Alimentos tendem a contribuir com baixa dos preços até o final de 2017

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São Paulo - Apesar de possíveis altas sazonais de preço no segundo semestre, a inflação dos alimentos deve continuar ajudando a puxar o IPCA geral para baixo até o final deste ano. Para o ano que vem, porém, sem os reflexos da supersafra, expectativa é que fique entre 3% e 4%.

 

Os últimos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o grupo de Alimentos e Bebidas foi um dos coadjuvantes na deflação observada em junho, de 0,23%.

 

Na variação mensal, a categoria recuou 0,50% no mês passado, ante os -0,35% de maio, puxada principalmente pela queda de alimentação no domicílio, de 0,93%.

 

De acordo com o vice-chefe da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Heron Carlos do Carmo, a situação será "favorável" quanto aos preços dos alimentos para os próximos meses e até mesmo para o início de 2018.

 

"Apesar de eventuais efeitos sazonais de aumento dos preços no segundo semestre, os ciclos de clima e estoque da safra recorde deste ano tendem a segurar os resultados pelo período", comenta.

 

Segundo informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa da safra correspondente ao período de 2016 e 2017 será de 237,2 milhões de toneladas de grãos, uma produção recorde e um aumento de 27,1% em relação ao período anterior, de 2015 e 2016.

 

"A supersafra garante expectativas mais racionais de que não haverá pressão nos preços dos alimentos e esse efeito deve se propagar até janeiro ou fevereiro do ano que vem", analisa o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Celso Pascalicchio.

 

Tendência de queda

 

Da outra ponta, porém, a dificuldade em repetir os números da supersafra no ano que vem e a possibilidade de mudança em relação às "grandes commodities" como milho, soja e trigo, podem trazer ofertas menores e pressão nos preços das carnes de frango e suínas.

 

Para o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, esses pontos podem ter reflexos fundamentais na inflação dos alimentos de 2018.

 

"É natural ter uma diferença na safra de um ano para o outro e isso já está contabilizado. A questão primária está nas commodities, principalmente porque depende bastante do mercado internacional que impactam tanto na importação como na ração pecuária do País, interferindo nos preços das carnes", explica o especialista do Ibre/FGV.

 

Ele destaca que, no ambiente doméstico, a sensibilidade está concentrada, principalmente, no feijão. De acordo com dados do IBGE, o feijão carioca - que chegou a ter alta de 42% em junho do ano passado e foi um dos responsáveis pelo aumento de 60% na inflação do período - já demonstra um recuo de 30,78% no acumulado de 12 meses até junho. Na variação mensal, por outro lado, o aumento foi de 25,86% em relação a maio.

 

"Somos mais sensíveis ao feijão e, como atravessamos algumas altas sazonais, pode ser que alguns produtos não caiam tanto e que a alimentação fique com taxa próxima a zero. De qualquer forma, essas flutuações não devem trazer grandes complicações", avalia Braz e pondera que, para o ano que vem, a expectativa é que o preço dos alimentos acompanhe o IPCA geral.

 

"A nossa expectativa é chegar ao final de 2018 com a inflação de alimentos entre 3% e 4%", completa o economista. "Isso porque no final do ano, normalmente no segundo semestre, existem alguns grupos de alimentos e bebidas que tendem a ter algum tipo de reajuste e podem puxar um pouco mais os preços gerais", acrescenta o professor de finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Adriano Gomes.

 

Os especialistas ainda ponderam outros cenários prováveis que podem comprometer os preços dos alimentos no ano que vem. "Se os Estados Unidos continuarem com suas barreiras, isso pode se alastrar para outros países de peso e interferir na balança comercial brasileira", diz Gomes.

 

"Além disso, outro ponto é a taxa de câmbio. Se observarmos alguma desvalorização do real, isso será outra força negativa para 2018", complementa André Braz, do Ibre.

Os especialistas ponderam, porém, que esses fatores são muito "especulativos" e que a expectativa ainda é mais positiva do que negativa.

 

"Os alimentos têm observado quedas pontuais e não necessariamente são responsáveis pela queda do IPCA. Eles ajudaram, claro, mas há volatilidade nos preços. De qualquer forma, a situação ainda é favorável e demonstra uma tendência de queda geral", conclui Heron, da FEA.

 

 

 

 

 

Fonte: DCI São Paulo


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