área deve ser igual à do ano anterior somando-se primeira e segunda safras. Os números estão longe de áreas registradas entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1990, quando chegavam a ultrapassar os 200 mil hectares.

Os motivos, segundo o assistente técnico regional em culturas da Emater de Santa Maria, Luiz Antônio Rocha Barcellos, são inúmeros, a começar pelo interesse maior por outras culturas, especialmente a soja, que estão com preços mais atrativos – apesar de altas também na cotação do feijão – que tem atraído os produtores, inclusive da agricultura familiar. “Muitos passaram a deixar de produzir o feijão até para o autoconsumo”, adverte.

Além disso, Barcellos também lembra que as tecnologias para outras culturas estão mais desenvolvidas. Enquanto milho, soja e arroz recebem pesados investimentos de empresas privadas na produção de sementes de alto rendimento no campo, o feijão ainda carece de maior pesquisa privada, sendo apenas a Embrapa uma difusora de novidades para o grão. Informa que pesquisas com novas variedades estão sendo feitas para tentar reverter este quadro.

Outro fator de desequilíbrio nesta relação, de acordo com o técnico da Emater, é a mão de obra para a cultura. Enquanto outros grãos já se utilizam da mecanização, o feijão ainda depende muito de colheitas manuais. “Há uma dificuldade de achar pessoas no campo para colher o produto. Os próprios agricultores querem fazer lavoura mecanizada, sem depender da mão de obra, pois ela encarece os custos”, salienta.

Barcellos afirma que uma das medidas tomadas para incentivar o plantio é a entrada no mercado do fornecimento para a alimentação escolar. O presidente da Associação dos Produtores de Feijão do Rio Grande do Sul (Aprofeijão), Tarcísio Ceretta, afirma que quem optou pelo feijão nesta safra está animado pela conjugação clima e preços atrativos devido à oferta reduzida no mercado. “O que estimula o produtor é o preço. Se não tiver bons preços, o produtor não entra no plantio”, avalia.

Para o dirigente, o setor ainda depende das políticas públicas para ter um incentivo aos produtores voltarem para a cultura. Afirma que o valor do preço mínimo do feijão estipulado pelo governo federal, de R$ 105 a saca de 60 quilos, é adequado, embora pudesse ser melhor. Já no âmbito estadual, Ceretta revela que discussões estão sendo realizadas no âmbito da Câmara Setorial da Secretaria da Agricultura sobre um plano para os produtores. Entre as medidas pedidas pelos produtores, está a redução do ICMS para a cultura. Enquanto nos outros estados é 1%, no Rio Grande do Sul é 7%, de acordo com o presidente da Aprofeijão, fato que também desestimula o plantio da cultura em solo gaúcho. “Precisamos repensar a cultura do feijão que é uma cultura tão brasileira e que anda esquecida”, ressalta.

Na última semana, segundo a Emater, o feijão estava sendo negociado a um preço médio de R$ 134,33 a saca de 60 quilos.


Importação é solução para atender à demanda do mercado interno

Contabilizando toda a produção brasileira, o efeito que ocorre no Rio Grande do Sul é parecido. A área plantada estimada para esta safra deve ter um leve aumento e fechar em 3,2 milhões de hectares. Até a safra 2008/2009, a área ocupada com o grão era superior a 4 milhões de hectares. Este efeito fez com que a produção também reduzisse e medidas como a importação fossem necessárias para atender a um consumo médio anual de 3,5 milhões de toneladas. A previsão é de que a produção brasileira do grão chegue a 3,26 milhões de toneladas neste período.

Segundo o analista de mercado Vlamir Brandalizze, o Brasil já vem há três anos consumindo mais do que planta, o que faz necessária a busca do produto em outros mercados, como China e Argentina. “O importado vai continuar sendo uma opção para os empacotadores. O brasileiro consome feijão todos os dias, então há essa necessidade de continuar buscando de fora”, analisa.

No entanto, o especialista recorda que, com a alta do dólar nos últimos meses, o preço do produto vindo da China sofreu alta e chega ao mercado na faixa de R$ 170 a saca. “O mercado do feijão nos últimos cinco anos mais do que dobrou a tonelada. Antes chegava a R$ 400,00 a tonelada, e hoje encontramos o produto a mais de R$ 1 mil”, afirma.

Para o analista da Correpar Corretora Marcelo Lüders, o estímulo dos preços não é suficiente para que haja um aumento de área do feijão para os próximos anos. De acordo com o especialista, a concorrência com as demais culturas, que têm o interesse do mercado exportador, também é um entrave para a retomada do grão no país, o que deve continuar mantendo o cenário já visto nos últimos tempos de redução de produção e aumento nas importações. “O Brasil está confirmando agora a possibilidade de exportar milho para a China, e isso pode voltar a fazer do milho um concorrente em área para o próximo ano”, acredita.

Em junho, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) reduziu de 10% para zero o Imposto de Importação do feijão com o objetivo de facilitar a compra externa, aumentar a oferta de feijão no mercado brasileiro e reduzir o preço do produto, já que houve queda da produção nacional e ainda não há perspectivas de aumento da oferta doméstica. A medida vigora até o próximo dia 30 de novembro.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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